‘O RJ VIROU REFÚGIO DE CRIMINOSOS DE OUTROS ESTADOS’, DIZ CLÁUDIO CASTRO AO ANUNCIAR ‘GRANDE AÇÃO’ NA MARÉ
Governador disse que a migração de bandidos ocorreu por uma ‘má interpretação’ da ADPF das Favelas, que restringiu operações policiais.
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou na sexta-feira (29) que o Rio de Janeiro virou “refúgio para criminosos de outros estados”. A declaração foi feita após uma reunião com representantes do governo federal para definir ações de segurança no RJ.
“Nós temos a total consciência de que, por uma má interpretação da questão da ADPF, o Rio de Janeiro acabou virando um local de refúgio de criminosos de outros estados”, destacou.
A ADPF a que Castro se referiu é a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, mais conhecida como ADPF das Favelas, em resposta à qual o Supremo Tribunal Federal (STF) restringiu as operações policiais em comunidades durante a pandemia de Covid.
Drones da Polícia Civil flagraram criminosos usando área com quadras e piscinas para fazer treinamento de guerrilha no Complexo da Maré; imagens fazem parte de investigação que durou dois anos – Reprodução/TV Globo
Ação na Maré
Castro também anunciou uma “grande ação” contra o tráfico do Complexo da Maré. Um “comitê permanente” será criado no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) com todos os setores de inteligência das polícias federais e estaduais.
“Estamos preparando uma grande ação, e eu já reitero que nós não falaremos em datas, porque tiraria completamente o efeito surpresa”, disse Castro.
“O que vai pautar as nossas ações é inteligência, investigação e tecnologia. Serão as nossas estrelas dessa nova fase de operações. É o nosso grande pontapé para que a gente possa melhorar de vez a questão da segurança pública”, declarou.
‘Centro de treinamento’
O governador parabenizou a Polícia Civil pelas investigações do “centro de treinamento tático” do tráfico na Maré.
“Essas imagens são um avanço para que a sociedade entenda, de uma vez por todas, o tamanho do desafio dos agentes da segurança pública, que acordam todo dia cedo e enfrentam criminosos fortemente armados, e agora bem treinados”, disse.
“Essas imagens têm um tom de libertação, porque infelizmente uma parte da sociedade coloca traficante como bonzinho, como ‘vítima da sociedade’”, criticou.
“São criminosos de altíssima periculosidade que não têm a menor pena de usar criança como como escudo, nem de tirar equipamento público da comunidade para fins de treinamento quase militar”, emendou.
Comitê das inteligências
Castro também falou que haverá um grupo reunindo “Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional e subsidiados pela administração penitenciária federal e estadual”.
“Nós estamos criando um comitê permanente e integrado, que vai ter como base o CICC, para que as inteligências possam trocar as informações e ver os melhores caminhos a tomar”, explicou.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli — Foto: Divulgação
Programa nacional de enfrentamento
Presente à reunião com Castro, Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, adiantou que na próxima segunda-feira (2) o ministro Flávio Dino vai lançar “um programa nacional de enfrentamento às organizações criminosas”.
“Essa é uma questão interfederativa, onde o governo federal vai atuar fortalecendo a presença nos portos, nos aeroportos, nas fronteiras. É a missão central nossa, mais em perfeita harmonia com os estados”, explicou.
“Se o crime está cada vez mais organizado e estruturado no país, o poder público precisa estar também cada vez mais integrado para combatê-lo. É um desafio nacional”, emendou.
Capelli também comentou a investigação na Maré. “Aquelas imagens que a gente viu são inaceitáveis. Treinamento de guerrilha urbana à luz do dia, criminosos andando com fuzis ponto 50, à luz no dia, não é aceitável em nenhum lugar do mundo.”
Cappelli afirmou que o apoio ao Rio será “harmônico e integrado” e disse ainda que “o poder público precisa estar mais unido”.
“Treinamento de guerrilha urbana à luz do dia, criminosos andando com fuzis .50 à luz do dia, isso não é aceitável em nenhum lugar do mundo. Vamos atuar com inteligência, com proporcionalidade, respeitando a APDF (635), sem nenhuma ação pirotécnica ou espetacular. Inteligência, mínimo de efeito colateral possível, para devolver o território para aquelas 140 mil pessoas que moram ali”, destacou.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça disse ainda que a Força Nacional passará por um treinamento padrão em Brasília, mas que incursões no Complexo da Maré serão a cargo das forças estaduais. Os agentes federais atuarão na retaguarda.
Por Rafael Nascimento, g1 Rio