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XPOSIÇÃO CELEBRA LEGADO DE ENALDO CRAVO PEIXOTO, ENGENHEIRO QUE REDESENHOU O RIO

Mostra gratuita na SEAERJ, em cartaz até 24 de julho, apresenta o legado do engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, com projetos icônicos como o Parque do Flamengo e os túneis Rebouças e Santa Bárbara.

Fiscal de Rendas aposentado do Município do Rio de Janeiro, Ex-Subsecretário de Assuntos Legislativos e Parlamentares do Município do Rio de Janeiro Bacharel em Direito e Economia.

A exposição “Enaldo Cravo Peixoto – 1955 | 1965: Década de Ouro da Engenharia Pública”, em cartaz até 24 de julho de 2025 no Centro Cultural da SEAERJ, é imperdível. Com entrada gratuita, homenageia um dos maiores nomes da engenharia pública brasileira e revela, por meio de documentos, fotos e projetos, como Enaldo ajudou a transformar o Rio de Janeiro com obras que até hoje impactam a vida de milhões.

A Exposição: memória viva da engenharia pública

O Centro Cultural da SEAERJ (Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro) inaugurou, no dia 23 de maio de 2025, a exposição “Enaldo Cravo Peixoto – 1955 | 1965: Década de Ouro da Engenharia Pública”, uma homenagem inédita a um dos nomes mais relevantes da história da engenharia sanitária e urbana no Brasil. A mostra, com entrada gratuita, ficará aberta ao público até 24 de julho, de segunda a sexta, das 10h às 16h, na sede da SEAERJ, na Rua do Russel, n° 1, Glória.

Organizada em comemoração aos 90 anos da SEAERJ e com apoio do CREA-RJ, a exposição é fruto do rico acervo do engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, doado por sua família ao Centro Cultural da entidade. São documentos, plantas, registros fotográficos e relatos que revelam a força transformadora de um profissional que marcou a paisagem do antigo Estado da Guanabara e deixou um legado que ainda hoje abastece, conecta e embeleza o Rio.

A exposição é composta por cinco painéis temáticos em formato de biombos com quatro abas, pensados para facilitar futuras itinerâncias. Eles abordam:

Painel I – Biografia de Enaldo Cravo Peixoto e o contexto de sua atuação pública

Painel II – As obras dos túneis Rebouças e Santa Bárbara

Painel III – Sistema do Guandu e Estação Elevatória do Lameirão

Painel IV – O Parque do Flamengo

Painel V – O saneamento na Guanabara

Cada painel traz fotografias, textos explicativos e QR Codes que permitem ao visitante acessar conteúdo complementar digitalizado, ampliando a experiência e o aprendizado sobre a engenharia a serviço do bem comum.

O homem que sonhou o Novo Rio

Nascido em Penedo (AL) em 1920, Enaldo Cravo Peixoto formou-se engenheiro civil e sanitarista pela antiga Universidade do Brasil (atual Escola Politécnica da UFRJ) em 1942. De família humilde, iniciou sua trajetória profissional na extinta concessionária City, responsável pelo esgoto do Rio desde os tempos de Dom Pedro II, e, com o fim da concessão, integrou-se ao Departamento de Água e Esgoto do então Distrito Federal. Desde os anos 1940, já acalentava planos ambiciosos de saneamento urbano para a capital do Brasil.

Seu nome se consolidou na administração pública nas décadas de 1950 e 1960, especialmente durante o governo de Carlos Lacerda no Estado da Guanabara. Foi Secretário de Viação e Obras e, depois, o primeiro presidente da SURSAN (Superintendência de Urbanização e Saneamento), liderando uma revolução urbana com a marca da técnica, da funcionalidade e da beleza.

Obras como a Adutora do Guandu, inaugurada em 1955, e depois ampliada até se tornar, em 1982, o maior sistema de produção de água da América Latina, transformaram o cotidiano de milhões. O Túnel Santa Bárbara (1963) e o Túnel Rebouças (1967) remodelaram o tráfego entre zonas Sul e Norte, enquanto o Aterro e o Parque do Flamengo (1965), em parceria com Lota de Macedo Soares, deram à cidade um dos mais admirados projetos de urbanização paisagística do mundo.

Enaldo Cravo Peixoto planejou, coordenou e executou:

A construção de mais de 700 km de rede de esgotos sanitários;

A expansão da rede de abastecimento de água;

A retificação de rios como o Berquó e o Papa-Couve;

A construção de viadutos, chafarizes, avenidas e galerias subterrâneas;

A articulação de políticas públicas integradas, inclusive com o projeto do Emissário Submarino de Ipanema e o Interceptor Oceânico.

O engenheiro da iniciativa privada e da formação profissional

Após deixar o serviço público, em 1966, fundou o Escritório Técnico Enaldo Cravo Peixoto (ECP), que chegou a empregar mais de 60 profissionais. Com atuação em todo o Brasil, o escritório coordenou projetos como:

Sistemas de esgotos em Salvador, Ilhéus, Vitória da Conquista, Juazeiro do Norte, Niterói e São Gonçalo;

Abastecimento de água em Feira de Santana, Belo Horizonte, Londrina, Grande São Paulo, Baixada Fluminense e Região dos Lagos;

O sistema de águas pluviais e telefones no Centro Administrativo da Bahia;

O emissário oceânico de Niterói e a estação de recalque da Hípica, no Rio.

Além disso, Enaldo foi fundador e primeiro presidente da ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), e também da seção brasileira da AIDIS (Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitaria). Seu papel na criação da CEDAE e do INEA, por meio de órgãos antecessores como a Copes, o IES e a SURSAN, pavimentou o caminho para políticas de saneamento e urbanismo modernas e estruturantes.

Um engenheiro humanista e educador

Mais do que um executor de grandes obras, Enaldo Cravo Peixoto era conhecido por seu senso de humor, sua liderança serena e sua capacidade de formar equipes coesas. Transformava seus ambientes de trabalho em verdadeiras famílias. Muitos dos profissionais que passaram por suas mãos tornaram-se líderes técnicos e gestores públicos de destaque em vários estados brasileiros.

Enaldo entendia o urbanismo e o saneamento como expressões do cuidado com a população. Seu exemplo foi e continua sendo uma inspiração para as novas gerações. Por isso, a exposição que agora se concretiza tem como objetivo perpetuar sua memória não apenas como nome de rua ou túnel, mas como símbolo da engenharia a serviço do cidadão.

A cidade que nasceu do lápis

Poucos engenheiros conseguiram, como Enaldo Cravo Peixoto, materializar sonhos de cidade com tamanha eficiência, ética e visão de futuro. O “Novo Rio” sonhado por ele foi, por décadas, um modelo de gestão urbana para o país. E hoje, ao visitar a exposição na SEAERJ, é possível ver — nos desenhos, nas fotos, nos documentos e nas entrelinhas — o traço firme de um homem que acreditava que a técnica e o bem público podiam caminhar de mãos dadas.

A mostra é um convite à memória, à valorização da engenharia pública e ao resgate de um tempo em que obras falavam mais do que discursos. Um tempo em que os túneis encurtavam distâncias e os projetos abraçavam a cidade. Um tempo em que o concreto sustentava sonhos. Um tempo em que a cidade nascia do lápis — e o lápis obedecia ao coração.

Por Antônio Sá –

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