“NÃO QUEREMOS GUERRA”, DIZ LULA, MAS SEM CONDENAR MADURO
Presidente falou em reunião do Mercosul; propôs declaração conjunta pela paz e apenas pediu que escalada de tensão entre Venezuela e Guiana seja mediada por Celac e Unasul
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 5ª feira (7.dez.2023) não querer uma guerra na América do Sul diante da escalada da tensão entre a Venezuela e a Guiana, que fazem fronteira com a região Norte do Brasil. Lula fez a declaração sem condenar a atitude beligerante do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que já afirmou que mais da metade do território da Guiana será anexado ao seu país. O líder venezuelano até apresentou um novo mapa com a área que hoje é da Guiana.
“Coisa que não queremos na América do Sul é guerra. Não precisamos de guerra, de conflito. Precisamos construir a paz. Só assim poderemos melhorar nosso país”, afirmou Lula durante discurso na abertura da 63ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada no Museu do Amanhã, no Rio.
O presidente afirmou que o Brasil acompanha as iniciativas da Venezuela com “crescente preocupação” e que o Mercosul não pode ficar “alheio a essa situação”.
Lula pediu aos demais integrantes do bloco (Argentina, Paraguai, Uruguai e a Bolívia, que está em processo de adesão) que concordassem com uma declaração conjunta construída pelas chancelarias dos países para reafirmar a região como uma zona pacífica e de cooperação. “Não queremos que essa controvérsia constitua ameaça à paz e à estabilidade”, disse.
O presidente brasileiro sugeriu ainda que a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) sejam as instâncias diplomáticas usadas para intermediar a tensão entre os 2 países. “Brasil e Itamaraty também estão à disposição para sediar quantas reuniões forem necessárias”, disse.
Ao convocar outros países da região para mediar a tensão no continente, Lula tenta diluir a pressão que recai sobre si para mediar a relação entre os 2 países. Mais uma vez, o presidente quer se equilibrar entre todos os polos de disputas pelo mundo.
Ao opinar sobre outros conflitos em regiões mais longínquas, o petista desagradou à comunidade internacional. Disse num determinado momento que Rússia e Ucrânia tinham responsabilidades equivalentes, quando sabe-se que não era essa a situação. Agora, no final de 2023, o presidente brasileiro equiparou as ações de Israel aos atos praticados pelo Hamas.
Até agora, Lula optou pela omissão: nunca quis dizer quem eram as partes responsáveis pelos conflitos na Europa e no Oriente Médio. Essas elipses do petista ficam agora mais difíceis quando há um risco de beligerância em um país fronteiriço ao Brasil.
A Venezuela anunciou no domingo (3.dez) que mais de 95% dos eleitores aprovaram um referendo para a criação do Estado de Essequibo, que corresponde a 74% do território da Guiana. A medida, de caráter consultivo, foi anunciada por Maduro em 10 de novembro.
A disputa entre os países, que dura mais de 1 século, está relacionada à região de Essequibo ou Guiana Essequiba. O local tem 160 mil km² e é administrado pela Guiana. A área representa 74% do território guianês, é rica em petróleo e minerais, e tem saída para o Oceano Atlântico.
A Corte Internacional de Justiça, em Haia, decidiu que a Venezuela não pode tomar medidas para anexar a região. A Guiana também informou que acionará o Conselho de Segurança da ONU para debater a situação.
Mesmo assim, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, determinou a distribuição de um “novo mapa da Venezuela” com a área incorporada por estabelecimentos do país. O Ministério Público da Venezuela também emitiu mandados de prisão contra líderes políticos da oposição que teriam supostamente interferido no referendo.
Com a tensão na fronteira, o Exército brasileiro determinou o deslocamento de 16 viaturas blindadas para Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, enquanto monitora o acirramento da disputa.