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PROJETO “ANTI-ORUAM” É PROTOCOLADO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) protocolou na Câmara dos Deputados o projeto de lei “anti-Oruam”. Segundo o parlamentar, a proposta foi assinada por 46 deputados de 25 estados e tem o objetivo de proibir o uso de dinheiro público para shows que fazem apologia ao crime organizado.
O projeto leva o nome do trapper Oruam (nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno), que é filho de Marcinho VP — um dos líderes facção Comando vermelho. Marcinho foi preso em 1996, com 26 anos. Ele foi condenado a 44 anos de prisão por homicídio e tráfico de drogas.
Antes de chegar ao Congresso, o PL “anti-Oruam” foi protocolado pela vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil) na Câmara Municipal de São Paulo em janeiro. No texto, a vereadora propõe que São Paulo seja proibido de “apoiar, patrocinar ou divulgar show, artista ou evento de qualquer natureza que envolva expressão de apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas”.
“A proposta surge da necessidade de garantir que tais eventos sejam promovidos de forma responsável, especialmente no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes”, diz trecho da PL. O nome de Oruam não é mencionado na proposta. No Instagram, a vereadora Amanda foi mais incisiva e afirmou que quer proibir o trapper de realizar shows em São Paulo.
O Correio tentou entrar em contato com a equipe de Oruam para buscar uma posição sobre o PL. Em caso de resposta, o texto será atualizado.
“Apologia às drogas, ao sexo e às facções criminosas são os principais temas das músicas do rapper Oruam, filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho, organização criminosa que aterroriza o Rio de Janeiro. Por isso, defendo que a prefeitura de São Paulo não utilize recursos públicos para contratar artistas que promovam o crime organizado. É fundamental tratarmos facções como o Comando Vermelho como organizações terroristas”, citou Amanda.
Na segunda-feira (10/2), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), defendeu a proposta da vereadora Amanda e disse que não conhece Oruam. “Pra você ver que eu tenho um bom gosto pra música, nunca ouvi a música desse cara. Pelo que vi, ela questionou sobre uma pessoa, não sobre a questão cultural. Seria até injusto colocar pra vereadora como se ela estivesse fazendo qualquer tipo de ação contra o funk ou qualquer outro tipo de expressão cultural”, afirmou.
A vereadora Ediane Maria (PSol-SP), coordenadora da Frente Parlamentar do Funk na Assembleia Legislativa de São Paulo, disse que acredita que o projeto é para “colocar medo na população”. “Sempre que um movimento cultural e sociopolítico preto ganha destaque, os conservadores vêm pra cima para criminalizar”, frisou.
O sociólogo e produtor de conteúdo Thiago Torres, mais conhecido como “Chavoso da USP”, apontou que o Movimento Brasil Livre (MBL) tenta “criminalizar e censurar” artistas que cantam sobre a realidade de pessoas que moram nas periferias.
“Goste ou não de Oruam e de seu trabalho, é fato que ele é perseguido por políticos de direita e pelas grandes mídias simplesmente por ser filho de um homem que está privado de liberdade. Eu, como professor de adolescentes e jovens infratores, que cumprem medidas socioeducativas, acredito na (res)socialização das pessoas e digo: familiares de presos merecem respeito”, pontuou Thiago.
Nos stories, Oruam criticou Amanda após ela publicar o vídeo sobre o projeto de lei. “Tu quer ficar nessa daí? Vai proibir o c*, pô. Tu nem tem força para isso. Bobona. Eu nunca vi uma pessoa estudar para falar merda. Só tu não falar meu nome, senão tu vai conhecer o capeta”, disse. Depois, a vereadora afirmou que estava sofrendo ameaças de morte nas redes sociais e registrou um boletim de ocorrência.
No dia 28 de janeiro, Oruam fez uma publicação em que diz que “aceita ser alvo da mídia”. Vocês precisam ter um vilão pra enxugar tudo que acontece por aqui, até que isso é bom, odeio bajuladores. No final, o traficante é o menor dos problemas”, disse o artista.
Quem é Oruam?
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, mais conhecido como Oruam foi criado no morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Ele começou a se destacar no cenário musical brasileiro em 2021, quando lançou a música Invejoso, ao lado de Chefin, Jhowzin e Raffé.
O trapper tem parcerias com diversos nomes da música, incluindo Ludmilla, MC Ryan SP e MC Daniel. Entre os hits estão: Oh Garota Eu Quero Você Só Pra Mim (que ocupa o Top 3 do Spotify no Brasil), Diz aí qual é o plano?, Rolé na favela de nave e Para de mentir.
Por Aline Gouveia – CB