ONU E HRW ACUSAM ISRAEL DE GENOCÍDIO E CRIME DE GUERRA
Human Rights Watch denuncia deslocamento forçado de palestinos e destruição sistemática da Faixa de Gaza, já Nações Unidas destacam “perdas em massa de civis”
Intitulado Hopeless, starving and besieged: Israel’s forced displacement of palestinians in Gaza (“Sem esperança, famintos e sitiados: o deslocamento forçado de palestinos em Gaza por Israel”), o relatório de 154 páginas publicado pela organização não govermamental Human Rights Watch (HRW) acusa o governo de Benjamin Netanyahu de crimes de guerra e contra a humanidade, por conta da expulsão deliberada de civis de suas casas.
Também nesta quinta-feira (14/11), um comitê especial da Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que os métodos de guerra usados por Israel na Faixa de Gaza têm “características de um genocídio”. O comitê destacou, em um informe, as “perdas em massa de civis e as condições impostas aos palestinos, que colocam sua vida em perigo de forma intencional”.
“Com seu cerco à Faixa de Gaza, a obstrução da ajuda humanitária, os ataques seletivos e matando civis e trabalhadores humanitários, apesar dos apelos reiterados da ONU, e evitando as ordens da Corte Internacional de Justiça e as resoluções do Conselho de Segurança, Israel está, intencionalmente, causando morte, fome e ferimentos graves à população do território”, afirma o relatório das Nações Unidas.
O texto foi rejeitado pelos EUA, que consideraram as acusações “infundadas”. “Isso é algo do qual discordamos de forma inequívoca”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel. “Acreditamos que esse tipo de linguagem e essas acusações são, certamente, infundadas.”
Principal autora do relatório da HRW, Nadia Hardman, pesquisadora sobre direitos de migrantes e refugiados da ONG, afirmou ao Correio que sua equipe avaliou as alegações de Israel de que estaria garantindo a fuga de civis de forma segura. “Eles (israelenses) estão colocando os palestinos em perigo, ao bombardearem rotas de fuga e zonas seguras. Descobrimos 184 ordens de retirada confusas e repletas de erros. As pessoas não tiveram tempo suficiente para escapar das bombas”, explicou, por telefone. “Essas ordens semearam confusão e deixaram os civis apavorados. Em primeiro lugar, Israel não removeu os civis de forma segura; em segundo lugar, a situação humanitária na Faixa de Gaza é um desastre. Israel utiliza a fome como arma de guerra. Os palestinos não têm acesso a comida e água.”
De acordo com Hardman, as leis de guerra exigem o retorno dos deslocados às suas casas. “O que temos visto é destruição disseminada na Faixa de Gaza, um território que tornou-se inabitável. Israel tem frustrado a habilidade dos palestinos de voltarem para seus lares. Em alguns casos, não existe para onde retornar, também”, disse a estudiosa da HRW. “Nós demonstramos que as chamadas zonas de segurança e os corredores seguros estão completamente esvaziados de palestinos, expulsos dessas áreas. Demonstramos que a destruição disseminada é uma política de Estado e que os líderes israelenses cometem crimes contra a humanidade.”
Hardman recomendou aos governos a suspensão da assistência militar para Israel, como a transferência de armas, e a introdução de sanções direcionadas.
“Pelo que sabemos, os deslocamentos forçados e as ordens de retirada prosseguem em Gaza, especialmente no norte. Neste momento, 84% da população de Gaza está sob fuga. Cerca de 1,89 milhão de 2,2 milhões de palestinos foram deslocados. Nós recomendamos à promotoria do Tribunal Penal Internacional que investigue os deslocamentos forçados no âmbito de crimes contra a humanidade, assim como a prevenção ao retorno dos palestinos para suas casas.”
Por Rodrigo Craveiro – CB