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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: QUAIS COMPETÊNCIAS SÃO ESPERADAS PARA PROFESSORES E ESTUDANTES

Inovações em Educação – Evento da Unesco mostra quais são as novas camadas necessárias para a formação de professores e para o currículo de escolas, de modo a acompanhar o avanço da tecnologia e favorecer a aprendizagem

Desde que a inteligência artificial ganhou as manchetes de jornais e despertou o interesse de estudantes e educadores, definir e compreender quais são as habilidades e competências necessárias ao uso crítico dessas ferramentas é algo que está na agenda do dia tanto da gestão escolar quanto das famílias. 

A adoção de inteligência artificial integrada à educação traz também a necessidade de repensar o papel dos educadores, como pontua Rita Bissoonauth, diretora da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em Addis Ababa, na Etiópia. Ela mediou o painel “Competências em Inteligência Artificial para professores e estudantes” na última quarta-feira, 6, durante a Digital Learning Week (Semana de Aprendizagem Digital), evento promovido pela instituição em sua sede em Paris, na França.

Apesar de ser um tema em alta nos últimos meses, a inteligência artificial vem sendo pesquisada e discutida há muito tempo. Fengchun Miao, chefe do departamento de tecnologia e inteligência artificial na Unesco, compartilhou que a organização tem trabalhado na construção de uma matriz de competências para professores e, principalmente, para estudantes.

Mais do que consumidores

Fengchun destacou que preparar os professores para usar corretamente as ferramentas de inteligência artificial é um dos principais pilares quando se trata desse tema. “Acreditamos que os professores devem desafiar a IA, os benefícios e riscos, e não serem apenas consumidores passivos dela”, disse.

O conselho para um uso mais ativo dessas ferramentas vale tanto para professores, quanto para estudantes. Ao longo do painel, diferentes especialistas destacaram a necessidade de tornar os estudantes produtores de conhecimento, saberem como comparar e identificar a origem das informações em lugar de simplesmente aceitar o que as ferramentas entregam, seja na forma de texto, imagem ou vídeo.

Na redefinição do papel dos educadores neste contexto, Fengchun afirma que os professores também devem ser formados para atuar como guardiões da ética, não permitindo que estudantes sejam expostos a riscos e garantindo segurança aos dados pessoais da turma.

Para tornar mais concretas essas ideias, o painel contou ainda com a participação do brasileiro Pedro Philippi Araújo, que estuda ciências da computação na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Em um projeto de pesquisa de iniciação científica em cooperação com alunos de graduação e pós-graduação, ele desenvolveu o aplicativo “XôDengue“.

O app foi criado com base na plataforma App Inventor e classifica larvas a partir de fotos capturadas pela câmera do celular. A partir da classificação encontrada, o usuário pode tomar medidas de prevenção. A acurácia total é de 95%.

Investimento em formação de professores

“Queremos que os professores usem a inteligência artificial para seu desenvolvimento profissional”, afirmou. O educador ressaltou que há uma preocupação para que os professores entendam o propósito para o uso da inteligência artificial. “Não se trata de transformar os educadores em engenheiros de comando”, disse. Isso porque, diferentemente dos sites de busca comuns, as ferramentas de inteligência artificial generativa podem criar textos, resolver problemas matemáticos ou mesmo vídeos consistentes a partir de uma pergunta do usuário.

A fala de Fengchun teve um contraponto por parte Antonia Wullf, coordenadora na Education International, a federação mundial dos sindicatos de professores trouxe questionamentos sobre o processo de adoção de tais recursos em escolas. Ela defendeu que ao longo desse processo de garantia de integridade e de proteção de privacidade de estudantes, professores não podem ser únicos responsáveis por lidar com os vieses de IA.

Kelly Shiohira, especialista na JET Education Services, um centro de pesquisas e de consultoria educacional localizado na África do Sul, destacou que criar um referencial é uma tarefa bastante complexa, dada a diversidade de contextos e de necessidades do uso de IA na educação. Durante o painel, ela e outros especialistas apresentaram esboços de referenciais a serem seguidos para alcançar competências necessárias no uso de inteligência artificial.

Entre os principais destaques desses referenciais está o uso centrado em valores humanos, que invistam na reflexão, no pensamento crítico e na ética. Com isso, os especialistas acreditam que estudantes e professores poderão se tornar criadores conscientes de seus próprios usos de IA, expandindo a atuação para diversas áreas da vida, conquistando novas habilidades socioemocionais e promovendo justiça social nas comunidades onde vivem.

Kelly, ao lado de Natalie Lao, também especialista da Unesco, apresentou uma proposta de referencial para o desenvolvimento de competências em IA para estudantes que vão desde habilidades a compreensão do que é inteligência artificial em si, até o desenvolvimento de projetos apoiados em resolução de problemas.

“Particularmente, nós acreditamos que as competências relacionadas à reflexão e avaliação crítica são fundamentais”, disse Natalie. Assim como no caso de professores, a Unesco adota um discurso cauteloso ao falar de estudantes. Para as especialistas, o propósito não é tornar todos os adolescentes verdadeiros experts em inteligência artificial, mas permitir que sejam capazes de usá-la em níveis mais precisos e menos passivos. A propósito, a entidade recomenda em um guia lançado no evento (veja os destaques) que escolas comecem a adotar tais ferramentas somente a partir de 13 anos.

As especialistas propõem que essas competências sejam desenvolvidas como em uma espécie de rubrica na qual o estudante inicie por entender a inteligência artificial no seu dia a dia, alie seus conhecimentos com aspectos humanos, construa conhecimento sólido a respeito do funcionamento das IAs e as utilize na resolução de problemas.

“Estamos também introduzindo o conceito de cidadania da IA, que fala da capacidade de desenvolver e defender posições sobre a ética da IA ​​e de defender, para si e para os outros, utilizações éticas e inclusivas da IA, centradas no ser humano, à medida que avançam através dos outros níveis dos aspectos desses referenciais”, disse.

Por Ruam Oliveira

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