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 ITAIPU AMPLIA LEQUE E MIRA NOVAS FORMAS DE PRODUZIR ENERGIA LIMPA

Hidrelétrica investe em projetos como combustível sustentável de aviação e hidrogênio verde para ter mais fontes de receita

Com 40 anos de operação completados em 17 de maio, a gigante usina de Itaipu vislumbra uma nova fase nos próximos anos. De olho em oportunidades da transição energética, a estatal quer ampliar seu leque e deixar de gerar só energia hidrelétrica, produzindo novos produtos de energia que devem ser uma alternativa de receita para a Itaipu Binacional.

Na carteira de projetos de P&D (pesquisa e desenvolvimento) da estatal estão a produção de SAF (combustível sustentável de aviação, na sigla em inglês), investimentos em hidrogênio verde, energia solar e sistemas offgrid, com o armazenamento de energia elétrica em baterias. receba alertas grátis do Poder360

Os projetos já estavam no radar de Itaipu nos últimos anos, mas foram intensificados no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente tem cobrado investimentos e iniciativas para transição energética, sobretudo de estatais como Petrobras e Itaipu. 

Os investimentos, por enquanto, não têm escala comercial. São projetos pilotos, tocados pelo Parque Tecnológico de Itaipu, uma fundação mantida pela usina. Mas o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, afirma que o objetivo é testar novas possibilidades e, a partir da viabilidade em se ganhar escala, rentabilizar a usina.

“O parque tecnológico é um braço de Itaipu, que inicialmente era para atender as necessidades da empresa, mas hoje é um grande centro de pesquisa. Lá é feita a pesquisa para o desenvolvimento desses novos investimentos. E qual a vantagem? É público. Tudo isso vai para o país. O que a gente desenvolve não é para vender, mas para usar para o benefício da sociedade”, afirma.

Uma das novas iniciativas é o SAF, uma aposta global para descarbonizar a aviação. A planta piloto foi erguida na área da usina em Foz do Iguaçu (PR) com investimento de R$ 9 milhões e deve ser inaugurada em 17 de junho. É fruto de uma parceria com a CIBiogás e a GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional).

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Itaipu investiu em usina de biogás através da CIBiogás, que inclui mini termelétrica que gera energia e injeta na rede do Paraná; acima, a minicentral termelétrica de biogás

A unidade será uma espécie de biorrefinaria experimental. Combinará biogás e hidrogênio verde para obter o SAF. As duas matérias-primas já são produzidas em projetos de Itaipu. A usina mantém, com a CIBiogás, uma planta de produção de biogás localizada em Toledo (PR). Também conta com uma unidade de produção de hidrogênio verde, existente há 10 anos no Parque Tecnológico de Itaipu.

O hidrogênio verde, quando misturado ao biogás, forma o biosyncrude. É um combustível análogo ao petróleo em algumas características. Com o refino deste produto, é possível obter o SAF. A planta terá capacidade de produzir 8 kg de biosyncrude, sendo que 10% do total virará SAF depois do refino.

A planta experimental de hidrogênio sustentável de Itaipu também será ampliada. Receberá um investimento de R$ 25 milhões até 2025, que inclui a construção de uma espécie de posto para abastecimento de veículos pesados com hidrogênio, como caminhões com célula combustível, que transformarão o hidrogênio em energia no motor. É uma alternativa mais viável que a eletrificação por baterias.

Parte desse investimento também será destinada a pesquisas para oferta de hidrogênio em pó. Um dos maiores gargalos atuais para o desenvolvimento da cadeia é a logística de transporte. A ideia em estudo é criar uma solução industrial para reduzir quimicamente o hidrogênio a uma substância sólida e mais compacta, que poderia ser fornecida a outras empresas.

