UBER E 99: MOTORISTAS DESLIGAM APPS E FAZEM “LEILÃO” EM GRANDES EVENTOS NO DF
Com onda de cancelamentos nos apps, motoristas fazem viagens “por fora”, cobrando até três vezes mais pela facilidade de encontrar um carro.
Motoristas de transporte por aplicativo têm aproveitado grandes eventos do Distrito Federal para realizar uma prática proibida pelas plataformas que acaba lesando quem tenta voltar para casa. Sabendo da dificuldade de encontrar carros disponíveis, os condutores desligam o app e oferecem corridas “por fora”, em uma espécie de leilão na saída de shows.“Acabei de perguntar aqui. Pelo aplicativo, para onde a gente quer ir, dá até R$ 27. Aí perguntei o preço para o mesmo destino a uma dessas pessoas que estão prestando serviço, que eu nem sei se tem cadastro, e ele me cobrou R$ 50. Tem gente pedindo o dobro ou triplo”, contou a empresária Aline Lins, enquanto saía de uma festa na Arena BRB Mané Garrincha.Com a alta demanda, os engarrafamentos e os cancelamentos, diversas pessoas usam o nome de plataformas, como Uber e 99, para se identificar como motorista e oferecer corridas. A reportagem viu cenas como essa em mais de um evento realizado no DF, na última semana. “Está todo mundo cancelando, tem que ser comigo aqui”, dizia um deles, para convencer o passageiro.
Outro, parado no engarrafamento na porta do show, com um letreiro eletrônico, improvisado no celular, escrito “Uber”, também usou a chantagem. “Ninguém quer vir pegar esse trânsito, não. Vamos que eu faço mais barato”, argumentou a um cliente antes de oferecer uma viagem pelo dobro do valor cobrado na plataforma.
Aline tentava ir para a Vila Planalto. “A gente vê que há motoristas aqui nas proximidades, mas aceitam e cancelam quando veem o destino final. Essas pessoas que oferecem corrida cobram muito caro, fica inviável. A gente se sente lesado como consumidor”, reclama.
Plataformas omissas
Com essas dificuldades causadas pelas plataformas e pelos motoristas, sair antes do fim dos grandes eventos para tentar enfrentar menos transtornos virou tática de muitos brasilienses. “Tive bastante dificuldade para pedir um Uber. Não localiza um motorista, e, quando encontra, eles cancelam. Isso porque o show não acabou ainda. Quando o show acabar, vai ser impossível”, comentou a secretária parlamentar Luciene Souza.
Regiane Silva, técnica de enfermagem, saiu à 1h de um show que terminou quase às 3h, no estacionamento do estádio Mané Garrincha. O motorista que ofereceu a corrida “por fora” cobrou R$ 30 para levar até o Conjunto Nacional, que não fica nem a 5 km de distância. “E eu não confio muito, fico com pé atrás, porque às vezes é alguém que estava aqui fora bebendo, por exemplo.”
O empresário Luis Carlos Santos tentou ir para o Mangueiral, em São Sebastião, mas nenhum motorista aceitava a corrida pelos aplicativos. “Ia ser R$ 35, mas o pessoal aqui fora fica extorquindo. Cobraram-me R$ 100. Sempre é essa dificuldade”, relata. Já Luiza Machado, jornalista, estava com uma amiga e tentou driblar os problemas em um app de corrida diferente.
“A gente tinha conseguido um motorista, mas ele acabou de cancelar. Estava meio longe, eu não sei se viu que tinha muito trânsito e resolveu desmarcar. Acho que falta, de repente, alguma ação mais eficaz da plataforma, o que não ocorre. De certa forma, elas deveriam se responsabilizar, porque é realmente um transtorno.”
Penalidades
Em nota, a Uber ressaltou que quando um motorista está oferecendo viagens fora da plataforma, ele está violando os Termos e as Condições de adesão ao aplicativo e pode até ser banido.
“Todas as viagens da Uber só podem, necessariamente, ser realizadas por meio do aplicativo, onde o usuário solicita um carro ao toque de um botão e recebe, via app, informações do motorista parceiro que vai buscá-lo […]. Temos equipes e tecnologias próprias que constantemente analisam viagens suspeitas para identificar violações aos Termos e às Condições e, caso comprovadas, banir os envolvidos.”
A empresa também pontuou que “cancelamentos excessivos ou para fins de fraude representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma”. Afirma ainda que “revisa constantemente os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas”.
A 99 também foi procurada. Em nota, a empresa reiterou “a importância do passageiro não aceitar nenhum tipo de cobrança além da que está sendo mostrada pelo aplicativo”. Comportamentos como esse vão contra os Termos de Uso do app e devem ser reportados imediatamente à 99 pelo app ou pela Central de Segurança, no 0800-888-8999, para que medidas cabíveis sejam aplicadas, incluindo o bloqueio do motorista do aplicativo”.
Por- Metrópoles