PROCURADORES DOS EUA REVELAM NOVOS DETALHES SOBRE A TENTATIVA DE TRUMP DE PROMOVER UM GOLPE DE ESTADO
Documentos detalham pressão sobre autoridades e campanha de Trump denuncia processo como “caça às bruxas inconstitucional”
Em uma movimentação crucial para os rumos das investigações contra Donald Trump, promotores dos Estados Unidos revelaram novos detalhes sobre os esforços do ex-presidente para reverter sua derrota na eleição de 2020. De acordo com informações da agência de notícias Reuters, o documento de 165 páginas, divulgado na última quarta-feira, é considerado a última oportunidade de detalhar a acusação antes das eleições presidenciais de novembro de 2024, nas quais Trump concorrerá novamente pelo Partido Republicano.
A promotoria, liderada pelo procurador especial Jack Smith, descreveu como Trump tentou pressionar autoridades estaduais e o então vice-presidente Mike Pence a interromper a certificação dos resultados eleitorais. “Você ainda precisa lutar com todas as forças, independentemente de ter vencido ou perdido a eleição”, teria dito Trump em uma conversa com familiares, conforme relato de um funcionário da Casa Branca incluído nos documentos.
Imunidade presidencial em jogo
Grande parte do documento detalha as tentativas de Trump de pressionar Pence, que presidia a sessão do Congresso no fatídico 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio. Na ocasião, Trump fez um discurso inflamado para seus apoiadores, que culminou na invasão ao prédio do Congresso. Pence, que estava supervisionando a certificação da vitória de Joe Biden, foi levado para um local seguro quando a violência eclodiu. Ao ser informado sobre a proteção de Pence, Trump teria respondido: “E daí?”, de acordo com a acusação.
Os promotores destacam que Trump agiu fora do escopo de suas funções como presidente ao tentar manipular o processo democrático e impedir a certificação dos votos. No entanto, a Suprema Corte dos EUA decidiu recentemente que ex-presidentes possuem uma ampla imunidade em relação a ações tomadas no exercício de suas funções oficiais, o que levou os promotores a indicarem que certos detalhes não serão usados durante o julgamento.
Tensão com Pence e comentários nos bastidores
Além disso, o documento menciona um telefonema feito por Trump a Pence no dia 1º de janeiro de 2021, no qual o então presidente alertou: “As pessoas vão te odiar e vão achar que você é um idiota se você não bloquear a certificação”. Em outro momento, é relatado que Trump, ao ouvir as alegações de fraude eleitoral de sua advogada Sidney Powell, a teria colocado no mudo durante uma ligação e comentado para terceiros que suas alegações eram “loucuras”.
O porta-voz de Trump, Steven Cheung, criticou duramente a divulgação dos documentos, chamando o processo de “caça às bruxas inconstitucional” e afirmando que ele deveria ser completamente arquivado, junto com “todas as outras fraudes criadas pelos democratas”.
Próximos passos
A divulgação dos detalhes antes da eleição gerou polêmica. Os advogados de Trump tentam, com base na decisão da Suprema Corte, arquivar o caso e impedir que o documento tenha maior influência no processo eleitoral. O juiz distrital Tanya Chutkan está revisando o material, mas Trump e seus advogados têm até 10 de outubro para contestar os pontos apresentados.
Com uma narrativa sólida, os promotores reforçam que Trump já planejava declarar vitória antes mesmo da apuração dos resultados, e que buscou substituir sua equipe jurídica quando esta não apoiou suas alegações infundadas de fraude eleitoral.
Se reeleito, Trump poderá, inclusive, influenciar diretamente o destino do processo, dado que poderia usar o Departamento de Justiça para arquivar as acusações. No entanto, por enquanto, os desdobramentos continuam sob a análise da justiça e podem impactar os rumos da campanha eleitoral americana.