MASSA VAI MELHOR DO QUE O ESPERADO E DISPUTARÁ 2º TURNO CONTRA MILEI
Com 95% das urnas apuradas, peronista teve 36,58% dos votos e libertário recebeu 30,04% no 1º turno deste domingo (22.out); 2ª rodada será em 19 de novembro
O ministro argentino da Economia e candidato peronista Sergio Massa (Unión por la Patria) disputará o 2º turno das eleições presidenciais da Argentina contra o deputado libertário Javier Milei (La Libertad Avanza). Com 95,54% das urnas apuradas até às 23h deste domingo (22.out.2023), Massa tinha 36,58% dos votos e Milei, 30,04%, segundo dados da Direção Nacional Eleitoral do país.
Eis o resultado parcial:
- Sergio Massa (Unión por la Pátria), de esquerda: 36,58%;
- Javier Milei (La Libertad Avanza), de direita: 30,04%;
- Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio), de direita: 23,85%;
- Juan Schiaretti (Hacemos por Nuestro País), de esquerda: 6,82%;
- Myriam Bregman (Frente de Izquierda), de esquerda: 2,69%.
Cerca de 35,8 milhões de eleitores argentinos, sendo 449 mil no exterior, estavam aptos a ir às urnas para escolher quem substituirá o atual presidente Alberto Fernández. Apesar do voto ser obrigatório no país, a participação dos eleitores argentinos foi de 77,65% percentual. Para ser eleito presidente em 1º turno, era necessário conquistar ao menos 45% dos votos válidos –excluídos brancos e nulos– ou 40% com uma diferença de 10 p.p. sobre o 2º colocado.
Com isso, Milei e Massa se enfrentarão no 2º turno em 19 de novembro. Nesse pleito, será eleito o candidato com o maior número de votos. Leia o perfil dos candidatos mais abaixo.
Pesquisas de intenção de voto divulgadas até 14 de outubro, data-limite estabelecida pela lei eleitoral argentina, indicavam uma votação mais acanhada para Massa no 1º turno. Em levantamento da CB Consultora realizado de 9 a 11 de outubro com 4.069 eleitores, o peronista tinha 29,1% das intenções de voto, enquanto Milei registrava 29,9%, situação de empate técnico na margem de erro de 1,5 ponto percentual da pesquisa.
Já em levantamento da Atlat Intel conduzido de 10 a 13 de outubro, Massa tinha 30,9% dos votos ante 26,5% do libertário. A sondagem foi realizada com 5.702 eleitores e teve margem de erro de 1,1 p.p. Leia sobre as pesquisas eleitorais argentinas nesta reportagem.
Veja como foi o dia eleitoral na Argentina:
A Argentina é 2ª maior economia da América do Sul e a 22ª no mundo, com o PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 632,77 bilhões, segundo dados de 2022 do Banco Mundial. O país é ainda o 3º maior parceiro comercial dos brasileiros. O Brasil exportou US$ 15,34 bilhões e importou US$ 13,10 bilhões do país vizinho no ano passado. O saldo foi de US$ 2,24 bilhões.
QUEM É JAVIER MILEI
Há cerca de 2 anos, Javier Milei, que completou 53 anos neste domingo (22.out), não era uma personalidade política na Argentina. Nascido em 22 de outubro de 1970 em Buenos Aires, o economista formado pela Universidade de Belgrano atuava como professor na instituição de ensino superior.
Ele é filho de uma dona de casa e de um motorista de ônibus que se tornou empresário de transportes. Costuma dizer que, na infância, foi goleiro do Chacaritas Juniors, um clube de futebol argentino. Depois de obter sua graduação em economia, Milei fez duas pós-graduações na área, cursadas no Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social e na Universidade Torcuato di Tella.
O argentino trabalhou em consultorias de prestígio, como a de Miguel Broda, um dos mais conhecidos e respeitados economistas da Argentina. Também atuou como economista sênior do HSBC Bank na Argentina e como assessor econômico do militar e ex-deputado Antonio Domingo Bussi, acusado de crimes “contra a humanidade” cometidos quando foi governador de Tucumán.
O economista também integra o B20 (Business 20), grupo de diálogo relacionado ao G20 para o setor empresarial, e o Fórum Econômico Mundial.
Milei se diz discípulo da Escola Austríaca, linha do liberalismo econômico difundida a partir do século 19. É autor de 8 livros e não deixa dúvidas sobre sua ortodoxia. Escreveu “Desvendando a mentira keynesiana: Keynes, Friedman e o triunfo da Escola Austríaca”, com prefácio do ex-ministro de Economia Ricardo López Murphy.
O argentino, porém, foi acusado de plágio em seus livros “Pandenomics” e “El camino del libertario”, no prólogo do livro “4000 años de controles de precios y salarios” e em artigos publicados no jornais El Cronista e Infobae.
