POLÍCIAS E EXÉRCITO AINDA PROCURAM QUATRO METRALHADORAS FURTADAS EM QUARTEL DE SP; ARMAS IRIAM PARA FACÇÕES CRIMINOSAS
17 das 21 armas que desapareceram do Arsenal de Guerra de Barueri, Grande São Paulo, foram recuperadas pelas polícias do RJ e SP. Armamento restante que ainda não foi encontrado é de calibre .50 e pode derrubar aeronaves.
8 metralhadoras foram encontradas pela Polícia Civil do Rio (foto à esquerda); e 9 armas acabaram achadas pela polícia de Carapicuíba, Grande São Paulo, em São Roque. Todas as 17 foram furtadas do quartel do Exército em Barueri, região metropolitana — Foto: Leslie Leitão/TV Globo e Polícia Civil/Divulgação
8 metralhadoras foram encontradas pela Polícia Civil do Rio (foto à esquerda); e 9 armas acabaram achadas pela polícia de Carapicuíba, Grande São Paulo, em São Roque. Todas as 17 foram furtadas do quartel do Exército em Barueri, região metropolitana — Foto: Leslie Leitão/TV Globo e Polícia Civil/Divulgação
As polícias de São Paulo e do Rio de Janeiro e o Exército ainda procuram as últimas quatro das 21 metralhadoras antiaéreas que foram furtadas em setembro, em um quartel em Barueri, na Grande São Paulo. Segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, elas iriam para facções criminosas paulistas e fluminenses.
Até a última atualização desta reportagem, 17 das 21 armas desviadas do Arsenal de Guerra da cidade foram encontradas e recuperadas pelas polícias. O desaparecimento das 13 metralhadoras calibre .50 (que derrubam até aeronaves) e oito metralhadoras calibre 7,62 foi detectado no dia 10 de outubro durante inspeção no paiol. Segundo a instituição, as armas são “inservíveis” e estavam passando por manutenção.
Desde então, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) investiga o caso internamente e confirmou o envolvimento de três militares no crime. Parte desse grupo suspeito, que já foi identificado, está entre os cerca de 160 militares “aquartelados”, proibidos de deixarem o quartel em Barueri.
Aproximadamente 50 militares já foram ouvidos, mas não necessariamente todos são investigados. Caso sejam punidos, os militares podem ser presos e expulsos do Exército. A suspeita é a de que eles tenham sido cooptados por membros de facções criminosas para retirarem as armas do Arsenal de Guerra durante o feriado de 7 de setembro. Os envolvidos teriam participado de um grupo que negociou a venda do armamento para os bandidos.
Na última quinta-feira (19), oito metralhadoras (quatro delas calibre .50 e as outras quatro 7,62) foram encontradas abandonadas pela Polícia Civil fluminense na capital do Rio de Janeiro. Na sexta-feira (20) mais nove armas (cinco .50 e quatro 7,62) foram localizadas, dessa vez pela Polícia Civil paulista, em São Roque, no interior de São Paulo.
Agora, as autoridades das forças de segurança e das forças armadas procuram as quatro metralhadoras que restam, todas calibre .50.
Segundo o Instituto Sou da Paz, as 21 metralhadoras furtadas do quartel em Barueri representam o maior desvio de armas da história do Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e depois recuperados pela polícia de um batalhão em Caçapava, interior de São Paulo. Suspeitos foram presos à época, entre eles um militar.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, o serviço de inteligência da Polícia Civil de São Paulo identificou que todo o arsenal furtado do quartel em Barueri tinha como destino o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua principalmente em território paulista.
“Elas [as metralhadoras] tinham endereço certo. A informação que se tem é que tanto Comando Vermelho quanto PCC seriam os destinatários finais desse armamento”, disse no sábado (21) Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública.
Nove metralhadoras escondidas na lama
Em nenhum dos dois casos em que as polícias recuperaram as armas, tanto no Rio quanto em São Roque, ocorreram prisões de suspeitos nos locais.
No caso mais recente, o de São Roque, pelo menos dois criminosos que tomavam conta das metralhadoras trocaram tiros com policiais da Delegacia Seccional de Carapicuíba, que tinham ido à cidade checar informação do serviço de inteligência de que bandidos iriam repassar armas para membros de uma facção.
Os criminosos atiraram, três disparos atingiram uma viatura da Polícia Civil, e eles fugiram. Ninguém ficou ferido. No local, uma área de mata, os policiais acharam depois as metralhadoras escondidas num lamaçal (veja vídeo acima).
Por causa do desaparecimento das armas, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, diretor do Arsenal de Guerra, foi exonerado na semana passada pelo Exército. Ele será transferido para outro quartel e continuará na ativa. Em seu lugar, assume o novo diretor, o coronel Mário Victor Vargas Júnior, que comandará a base em Barueri.
Por meio de nota, o Comando Militar do Sudestes (CMSE) do Exército informou que as nove armas foram recuperadas numa ação conjunta com com a Polícia Civil de São Paulo.
“O Comando Militar do Sudeste informa que na madrugada do dia 21 de outubro foram recuperadas mais 9 (nove) metralhadoras, sendo 5 (cinco) calibre .50 e 4 (quatro) calibre 7,62 (totalizando 17 armamentos), fruto de uma ação integrada do Exército Brasileiro com a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Todos os esforços estão sendo envidados para a recuperação total dos armamentos subtraídos”, informa comunicado enviado à imprensa pela assessoria do CMSE.
Mas a Delegacia Seccional de Carapicuíba, negou ao g1 que a Polícia Civil tenha encontrado as armas em uma operação integrada com o Exército. “Única e exclusivamente da Polícia Civil de Carapicuíba. Nada do Exército”, disse Marcelo Prado, delegado Seccional de Carapicuíba. “Nada o Exército passa…”
Em entrevista à TV Globo, o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, disse que as metralhadoras voltarão para o Exército após perícia da polícia.
“Nós já estamos de posse já dessas 17 armas [recuperadas]. Vamos atrás ainda dessas quatro que estão faltando. E estamos com Inquérito Policial Militar [IPM] em curso para identificar também os responsáveis por esse desvio do material do Arsenal de Guerra de São Paulo”, disse Maurícío.
Por Kleber Tomaz, Lucas Jozino, Renato Biazzi, g1 SP e TV Globo — São Paulo