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‘MACACOS’: ESPETÁCULO CONTA A HISTÓRIA DE MENINO MORTO PELA PM NA PORTA DE CASA E A LUTA DE UMA MÃE POR JUSTIÇA

Caso aconteceu no dia 2 de abril de 2015, quando Eduardo de Jesus levou um tiro na cabeça no Complexo do Alemão, no Rio. Depois de 8 anos, o caso foi reaberto pelo Ministério Público.

Terezinha de Jesus perdeu o filho em 2015, morto por policiais no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O tempo passou e o processo criminal foi extinto. Ninguém foi condenado.

Essa é uma das histórias de racismo contadas em uma peça de teatro premiada. E foi com a ajuda da arte que Terezinha conseguiu reabrir as investigações do caso em busca de justiça para o filho.

No dia 2 de abril de 2015, Eduardo de Jesus levou um tiro na cabeça. Ele estava perto de completar 10 anos e brincava na porta de casa.

“Meu filho Eduardo era uma criança muito amável. Ele era uma criança obediente. Ele era um bom menino na escola, ele só tirava notas boas e eu sinto muita saudade do meu filho”, relata Terezinha.

O tiro que matou o menino partiu da arma de um PM, mas as investigações concluíram, na época, que os policiais agiram em legítima defesa, já que, segundo eles, acontecia um confronto com traficantes naquele dia. Na Justiça, o processo foi extinto. Terezinha nunca acreditou nessa versão.

A mãe, há 7 anos, aparece nos palcos de teatros Brasil afora contando sobre sua luta por justiça ao final do espetáculo “Macacos”, criado e protagonizado por Clayton Nascimento.

A peça e o ator

O cenário de “Macacos” é composto por um palco vazio, poucas luzes. Em cena, um único ator. Com dois figurinos, uma bermuda e a pele preta, que tem muito a dizer em três horas de monólogo.

“Macacos é um espetáculo que fala sobre a história da nossa nação, a história do nosso povo, especialmente a saga que o povo preto tem durante os séculos todos desse Brasil que não vão aos livros didáticos e que é a história de gente, é uma história que se dedica ao nosso povo”, diz o ator.

Clayton Nascimento era estudante de teatro na USP quando começou a contar a história de Terezinha nos palcos. De lá para cá, ganhou 16 prêmios com a peça “Macacos” e se tornou o brasileiro mais jovem a ganhar um prêmio Shell.

Agora, o ator faz parte do elenco de Fuzuê, a novela das 7, onde interpreta Caíto, um jovem apaixonado pelas novelas brasileiras.

“Eu só era um ator dentro da universidade compondo. Sempre gostei muito de estudar e, quando a gente estuda artes dramáticas, a gente aprende que a interpretação precisa estar a favor do povo, porque quando você é uma artista, você tem um dever histórico. E eu sinto que talvez eu tenha conseguido isso”, afirma o ator.

Reabertura do caso após 8 anos

O monólogo que conta o drama de Therezinha e o filho Eduardo impactou tanto o advogado João Pedro Accioly, a ponto de ele subir ao palco antes da cortina fechar.

“Eu acho que, num lapso emocional, eu invadi o palco e fui perguntar se ela tinha um advogado para tentar resolver um caso que se arrastava por mais de 8 anos sem nenhuma resposta do estado do Rio de Janeiro”, diz.

O advogado descobriu que havia erros no inquérito e no processo e fez uma nova petição, apresentando também novas provas coletadas pela mãe do garoto.

E depois de 8 anos, o caso foi reaberto pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

“Nós esperamos que eles sejam responsabilizados, não só para reparar a agressão, a injustiça que eles promoveram, mas para também mandar um recado muito claro de que as vidas, todas elas, importam e que o homicídio deve ser punido, independentemente do local que ocorra, independentemente de quem seja a vítima, se é pobre, se é rica, se é branca, se é preta”, completa.

O que diz a Polícia Militar do Rio

A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que o caso foi apurado pela corregedoria e enviado à Justiça Militar em 2019. A nota enviada pela PM diz ainda que os agentes envolvidos no caso denunciado por Terezinha de Jesus seguem no serviço militar sem qualquer impedimento jurídico.

Por Fantástico

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