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QUATRO ANOS DE COVID: ESPECIALISTAS COMENTAM DESAFIOS PÓS-PANDEMIA

Os impactos do coronavírus vão desde o avanço na tecnologia das vacinas ao fortalecimento do SUS, passando pelo combate às fake news e à evasão escolar. Relembre alguns dos avanços e dos retrocessos desde 2020

O decreto da pandemia por covid-19, feito pela Organização Mundial da Saúde, completou quatro anos. De lá para cá, o Brasil acumula 38.729.836 casos confirmados e 711.249 mortes. Especialistas ouvidos pelo Correio refletem sobre os desafios enfrentados, na medicina e na educação, e o combate à desinformação potencializada a partir de março de 2020 ao avaliar os reflexos da maior crise sanitária e hospitalar da história do país.

Lições da covid após quatro anos

Laila Salmen Espíndola, professora do departamento de Farmácia da Universidade de Brasília (UnB) e conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), acredita que a pandemia ainda rende frutos científicos. À época do surgimento do coronavírus, ela coordenava o curso de pós-graduação em Medicina da Universidade de Brasília (UnB).

“Os estudantes de doutorado e mestrado, professores, todo mundo se organizou para trabalhar com isso (contra o vírus). Agora, é a grande leva de quem está terminando o doutorado iniciado naquela época. Foi um período muito produtivo. No Brasil e no mundo, a reação da ciência foi muito rápida. Graças a isso tudo, foram geradas vacinas e podemos estar aqui hoje”, comenta Laila, que acrescenta que todo manejo clínico utilizado atualmente para a doença é fruto de pesquisas realizadas com pacientes infectados.

“Eu acho que a sociedade entendeu que a ciência é necessária, apesar do momento político desastroso, que agravou muito a situação. Sem a ciência, sem a vacina, literalmente, a gente morre”, defende ela.

Na opinião da professora do departamento de Ciência Política e de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Rossana Rocha Reis, o Sistema Único de Saúde, em conjunto com a ciência, saiu fortalecido. Ela lembra que, antes da pandemia, havia campanha para privatizar o SUS e, com a doença, a sociedade percebeu os benefícios do serviço público gratuito.

“Do ponto de vista da informação, aprendemos que tem que regular as redes sociais, não tem como as redes sociais não se responsabilizarem pelo o que é publicado”, acrescenta a especialista, em referência à alta circulação de notícias falsas veiculadas em perfis da internet durante a pandemia. Desde então, as redes sociais começaram a identificar informações inverídicas como fake news e bloquear as contas que compartilham esse tipo de conteúdo.

A responsabilização jurídica do mundo virtual também é defendida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A questão está em discussão ainda no Senado Federal, onde há proposta de alterações no Marco Civil da Internet para uma maior responsabilidade das empresas de tecnologia.

A onda de notícias falsas na saúde deixou como “herança”, também, a politização das vacinas que, de acordo com a professora da USP, reflete atualmente na baixa cobertura vacinal de outras doenças no país. O imunizante da dengue, por exemplo, disponibilizado este ano, está com procura mais baixa do que o esperado na faixa etária prioritária, de 10 a 14 anos. Haverá, inclusive, uma redistribuição de doses para outros municípios que não tinham sido contemplados.

Para defender a importância da vacinação, em um país que é reconhecido internacionalmente pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), o Instituto Butantan criou o Museu da Vacina. Inaugurado em São Paulo, conta a história da criação de todas as vacinas no mundo e no Brasil.

Prejuízo educacional

A educação tem papel importante para evitar a disseminação de notícias falsas. A área, porém, sofre até hoje as consequências da pandemia. Carolina Schmitt Nunes, doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca que os impactos na área ainda estão sendo medidos. “Todo o sistema de educação foi colocado à prova naquele momento. Especialmente para o ensino infantil e fundamental, foi mais desafiador”, explica, ressaltando que a alfabetização foi a etapa escolar mais prejudicada pelo coronavírus. O programa Alfabetização nas Escolas, lançado pelo governo federal em 2023, tenta reverter esse cenário.

“A gente já sabe que houve o aumento da desigualdade educacional. Naquele período pandêmico em que as crianças e adolescentes ficaram fora das escolas, teve uma diminuição significativa no aprendizado. A gente vai levar mais de uma geração para conseguir reverter esse quadro. E ainda tivemos o pior de tudo, que é o aumento da evasão escolar”, enfatiza a especialista.

O abandono escolar tem sido uma das principais preocupações do ministro da Educação, Camilo Santana, que lançou o programa Pé-de-Meia como uma estratégia de permanência na sala de aula. A poupança do Ensino Médio paga valor mensal a estudantes inscritos no Cadastro Único (CadÚnico), além de um depósito de R$ 1 mil na conclusão de cada ano. Ao todo, os alunos podem receber até R$ 9,2 mil.

Entre tantos desafios, Carolina diz reconhecer como ponto positivo a aceleração da digitalização nas escolas, que proporcionou novas metodologias de ensino e aprendizagem. Para ela, há ainda um olhar mais atento para questões de saúde mental neste ambiente, tanto para os estudantes, quanto para os professores.

Por Mayara Souto – CB

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