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Planta de hidrogênio verde de Itaipu funciona há mais de 10 anos e receberá investimento de R4 25 milhões até 2025

“O hidrogênio verde é investimento que temos que não é de hoje e que já tem mais de 10 anos de pesquisa no nosso parque tecnológico. Outra iniciativa que podemos citar é o armazenamento de energia elétrica em baterias. Tudo isso ajudará a criar alternativas de renda”, afirmou Enio Verri.

O chamado sistema offgrid, com integração de fontes intermitentes como painéis solares a baterias, já está sendo implementado por Itaipu em 2 projetos. O 1º, na comunidade indígena Baniwa (AM), que antes do sistema não tinha fornecimento de energia. O 2º levará energia limpa para a base da Marinha na Ilha de Trindade (ES), onde o fornecimento atualmente é feito por geradores a diesel.

A ideia, a partir desses experimentos iniciais desenvolvidos pelo Parque Tecnológico de Itaipu, é desenvolver um modelo mais barato economicamente para atender sistemas isolados e pequenos, onde não é viável chegar com linhas de transmissão de energia. Dando certo, esse modelo irá para o mercado e Itaipu ganhará royalties pela criação.

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Painéis solares foram instalados na comunidade indígena Baniwa, no Amazonas, acoplados de baterias para garantir fornecimento mesmo durante a noite

“São exatamente projetos que poderão ser uma nova fonte de renda no futuro”, explica Enio Verri, que cita outro plano: “Nós estamos fazendo uma experiência, junto do Paraguai, para usar o fio d’água (reservatório da usina) para colocar placa solar. O que não nos falta é fio d’água”. 

Se a experiência der certo, Enio indica para a possibilidade de Itaipu ter uma grande usina solar flutuante no seu reservatório, que poderia incrementar em até 20% a capacidade de geração da hidrelétrica.

“Vamos começar a 1ª experiência ainda neste ano, um protótipo, onde nós vamos colocar as placas solares em cima da água, e já tem tecnologia para isso. Percebendo que isso dá certo, e temos certeza que dá, vamos ampliar isso barbaramente. Então nós vamos ter, não com a mesma capacidade de produção, mas ter 20% da energia de Itaipu produzida por fonte solar”, afirma.

AMPLIAÇÃO DA VIDA ÚTIL DA USINA

Paralelo aos investimentos em novas fontes de energia, Itaipu também se prepara para ampliar a vida útil da usina. Anunciadas em 2022, as obras de modernização tecnológica de toda a hidrelétrica já foram contratadas e iniciarão em 2026. O investimento é de cerca de R$ 5 bilhões. 

De acordo com Renato Sacramento, diretor técnico da usina, serão trocados controles, redes de dados, cabos e sistemas de proteção. Ele explica que essas peças estão lá desde a construção da usina, mas ficaram defasadas pelas novas tecnologias e não são mais encontradas no mercado para reposição.

Os 20 geradores da hidrelétrica, com potência instalada de 700 MW cada um, passarão por adequações até 2036. Dois serão paralisados a cada ano, sendo 1 por semestre, para não impactar a geração. Os grandes equipamentos, como turbinas, geradores e comportas não serão trocados. 

Sacramento explica que o investimento é necessário para ampliar a vida útil da usina, que tem ganhado um novo papel na matriz energética por causa da alta inserção das fontes intermitentes. Quando o sol que produz a energia solar ou o vento que gira a turbina eólica param, as hidrelétricas e as térmicas são as fontes que seguram o sistema e garantem o fornecimento.

Ele citou o exemplo do apagão registrado em 15 de agosto de 2023. Uma falha no sistema de transmissão provocada por problemas em equipamentos de tensão de geradores eólicos e solares deixou 25 Estados e o Distrito Federal sem energia. Naquele dia, até a hora do apagão, Itaipu gerava 6 GW para o sistema brasileiro. Em poucos minutos ampliou a produção e atingiu 8 GW, garantindo a retomada rápida da eletricidade nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.


Por Geraldo Campos Jr – Poder 360

O repórter Geraldo Campos Jr. viajou a convite da Itaipu Binacional.

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