TENTATIVA DE PRENDER PRESIDENTE DESTITUÍDO DA COREIA DO SUL É SUSPENSA EM MEIO A TUMULTO E BARREIRA DE PROTEÇÃO DE GUARDAS PRESIDENCIAIS
As autoridades anticorrupção sul-coreanas recuaram da ação após serem confrontadas por 200 agentes do serviço de segurança de Yoon Suk Yeol no palácio presidencial. Mandado de prisão tem validade até segunda (6).
Em meio a tumulto e após mais de cinco horas de impasse, autoridades da Coreia do Sul suspenderam nesta sexta-feira (3) temporariamente a operação para cumprir o mandado de prisão expedido contra o presidente destituído, Yoon Suk Yeol.
A tentativa de prisão foi frustrada por uma barreira de soldados e guardas presidenciais que impediram que policiais e promotores executores da ordem judicial chegassem até Yeol, que continua morando no palácio oficial da presidência, em Seoul. Uma multidão de apoiadores que se aglomeravam em frente à residência também dificultou a passagem das autoridades.
As autoridades que cumpririam a ordem de prisão chegaram por volta das 8h, no horário local, em frente à casa. No entanto levaram cerca de uma hora para conseguir ultrapassar a barreira humana de manifestantes em frente ao local.
Após conseguir ultrapassar os manifestantes, foi preciso enfrentar a segurança presidencial. Cerca de 200 agentes do serviço de segurança do presidente destituído e soldados de uma unidade militar localizada dentro da propriedade oficial da presidência bloquearam a ação das autoridades, de acordo com Escritório de Investigação de Corrupção de Altos Funcionários sul-coreano.
“Determinamos que seria praticamente impossível executar o mandado de detenção devido ao confronto contínuo [com as forças de segurança presidencial] e suspendemos a execução por preocupação com a segurança do pessoal no local, causada pela resistência”, disse um representante do Escritório de Investigação de Corrupção (CIO) sul-coreano em nota à imprensa.
A ordem de prisão tem validade até a segunda-feira (6), e permite que a polícia matenha Yoon Suk Yeol preso por, no máximo, 48 horas para interrogatórios. A suspensão desta sexta, por motivos de segurança, também contemplou a presença de apoiadores de Yoon, que protestam em frente à residência presidencial. (Leia mais abaixo)
Houve altercações entre as forças opostas, mas apesar dos seguranças de Yoon parecessem estar armados, nenhuma arma foi sacada, ainda segundo o CIO.
Yoon Suk Yeol possui contra si um mandado de prisão expedido no dia 31 de dezembro, após o presidente afastado se negar a acatar diversas convocações de prestar depoimentos à Justiça. Ele está sendo investigado criminalmente por insurreição após decretar lei marcial, que restringiu direitos civis, no início de dezembro. Ele sofreu um impeachment por conta disso. (Leia mais sobre a crise na Coreia do Sul abaixo)
Ainda que afastado, Yoon Suk Yeol ainda é considerado formalmente como presidente, e sua destituição definitiva do cargo está sendo julgada pelo Tribunal Constitucional sul-coreano, que tem até 6 meses para decidir se acata a decisão do Parlamento.
Coreia do Sul: polícia suspende operação para prender presidente afastado
Após a desistência das forças anticorrupção nesta sexta, a equipe jurídica de Yoon afirmou que o mandado de prisão é ilegal e que o CIO não tem autoridade para investigar insurreição. O presidente afastado havia dito na quinta (2) que vai “lutar até o final para proteger o país”. Esta é a primeira vez na história sul-coreana que um presidente em exercício é alvo de um mandado de prisão.
Dada a resistência imposta aos policiais, a unidade conjunta de investigação da Coreia do Sul resolveu abrir investigação contra o chefe e o vice-chefe do serviço de segurança de Yoon por acusações de obstrução da Justiça, intimando-os a depor no sábado (4), segundo a Yonhap.
Esta não foi a primeira vez que a segurança presidencial de Yoon resistiu a ordens da Justiça sul-coreana. Desde o impeachment, em meados de dezembro, os seguranças também impediram cumprimento mandados de busca em endereços do presidente afastado.
Agora, o CIO pretende pedir ao presidente interino Choi Sang-mok para exigir que as forças presidenciais colaborem com a execução do mandado de prisão. Choi Sang-mok assumiu o cargo há 7 dias, após a deposição-relâmpago do presidente interino anterior, Han Duck-soo.
Protestos
Além das forças de segurança de Yoon, manifestações de apoiadores do presidente afastado do lado de fora da residência presidencial também complicaram o esforço das autoridades do Escritório de Investigação de Corrupção.
Mais de 1.000 manifestantes pró-Yoon se reuniram perto da residência na manhã de sexta-feira. Cercados por cerca de 2.700 policiais enviados para manter a ordem, eles entoavam: “Mandado ilegal. Totalmente inválido” e “Prendam o CIO.”
Quando a notícia da retirada do CIO foi divulgada, os manifestantes, cujo número havia crescido para 11 mil, segundo estimativa da polícia, explodiram em comemoração e gritaram “Vencemos” enquanto agitavam as bandeiras da Coreia do Sul e dos Estados Unidos e entoavam o nome do presidente.
Centenas de manifestantes contrários a Yoon, liderados pela Confederação Coreana de Sindicatos, realizam um protesto perto da residência para exigir a prisão de Yoon na noite desta sexta, no horário local.
Relembre a crise política
Yoon Suk Yeol surpreendeu o país no início de dezembro ao declarar, em cadeia nacional, uma lei marcial, que substituiria a legislação padrão por leis militares e acarretaria a restrição de direitos civis na Coreia do Sul.
Na oportunidade, ele dissera que o decreto visava “proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas”.
O parlamento sul-coreano reagiu rapidamente ao decreto, revogando de maneira unânime a medida e instaurando um processo de impeachment cuja conclusão ocorreu no dia 14 de dezembro.
Yoon teve um mandado de prisão emitido contra ele por tribunal sul-coreano nos últimos dias de 2024 após pedido Gabinete de Investigação da Corrupção da Coreia do Sul, que investiga o decreto da lei marcial.
O Tribunal Constitucional da Coreia do Sul anunciou nesta sexta (3) que realizará em 14 de janeiro a primeira sessão do julgamento para decidir se irá destituir definitivamente o presidente Yoon Suk Yeol.
Yoon é obrigado a comparecer à sessão, chamada de primeiros argumentos.
A corte informou também que planejou uma segunda sessão para 16 de janeiro caso Yoon se recuse a comparecer aos primeiros argumentos.
Por g1
Autoridades policiais recuam de tentativa de prisão do presidente sul-coreano destituído — Foto: Imagem: Reuters