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VOZES FEMININAS: A MÚSICA BRASILEIRA ECOANDO EM TERRAS LUSAS

Karla, Fran, Madu, Nani, Bárbara e Kali têm em comum a paixão pela música e o fato de terem adotado Lisboa como lar. Conheça a história dessas mulheres que têm encantado os portugueses com suas canções cheias de personalidade

Lisboa — Os últimos meses têm sido uma correria para Karla da Silva, 40 anos. Não bastassem o lançamento, em setembro, nas plataformas digitais, do disco Sotak, com músicas inéditas, várias delas compostas por ela, e um show previsto para o mesmo mês, a carioca de Madureira decidiu ter a sua própria roda de samba no boêmio bairro de Alfama, na capital portuguesa, e ainda fazer os franceses sambarem uma vez por mês no agito que promove em Paris, na França. “Tudo isso é reflexo da paixão que os portugueses e os europeus em geral têm pela música popular brasileira”, diz.

Há quase cinco anos vivendo em Portugal, Karla é uma das capitãs do time de cantoras brasileiras que têm mudado a cena musical no país europeu. Desde que entoou a primeira canção em terras lusitanas, foi como se um mundo novo se abrisse para ela, que tinha uma carreira promissora no Brasil. Tudo começou em 2018, com uma turnê internacional. A repercussão dos shows foi tão grande, que, quando retornou para casa, a jovem já tinha em mente o desejo de viver na Europa. Ela pensava: “De Portugal, posso desbravar vários países da região”.

Aquela passagem pelo Velho Mundo foi um marco para a virada na vida da carioca: ela havia se reencontrado com o samba. Até então, Karla vinha sedimentando a carreira em vários estilos musicais: o soul, o funk, o afoxé, o pop. O samba que lhe abrira tantas portas quando era uma iniciante, tinha ficado em segundo plano. “A sensação foi a de uma mãe diante de um filho que havia fugido de casa e voltado em busca de colo”, conta. Para selar esse reencontro, ela compôs a música Cura, um de seus maiores sucessos. “Não há a menor possibilidade de nos separarmos de novo”, ressalta.

Karla nasceu no mundo da música. O avô era violinista e tocava choro. Uma das tias foi crooner nas bandas de artistas como Clara Nunes e Elimar Santos. Também cantou na fabulosa Orquestra Tabajara. Ainda menina, no quintal de casa, acompanhava os ensaios de vários músicos. Sabia de cor muitas letras das canções que passavam por ali. “Adorava cantar. Era a minha brincadeira preferida”, relembra. Antes, porém, de se aventurar pelo palco, a carioca foi trabalhar como secretária de uma das diretorias da Petrobras. Até que veio um concurso de samba no icônico Carioca da Gema, na Lapa, casa que alçou Teresa Cristina ao estrelato.

“Fui para a final da disputa, mas não ganhei. De qualquer forma, pedi demissão do meu emprego e parti para a luta, gravei meu primeiro disco, Festejo e fé, e rodei o Rio com muitos shows”, destaca. Em 2012, Karla deu outro salto importante, como uma das semifinalistas do primeiro The Voice Brasil. Veio, então, o segundo disco, Quintal, com uma pegada bastante pop, que rendeu uma longa turnê pelo país. Em 2016, ela lançou Gente que não viu vai ver o pretíssimo coração. “Foi um disco sobre a música negra”, frisa.

Com a estrada já pavimentada no Brasil, foi mais tranquilo para Karla tentar a sorte em Portugal. Um ano depois de pisar em território luso, foi convidada para fazer o especial Rua das Pretas, com o compositor franco-brasileiro Pierre Aderne. A série de shows, com 12 episódios, foi exibida em duas temporadas na rede de tevê RTP1. “Nesse momento, entro em contato com a música portuguesas e entendo melhor as tradições que nos ligam ao fado. Foi aí que surgiu o projeto Sotak, totalmente autoral, que será lançado em setembro”, assinala. A carioca não tem planos de voltar a morar no Brasil, mas garante que seus laços com a terra em que nasceu continuam muito fortes. Essa ligação rendeu um dos hits do último carnaval. É dela e de Ju Moraes o sucesso Groove arrastado.

 Revista. Karla da Silva, sambista carioca que faz sucesso em Portugal

(foto: Arquivo Pessoal)

Por Vicente Nunes — Correspondente  _ CB

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