Foi em 2021 que Milei ganhou destaque na cena política argentina depois que ele e seus aliados do La Libertad Avanza (A Liberdade Avança, em português) conquistaram 5 cadeiras da Câmara nas eleições legislativas. Na cidade de Buenos Aires, a coalizão recebeu 310 mil votos (ou 17% do total), terminando a eleição em 3º lugar. Na época, o argentino já declarava ter pretensão de eleger-se presidente.
A partir disso, a popularidade do economista começou a crescer ainda mais com suas participações em programas de TV e rádio, nos quais Milei apresentou um discurso sobre como os políticos da Argentina são “ratos” que formam uma “casta parasita”. Ele passou a se apresentar como alguém distante do sistema político tradicional e ganhou visibilidades nas redes sociais. Ele também diz ser “anarcocapitalista” e “libertário”.
Os apoiadores de Milei, na época que ele foi eleito deputado e nas atuais eleições, fazem parte de uma classe argentina insatisfeita com a duradoura instabilidade econômica no país (a Argentina registrou inflação recorde, juros altos e tem quase metade da população na linha da pobreza). O discurso altamente inflamado do economista contra tudo e todos e suas propostas conquistou eleitores cansados dos problemas econômicos que se arrastam há anos.
Reprodução/Facebook – 25.set.2023
Na imagem, Javier Milei segura uma serra elétrica durante evento de campanha realizado em setembro de 2023; o objeto representa os cortes que o político de direita quer fazer no Estado argentino
Milei foi crescendo nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais argentinas e acabou vencendo as prévias de agosto que determinou os 5 candidatos que disputariam o 1º turno. Ele recebeu 30,04% dos votos.
Durante um evento realizado em um hotel de Buenos Aires, o argentino comemorou o resultado das primárias e dedicou sua vitória a Conan, Murray, Milton, Robert e Lucas: seus 5 cachorros da raça Mastim. Os animais de estimação do economista chamam atenção por serem cães clonados de um pet do argentino, também chamado de Conan, que morreu em 2018.
O argentino, que não é casado e nem tem filhos, afirma que tanto seu 1º animal quanto os atuais são “sua vida”. Ele considera Conan (o clone) como um filho e os outros 4 como netos.
Segundo reportagem do New York Times, Milei contratou a empresa norte-americana PerPETuate para a clonagem. O 1º contato foi realizado em 2014 e, por US$ 1.200, o argentino enviou uma amostra do tecido de Conan. Depois da morte do animal em 2018, o economista contatou a empresa novamente, afirmando estar disposto a pagar US$ 50 mil. O valor era o custo de um procedimento que garantiria pelo menos um clone, mas o procedimento resultou em 5.
Dentre eles, os 4 cachorros (Murray, Milton, Robert e Lucas) foram batizados em homenagem a 3 economistas norte-americanos conservadores: Murray Rothbard, Milton Friedman e Robert Lucas.
O representante da coalizão La Libertad Avanza tem um discurso libertário contra a esquerda. Disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalha para minar sua candidatura.
Milei é apoiado por Jair Bolsonaro (PL) –que prometeu ir à posse do candidato caso ele seja eleito. Ele foi comparado com o ex-presidente brasileiro diversas vezes, mas criticou a prática, afirmando que as correlações são “maliciosas” e feitas por quem faz uma política “suja”. O argentino também recebeu uma carta de apoio de 69 deputados federais brasileiros.
Reprodução/X – 22.out.2023
O candidato de direita Javier Milei votando no 1º turno das eleições argentinas em Almagro, em Buenos Aires; ele completou 53 anos neste domingo (22.out.2023)
As principais propostas do candidato são:
- economia: fechar o Banco Central e dolarizar a economia argentina. Estimular a concorrência monetária no país. Criar um plano econômico que possibilite “um forte corte nos gastos públicos” e “eliminar despesas improdutivas do Estado”.
- segurança: reformular a legislação penitenciária da Argentina, despolitizar as Forças Armadas e construir mais prisões em parceria com empresas privadas. Desregulamentar o mercado de armas e o porte para uso pessoal da população. Criar uma base nacional de dados ligados às câmeras de segurança com identificação facial.
- educação: estabelecer um sistema de voucher para universidades. Extinguir o Ministério da Educação. Aumentar a competitividade no mercado universitário. Reformar o sistema curricular de estudos com base nos profissionais que o país precisa, como engenheiros e cientistas da computação.
- trabalho: implementar uma nova legislação trabalhista, sendo o fim das indenizações por demissão sem justa causa a principal mudança. Estabelecer um sistema de seguro-desemprego. Reduzir os impostos pagos por empregadores. Diminuir os impostos sobre os salários dos trabalhadores.
