PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA CONSAGRA GILSONS E YAMANDU COSTA EM NOITE DE TOM POLÍTICO NO RIO

Edição em homenagem a Alcione terminou em samba após longa cerimônia, no Theatro Municipal

SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO

Protestos contra a Lei do Marco Temporal e uma Alcione se sentindo em casa marcaram a 30ª edição do Prêmio da Música Brasileira, na noite desta quarta-feira (31), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

O evento celebrou os 50 anos de carreira da Marrom e premiou artistas de diferentes estilos em 31 categorias. O trio Gilsons, formado por José Gil, Francisco Gil e João Gil (respectivamente, filho e netos de Gilberto Gil), e o compositor Yamandu Costa foram os grandes vencedores desta edição, ao conquistar duas categorias cada.

O tom político que se fez presente ao longo da noite começou a se manifestar antes mesmo de o Municipal abrir suas cortinas, com Daniela Mercury, no tapete vermelho, protestando contra a Lei do Marco Temporal, aprovada nesta terça-feira (30) pela Câmara dos Deputados.

A cerimônia foi conduzida pelo youtuber Felipe Neto e pelo ator Lázaro Ramos, e logo a manifestação de Daniela encontrou eco entre os premiados. Os compositores Felipe Cordeiro e Chico César (que chegou a ser cotado para o Ministério da Cultura de Lula), ao levarem o troféu de “Lançamento” na categoria Canção Popular (por “De Amor, Amor”), aproveitaram o microfone aberto para engrossar o coro.

Felipe Neto, percebendo a movimentação, apoiou a causa. “Fora! Marco temporal, não!”, gritou o influencer, aplaudido pelo público. Emicida também não se calou. Ao final de sua performance de “Agolonã”, com o irmão, MC Fióti, bradou: “Viva Alcione! Viva a música preta do Brasil! A gente precisava disso. E não ao Marco Temporal”.https://d-2549367022412236981.ampproject.net/2305182038000/frame.html

Neto voltou a puxar um protesto sobre as mudanças na gestão do Brasil logo no início da cerimônia, emendando um discurso de Lázaro Ramos sobre a importância do prêmio. “Depois de tudo o que a cultura brasileira suportou durante quatro anos!”, disse o youtuber, aplaudido mais uma vez.

Já a homenageada da noite mostrou um tom mais neutro. Durante o evento, ela foi filmada diversas vezes pela transmissão sorrindo e mostrando animação com a atuação de Lilian Valeska, atriz que a interpretou, em interpretações biográficas salpicadas durante as longas 2h45 de uma cerimônia mezzo musical, mezzo teatral.

Alcione teve sua história de vida contada ao longo da noite, em quadros que entremeavam a premiação em si. Antes de participar ativamente da noite (ela cantou, claro), Marrom acompanhou tudo do balcão lateral e parecia tão à vontade que, enquanto assistia ao espetáculo, pediu para uma de suas irmãs coçar suas costas. “Mais para o lado”, pediu, sorrindo e ficando com a postura ereta.

PREMIADOS

Após a performance de Maria Bethânia e Gloria Groove, que ganharam aplausos por abrirem os números musicais da noite com “O Meu Amor”, o público conheceu os vencedores da categoria de Rock. Os Gilsons, que também venceram o posto de Projeto Audiovisual (pelo filme “Pra Gente Acordar (O Filme)”, que tem narração de Gilberto Gil), foram anunciados como o Grupo destaque.

O gaúcho Yamandu Costa se igualou ao feito do trio de herdeiros de Gil, ao vencer dois troféus dentro da Categoria Instrumental, como Solista e Lançamento (por “Simpatia”, gravada com Bebê Kramer, também do Rio Grande do Sul).

O Prêmio da Música Brasileira também fez reverência ao sertanejo, premiando as chamadas Patroas em dois postos da categoria de Canção Popular: Maiara e Maraísa faturaram como Dupla, enquanto Marília Mendonça recebeu uma homenagem póstuma ao vencer como Intérprete. O público aplaudiu de pé a artista, morta em um acidente aéreo em novembro de 2021.

Nas outras categorias, houve pouco espaço para celebração, já que os estilos musicais eram chamados em grupos, com subdivisões entre os premiados (MPB, por exemplo, premiava ao mesmo tempo Melhor Grupo, Intérprete, Lançamento e Canção). Em média, três ou quatro vencedores eram anunciados de uma só vez. Assim, a premiação ganhou mais tempo para as performances musicais, que visitaram diferentes fases de Alcione.

DE VOLTA

A vasta lista de apresentações com faixas de Alcione ajudou a dar mais ritmo para a cerimônia. Nomes de diferentes gêneros -de Xande dos Pilares a Marina Sena- passaram pelo palco do Theatro Municipal apresentando canções como “Nem Morta”, “Rio Antigo”, “Agolonã” e “Qualquer Dia Desses”.

