DE GAZA A JERUSALÉM, CRISTÃOS PALESTINOS CELEBRAM PÁSCOA SOMBRIA
População se reúne em templo para celebração, mas do lado, povo vive sob ameaça de fome com combates constantes
Os palestinos celebraram uma Páscoa sombria em Jerusalém, enquanto em Gaza, a reduzida comunidade cristã organizou uma vigília, mesmo com a intensificação dos combates do lado de fora da igreja entre o Hamas e Israel.
Cerca de 100 pessoas se reuniram na noite de sábado (30), às escuras, na igreja da Sagrada Família na Cidade de Gaza para comemorar uma data importante do calendário católico, uma vigília que antecede a ressurreição de Jesus.
Mas, do lado de fora do templo, a população do norte deste território palestino vive sob a ameaça da fome. Além disso, perto da igreja fica o hospital Al Shifa, palco de intensos combates há duas semanas entre as tropas israelenses e integrantes do movimento islamista Hamas.
Em Jerusalém, a cerca de 80 km dali, o clima era tenso e poucos peregrinos visitavam os locais sagrados, que costumam ficar lotados de fiéis durante a Semana Santa.
Na missa de Páscoa, celebrada na basílica do Santo Sepulcro, onde, segundo a tradição, Jesus foi sepultado, havia muitos lugares vazios.
O Patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, presidiu a cerimônia, durante a qual os fiéis se ajoelharam e beijaram o mármore da pedra da unção. Ali, segundo o Evangelho, Jesus foi sepultado após morrer na cruz.
Vazia
Angelica, uma religiosa italiana de Perugia, relatou que se sentiu aflita ao ver a basílica quase vazia, apesar de ser o santuário mais sagrado do cristianismo.
“Éramos tão poucos. Estou com o coração partido. Mas somos como os primeiros cristãos, eles também eram poucos”, afirmou.
A freira afirmou que os peregrinos não compareceram devido “ao sofrimento e à morte” em Gaza.
Kasia, de 33 anos, e sua mãe, Ewa, de 60, viajaram de Varsóvia, na Polônia. Esta é sua décima peregrinação e as duas disseram que nunca viram o santuário tão tranquilo.
“Sem dúvida é por causa da guerra”, afirmou Kasia, que falou sob a condição de que só fosse identificada pelo primeiro nome. “É terrível, estão matando crianças” em Gaza, acrescentou.
George Habib é proprietário de uma loja na Cidade Velha de Jerusalém e, para ele, esta Semana Santa – que costuma ser um período de alta temporada – foi um “desastre”.
“Não há ninguém. É pior que a covid […] Parece que esta guerra nunca vai terminar”, disse.
O conflito entre Israel e Hamas em Gaza, território sitiado e afetado por grande escassez de água, alimentos e insumos, deixou praticamente destruído o território palestino, governado pelo Hamas desde 2007.
A guerra teve início em 7 de outubro, após um ataque de milicianos do Hamas em Israel que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados israelenses.
Em retaliação, Israel prometeu destruir o Hamas, que considera uma organização terrorista, assim como os Estados Unidos e a União Europeia, e sua ofensiva terrestre e aérea já deixou 32.782 mortos, segundo o balanço mais recente do movimento palestino. (AFP