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O XADREZ DA REFORMA MINISTERIAL: SILVEIRA E MÚCIO FICAM, MAS QUEM SAI?
Lula indica a permanência dos ministros da Defesa e de Minas e Energia; outras pastas, no entanto, seguem indefinidas na reforma ministerial. O Centrão pressiona por mais espaço, e mudanças devem ocorrer até março
Na discussão sobre reforma ministerial, o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira, começa a semana fortalecido — mesmo sob fogo do novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Em entrevista a rádios mineiras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse com todas as letras que Silveira “será mantido ministro” e que não tem pressa para fazer alterações em seu time.
Em outra frente, Lula convenceu o titular da Defesa, José Múcio, a permanecer no cargo, apesar dos pedidos para sair e passar mais tempo com a família. Outras pastas, porém, seguem com destino indefinido e servem como moeda de troca para legendas de centro que cobram mais caro pelo apoio ao governo após as eleições municipais do ano passado.
Lula demonstra que não tem pressa para fazer as mudanças, como reafirmou na semana passada. “Eu ainda vou discutir muito com os partidos. Eu não tenho pressa para fazer nenhuma reforma. Quero ajustar as peças, que vamos trocar com muita tranquilidade. Não tenho pressa, não tenho data, e vou fazer os ajustes quando achar necessário fazer ajustes”, respondeu o presidente ao ser questionado durante a mesma entrevista a rádios mineiras. Seu modus operandi em outras reformas foi o mesmo: adiar o máximo possível a decisão, sinalizar tanto para sua base quanto para o Centrão que a decisão final é sua, e que não cederá a pressões.
As primeiras mudanças devem ocorrer na chamada “cozinha” do Planalto, ou seja, os ministérios diretamente ligados à Presidência da República. Aliados de Lula dão como certa a entrada da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável pelo diálogo com movimentos sociais. Se confirmada a troca, Gleisi assumirá o cargo ocupado por Márcio Macêdo, que pode ir para uma estatal. Ao iniciar o terceiro mandato, Lula optou por manter apenas petistas no Planalto, mas sofre pressão agora para incluir um nome do Centrão na coordenação política. Ou seja, há dúvidas sobre a permanência do ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha.
Integrantes do Centrão defendem o nome do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que tem também o apoio do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Se não um ministério, cobram ao menos que Bulhões assuma a liderança do governo na Câmara, atualmente exercida por José Guimarães (PT-CE). É importante lembrar que PSD, MDB, PP e União Brasil foram os grandes vencedores das eleições municipais, assumindo mais da metade das prefeituras, e agora cobram maior participação no Executivo em troca de uma possível aliança em 2026. Lula, porém, quer manter Padilha na Esplanada, já que o titular tem sua confiança.
Saúde
Padilha é cotado para assumir o Ministério da Saúde, caso Lula decida tirar a atual ministra, Nísia Trindade. A pasta tem o maior orçamento da Esplanada, e é a mais cobiçada pelo Centrão. O presidente, porém, não pretende ceder esse ministério e prefere colocar alguém de sua confiança no lugar. Lula tem Nísia em alta conta, e se recusou a tirá-la do cargo em outras ocasiões, mas na discussão atual ainda não demonstrou apoio público à permanência.
Duas figuras que podem entrar no governo são os ex-presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O deputado já foi cotado para assumir as pastas da Agricultura e das Relações Institucionais. Porém, esbarra no elogiado Carlos Fávaro, titular da Agricultura e na resistência de aliados do presidente Lula em ter Lira como articulador político — ele coleciona embates e tensões com integrantes do governo federal. Pacheco, por sua vez, de tom mais conciliador e aliado de Lula, foi incensado pelo presidente ao deixar o comando do Senado. O presidente deixou claro que o quer como cabo eleitoral em Minas Gerais, em 2026, precificando sua entrada na Esplanada. Ele é cotado para assumir o Ministério da Justiça, de Ricardo Lewandowski, ou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), ocupado atualmente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Outra troca considerada provável nos bastidores é a demissão da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, para dar espaço para a titular de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. O movimento cria mais um espaço que pode ser dado ao Centrão. O que se sabe sobre a reforma até o momento é comentado entre auxiliares do presidente Lula e parlamentares. Na prática, porém, a decisão é exclusiva do presidente, que prometeu discutir as mudanças durante o mês de fevereiro.
A expectativa é que os anúncios ocorram, no mais tardar, até março. Há muitos nós a serem desatados. Por exemplo, ministros que queiram concorrer nas eleições de 2026 precisam deixar os cargos até março do próximo ano. Ou seja, ficarão menos de um ano à frente dos ministérios. Isso é um problema no caso de Padilha ir para a Saúde, por exemplo, que deve tentar se reeleger como deputado. Um ano é pouco tempo para fazer boas entregas em uma pasta grande como aquela. O mesmo dilema ocorre com Pacheco, se for colocado na Justiça e decidir concorrer ao governo de Minas Gerais.
Com o novo comando do Congresso Nacional definido, após a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), corre o relógio para que Lula defina a nova cara de seu governo. Afinal, pautas estratégicas começarão a ser votadas em breve no parlamento, e Lula precisa justamente do apoio do Centrão para garantir votos.
Por Victor Correia – CB