De todos os números, Péricles e Ferrugem foram, de longe, os mais aplaudidos ao cantarem “Meu Vício É Você” e “Um Ser de Luz”. Os dois sambistas receberam as palmas de pé, que duraram cerca de três minutos, e Ferrugem se emocionou. “Tia Alcione, eu te amo”, agradeceu. Ele já havia a chamado de “tia” no tapete vermelho.

Na reta final, antes de o palco receber o grande nome da noite, houve tempo ainda para Caetano Veloso cantar “Onde Rio É Mais Baiano”, que também deixou muita gente emocionada. Por fim, aos gritos de “canta, Alcione”, puxados por Lázaro e Felipe Neto, foi a vez de a Marrom entrar em cena.

Com um vestido dourado, a homenageada da noite entrou no palco cantando “Obrigada”. “Obrigado, meu pai, minha mãe, meus pais, irmãos, amigos, minha família e a todos vocês que me trazem aqui hoje. Salve todos os meus orixás”, disse ela, no final do número, se curvando, e aplaudida de pé.

“Todos todos vocês sabem, fiz uma operação a três meses, na medula, e estou com quatro parafusos. Daqui a pouco, tô andando normal, que nem uma gatinha”, prometeu ela, que ainda emendou a cantoria de “Pagu” e “A Loba”, “O Surdo”, já sentada em uma poltrona no centro do palco. Para fechar o Prêmio da Música Brasileira, Pedro Sampaio surgiu ao lado de Alcione para o aguardado número de “Não Deixe o Samba Morrer”.

“Tão bonitinho”, elogiou Alcione, olhando para o DJ e arrancando risadas do público. Como fartamente anunciado, a Mangueira ainda participou da performance final, dando uma prévia do samba-enredo que defenderá em 2024 na Sapucaí -Alcione será homenageada pela agremiação. E a festa acabou assim.

VEJA A LISTA DE VENCEDORES

POP/ROCK

• Grupo: Gilsons
• Intérprete: Elza Soares
• Lançamento: Erasmo Carlos – “O Futuro Pertence Á… Jovem Guarda” (Produção: Pupillo)

REGIONAL

• Dupla: Mayck & Lyan
• Grupo: Boi Bumbá Garantido
• Intérprete: Alceu Valença
• Lançamento: Elba Ramalho – Elba Ramalho No Maior São João do Mundo (Ao Vivo) (Produção: Junior Evangelista)

CANÇÃO POPULAR

• Dupla: Maiara e Maraisa
• Grupo: Psirico
• Intérprete: Marília Mendonça
• Lançamento: Felipe Cordeiro, Chico César – “De Amor, Amor” (Produção: Felipe Cordeiro)

ESPECIAL

• Eletrônico: Batata boy, Garbela – Entre Cidades (Produção: Batata Boy, Garbela)
• Língua Estrangeira: Cássia Eller, Victor Biglione – “Cássia Eller & Victor Biglione in blues (Produção: Victor Biglione, Zé Nogueira)
• Erudito: Orquestra Sinfonica Brasileira – “Bachiana Nº 4-1 Movimento”
• Infantil: Mundo Bita – “É Alegria” (Produção: Chaps Melo, Vinícius Guerra (Vinispace) e Walman Filho)

OUTRAS CATEGORIAS

• Canção: Chico Buarque, Hamilton de Holanda – Que Tal um Samba? (Intérprete: Chico Buarque / Compositor: Chico Buarque)
• Revelação: Plínio Fernandes
• Projeto Especial: Alfredo Del-Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques, Pedro Miranda – Desengaiola (Produção: João Cavalcanti e Pedro Luís)
• Projeto Audiovisual: Gilsons – Pra Gente Acordar (O Filme) (Direção: Pedro Alvarenga)

INSTRUMENTAL

• Grupo: Letieres Leite, Orkestra Rumpilezz
• Solista: Yamandu Costa
• Lançamento: Yamandu Costa, Bebê Kramer – “Simpatia” (Produção: Yamandu Costa e Bebê Kramer)

MÚSICA URBANA

• Grupo: Planet Hemp
• Intérprete: Criolo
• Lançamento: Baco Exu do Blues – “QVVJFA (Quantas Vezes Você Já Foi Amado?)” (Produção: Marcelo Delamare)

MPB

• Grupo: Bala Desejo
• Intérprete: Djavan
• Lançamento: Alaíde Costa – O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim (Produção: Marcus Preto, Pupillo, Emicida)

SAMBA

• Grupo: Fundo De Quintal
• Intérprete: Diogo Nogueira
• Lançamento: Martinho da Vila – Mistura Homogênea (Produção: Celso Filho, Martinho Antônio)

Por: Redação