Eis a íntegra do plano de governo de Javier Milei (PDF – 696 kB, em espanhol).
QUEM É SERGIO MASSA
Ao contrário de Milei, Sergio Massa, 51 anos, é uma personalidade da política tradicional da Argentina. Nascido em 28 de abril de 1972 na cidade de San Martín, na província de Buenos Aires, o argentino é filho de uma dona de casa e um empresário do setor de construção. Atualmente, é casado com Malena Galmarini, com quem tem 2 filhos: Tomás e Milagros.
Formado em direito pela Universidade de Belgrano, Massa iniciou sua trajetória na política nos anos de 1990 na Ucede (União do Centro Democrático), um partido político liberal de centro-direta que, durante a presidência de Carlos Menem, alinhou-se ao peronismo. Em 1999, o advogado foi eleito deputado provincial de Buenos Aires.
Três anos depois, em 2002, Massa foi indicado pelo presidente argentino, Eduardo Duhalde, para comandar a Anses (Administração Nacional de Segurança Social). Em 2005, durante o governo do ex-presidente Néstor Kirchner, o argentino foi eleito pela 1ª vez para deputado nacional, mas renunciou ao cargo para continuar dirigindo a Anses. Ele ficou na função até 2007.
Foi nesse período que Massa aderiu ao kirchnerismo –ideologia política de esquerda relacionada ao ex-presidente Néstor Kirchner e a Cristina Kirchner, atual vice-presidente da Argentina.
Adepto ao movimento político, o argentino foi eleito, em 2007, prefeito da cidade de Tigre, na província de Buenos Aires, mas pediu licença do cargo 1 ano depois para assumir a chefia do gabinete da então presidente Cristina Kirchner. Ele ficou no cargo por cerca de 1 ano. Depois desse período, Massa retornou à prefeitura de Tigre e foi reeleito em 2011.
A partir disso, Massa foi se distanciando do kirchnerismo. O rompimento oficial com Cristina se deu em 2013, quando o argentino fundou o partido Frente Renovador e foi eleito deputado. Dois anos depois, em 2015, o advogado concorreu à Presidência argentina e chegou a afirmar que sua eventual vitória encerraria a era kirchnerista. Massa, no entanto, ficou em 3º lugar no pleito.
Foi nas eleições presidenciais de 2019 que o argentino voltou a ser adepto ao kirchnerismo e se aproximou do peronismo. Ele desistiu de concorrer a Casa Rosada e decidiu integrar a coalizão peronista Frente de Todos, liderada pelo atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, e por Cristina Kirchner. Massa foi eleito deputado na época, enquanto Fernández e Kirchner venceram o pleito.
Em 3 agosto de 2022, Massa deixou o cargo de deputado e se tornou o 3º ministro da Economia da gestão de Fernández. Ele passou a comandar o órgão depois que o presidente decidiu unificar os ministérios da Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pesca em uma tentativa de centralizar as ações para solucionar a crise econômica do país.
Nas eleições presidenciais deste ano, o advogado teve apoio de Fernández e Kirchner nas primárias argentinas, se tornando o candidato peronista da disputa. Mas, com a piora da economia argentina nos últimos 4 anos e a perda de popularidade do governo peronista, Massa tenta se afastar da gestão do atual presidente.
“Meu governo será diferente deste”, afirmou o argentino na 5ª feira (19.out), durante evento que encerrou sua campanha eleitoral.
Reprodução/X – 22.out.2023
O ministro da Economia, Sergio Massa, votando neste domingo (22.out) no 1º turno das eleições presidenciais da Argentina de 2023 na cidade de Tigre
As principais propostas do candidato são:
- economia: renegociar dívidas, principalmente com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Criar uma mesa de negociação de preços e salários a fim de conter a inflação. Ter acordos sobre áreas econômicas prioritárias, como produção, tecnologia e geração de empregos. Implementar um programa macroeconômico visando a geração de excedente de moeda estrangeira.
- segurança: criar uma unidade policial especializada na repressão ao tráfico de drogas. Implementar sistemas de monitoramento por câmeras para prevenir crimes.
- educação: aumentar o investimento na educação. Implementar disciplinas obrigatórias de programação e robóticas para alunos do ensino secundário. Fortalecer e a recriar as bases institucionais para a geração e coordenação das políticas educacionais nacionais.
- trabalho: estabelecer uma lei que garanta o acesso ao 1º emprego. Incentivar a formação profissional. Oferecer incentivos fiscais às empresas que criam oportunidades de emprego para jovens ainda não inseridos no mercado de trabalho. Lançar um programa de capacitação e emprego destinado às mulheres que foram vítimas de violência de gênero. Criar projetos de obras públicas comunitárias para criar postos de trabalho.
O programa de governo de Massa está detalhado no site oficial do partido