“PRECISAMOS CONSEGUIR A LICENÇA” PARA PAVIMENTAR BR-319, DIZ NÚMERO 2 DO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES
Em audiência pública marcada por falas a favor da obra, representantes demonstraram empenho da pasta em asfaltar a via, um dos principais focos de desmatamento no bioma
O Ministério dos Transportes realizou na manhã desta terça (16), em Porto Velho, a terceira audiência pública do Grupo de Trabalho da Rodovia BR-319, que liga a cidade a Manaus. Na reunião, representantes do próprio Ministério, do governo de Rondônia, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do Ibama, do agronegócio e de sindicatos discutiram possibilidades de licenciamento ambiental para a pavimentação da rodovia, já hoje um dos grandes focos de desmatamento e emissões de carbono na Amazônia. As outras duas reuniões ocorreram no fim do ano passado, em Brasília (com políticos dos dois estados) e Manaus.
No encontro, que não foi transmitido para o público, o secretário-executivo do Ministério, George Santoro, afirmou que “a gente precisa conseguir a licença de instalação” para as obras na rodovia, que liga as cidades de Porto Velho e Manaus. Para isso, o número 2 da pasta comandada pelo ministro Renan Filho disse que o relatório final do grupo de trabalho, previsto para fevereiro, deve apontar “os caminhos para resolver o licenciamento ambiental junto aos órgãos de controle e para gente entender o que é necessário para fazer o licenciamento”, com “um grande mapa de responsabilidades, metas e prazos”.
A maior parte dos presentes pressionou pela realização das obras. “Estamos cobrando agilidade, esse foi o nosso papel; na nossa fala nós tivemos a oportunidade de cobrar mais empenho e mais agilidade nessa questão”, disse Francisco Bezerra, presidente da Associação dos Usuários de Transportes Coletivos e de Passageiros no Estado do Amazonas, ao portal RealTime1. Já Fabrício Jurado, secretário-geral de governo da Prefeitura de Porto Velho, afirmou que “nós sofremos muito com a 319 na época do inverno amazônico, já que a rodovia fica totalmente intransitável, então deixamos de transportar produtos”, citando desabastecimentos de oxigênio hospitalar, combustível e alimentos, além da última seca no Rio Madeira, uma alternativa ao transporte rodoviário.
A pavimentação da via, porém, deverá trazer um aumento ainda maior de desmatamento – inclusive com a construção de “ramais”, pequenas vias ilegais conectadas à principal e abertas em meio à floresta –, o que resultará num agravamento das secas. É o que alertou Lucas Ferrante, biólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em entrevista a O Globo. Ou seja, o que é apontado como “solução” deverá piorar o problema.
POR GABRIEL TUSSINI • ECO