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PROTESTO NO PANAMÁ CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA É VIOLENTAMENTE REPRIMIDO 

Milhares de panamenhos saíram às ruas nesta semana numa histórica jornada de protestos contra a modificação do sistema de pensões que o governo pretende implementar. Os protestos foram liderados por sindicatos, movimentos populares e estudantes universitários, que chegaram a bloquear o acesso a várias universidades.

A resposta do governo foi uma repressão violenta que, segundo informações da polícia, deixou mais de 480 pessoas presas e pelo menos 16 feridas. A repressão policial foi desencadeada quando o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Construção Civil e Similares (Suntracs) tentou bloquear a Avenida Marítima, uma das vias mais movimentadas da Cidade do Panamá. 

Imediatamente, a polícia tentou desobstruir o bloqueio disparando gás lacrimogêneo, o que levou a confrontos com os manifestantes, que tentaram se refugiar em um canteiro de obras. 

De acordo com a Suntracs, a repressão foi desencadeada “sem qualquer tipo de diálogo” com os presentes, observando que durante horas a polícia “caçou” pessoas que tentaram se refugiar do gás lacrimogêneo. O sindicato denuncia que a reforma previdenciária pretende instalar “um modelo de aposentadoria que rouba o esforço de uma vida inteira”.

Desde sua posse como presidente em 1º de julho de 2024, o presidente do Panamá, Raul Mulino, declarou que a reforma em andamento do sistema provisório era uma de suas “principais prioridades”. 

A data coincidiu com as jornadas de mobilização pelo aniversário do assassinato de Al Iromi Smith Rentería, líder trabalhista que morto pela Polícia Nacional em 12 de fevereiro de 2008.

Defesa do povo do Panamá 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Ronaldo Ortiz, membro da Frente Nacional de Defesa dos Direitos Econômicos e Sociais (Frenadeso), disse que os protestos fazem parte de um “amplo plano de luta” que o movimento popular panamenho vem realizando há vários meses em protesto contra a reforma da previdência. 

A Frenadeso, uma frente que reúne diferentes setores indígenas, camponeses, estudantes, trabalhadores e professores, considera que a reforma previdenciária promovida pelo governo Mulino é uma “privatização” do sistema previdenciário. 

“Neste momento, estamos lutando em defesa dos direitos dos humildes e dos trabalhadores”, assegura Ortiz, ressaltando que a reforma do sistema de pensões que o governo pretende introduzir é “em função de dar maiores benefícios aos empresários corruptos que prejudicaram o Fundo de Seguridade Social”. 

Estas mesmas lutas estão ocorrendo em um contexto em que os movimentos populares, sindicais e estudantis estão denunciando “a atitude de rendição do governo de direita de Molino diante das exigências de Donald Trump e Marco Rubio de que o Canal passe para as mãos dos Estados Unidos”. 

No início de fevereiro, após as repetidas ameaças de Trump de assumir o controle do Canal do Panamá, Marco Rubio iniciou sua primeira turnê como Secretário de Estado dos EUA no Panamá. Em sua reunião com Mulino, Rubio exigiu “mudanças imediatas” na gestão do Canal, com as quais o presidente panamenho concordou, comprometendo-se a não renovar a iniciativa do Cinturão e Rota do Panamá com a China, apesar de não ter motivos econômicos para justificar essa decisão. O anúncio foi saudado por Rubio, que chamou a notícia de “um grande passo à frente” nas relações entre os dois países. 

Na véspera da chegada de Rubio, as organizações sociais agrupadas em torno da Frenadeso organizaram um “dia patriótico” em repúdio à presença do Secretário de Estado dos EUA e sua agenda expansionista na região. 

Ortiz ressalta que, para as organizações da Frenadeso, por um lado, “o governo de Mulino reprime aqueles que protestam contra a perda de direitos do povo trabalhador panamenho” e, ao mesmo tempo, “mantém uma política de rendição em relação aos Estados Unidos”.

Resposta repressiva

Em declarações à imprensa, o diretor da Polícia Nacional (PN), Jaime Fernández, garantiu que mais de 480 pessoas foram “detidas” após uma “escalada de violência sem precedentes”. Ele também ressaltou que as autoridades “tiveram de estabelecer uma prisão especial”, pois vão “processar” todos os manifestantes, inclusive “líderes sindicais”.

Da mesma forma, durante sua conferência de imprensa habitual na quinta-feira (13), José Raúl Mulino descreveu as ações dos manifestantes como uma “barricada de terroristas sindicais para subverter a ordem pública” e pediu à Procuradoria Geral da República que aja “com todo o peso da lei”. 

Após as declarações do presidente, foi iniciada uma “investigação ex officio” pela promotoria. Batendo em seu púlpito, o presidente Mulino ameaçou as organizações sindicais, afirmando que “a Suntracs não é um sindicato, é uma organização de estilo antigo da velha máfia dos transportes”. Ele garantiu que “ vão pagar o preço da lei, depois da barbaridade que fizeram ontem, com malícia e premeditação”.

“Esses senhores vão entender o peso do que a lei significa, e um governo disposto a não tolerar a anarquia pseudo-sindicalista neste país”, acrescentou.

Diante das ameaças presidenciais, Saúl Méndez Rodríguez, advogado e secretário geral do Suntracs, divulgou um vídeo nas redes sociais no qual garantiu que os protestos tinham sido “ de natureza pacífica”, e lamentou que a resposta do governo tenha sido a repressão.

“Eles querem impor o roubo do dinheiro do seguro, aumentar a idade de aposentadoria e roubar o dinheiro dos aposentados e trabalhadores para entregá-lo aos bancos e aos administradores de fundos de pensão. É contra isso que estamos lutando”, afirmou o secretário geral.

“Todos nós queremos paz, mas não a paz dos cemitérios. Não a paz da miséria e da fome que eles querem nos impor. É por isso que a unidade, a firmeza e a disciplina são necessárias” diz.

por Gabriel Vera Lopes – Brasil de Fato

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