DA PLANTAÇÃO À XÍCARA, PRODUÇÃO ESPECIAL IMPULSIONA A REGIÃO DO VALE DO CAFÉ
No mês dedicado ao café, produtores inovam com o turismo de experiência, repleto de aromas e histórias
O Vale do Café, no Sul Fluminense, renasceu. A região está experimentando uma retomada notável na indústria cafeeira, graças à reintrodução do café especial. A Fazenda Florença, em Conservatória, distrito de Valença, por exemplo, emerge como uma das líderes dessa revolução, reassumindo a tradição de produzir grãos de alta qualidade, que conquistam paladares e prêmios ao redor do mundo.
O segredo por trás do ressurgimento do café especial está na ajuda oferecida pelo Governo do Estado do Rio. Com o apoio contínuo, aliado ao empenho e paixão dos produtores locais, o renascimento do Vale do Café é um exemplo inspirador de como o investimento governamental pode resgatar um setor da indústria, preservando tradições e abrindo portas para um futuro promissor.
– Reconhecemos o potencial único do café especial e seu impacto positivo na economia regional. Por isso, estamos oferecendo incentivos e apoio técnico aos produtores locais, estimulando a adoção de práticas sustentáveis e promovendo a comercialização dos grãos no mercado nacional e internacional – destacou o governador Cláudio Castro.
O Rio de Janeiro produz hoje algo em torno de 300 mil sacas de café, provenientes de uma plantação de 11 mil hectares. Dessa produção, 80% está na região Noroeste, 19% na região Serrana e apenas 1% na região Sul do estado. Mas é nesse 1% que está o café campeão, que é o café especial da Fazenda Florença, vencedor do Concurso de Qualidade do Café realizado em 2019, no Palácio da Guanabara.
A Fazenda Florença tem 24 mil pés de café plantados e colhe por ano cerca de 3 toneladas de grãos especiais. A propriedade possui 110 hectares de extensão (1,1 milhão de metros quadrados aproximadamente) e 5 hectares de plantação (50 mil metros quadrados). Ela também é beneficiada pela APL, Arranjo Produtivo Local, incentivo do Governo do Estado, com o apoio das secretarias de Estado de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo.
– Nós fomos os maiores produtores do mundo no século XIX e, por inúmeros fatores, essa produção foi praticamente extinta. Estamos com esse projeto desde 2015, no qual adotamos cafés de excelente qualidade, que são chamados cafés especiais. Essa denominação não sou eu quem dou, é uma determinação internacional – comemora Paulo Roberto dos Santos, produtor, dono da Fazenda Florença há 24 anos, e vice-presidente da Ascarrj (Associação dos Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro). Paulo Roberto ainda ressalta a implantação do Arranjo Produtivo Local, que vem estimulando o retorno do plantio no Vale e já ajudou muitos produtores da região.
Nesse sentido, a Emater-Rio vem realizando, em todo o estado, eventos e capacitações que vão desde a produção de mudas até o produto final, que é o café empacotado. Graças a esse esforço, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro consegue medir em números, hoje, toda essa dedicação. Em 2022, houve um aumento de 137% no faturamento anual comparado ao ano de 2021. E o café do Rio já é reconhecido no cenário nacional.
– O meu papel aqui é apoiar os produtores que estão retomando essa produção no Vale do Café, no Sul Fluminense. Há muitas fazendas aqui. Tem a questão das fazendas históricas e da visitação. Antes, os visitantes não encontravam o café aqui na região. O foco do nosso trabalho é o de apoiar. Nós, como Governo do Estado, como Emater, orientamos esse produtor que quer chegar a esse café com a qualidade superior, nos plantios e em todos os manejos que precisam para que realmente esse café tenha uma nota alta, classificado como café especial – explica Ricardo Vieira da Silva, gerente técnico regional da Emater-RJ, responsável por 23 municípios do estado.
O café especial, devido às características únicas de sabor e aroma, tem ganhado cada vez mais espaço no mercado global. Com a reintrodução desse tipo de cultivo no Vale do Café, a região está se reposicionando como um importante polo produtor, capaz de competir com outras regiões tradicionalmente reconhecidas pela excelência dos seus grãos. A expectativa é que a produção do café especial aumente significativamente nos próximos anos, impulsionando a economia local e proporcionando mais oportunidades de trabalho e renda para os produtores e comunidades vizinhas.
História, natureza e degustação
Além de suas paisagens deslumbrantes e rica história, o Vale do Café também se destaca como um destino turístico que oferece uma experiência única: o turismo de experiência do café. As fazendas históricas da região estão abrindo suas portas para receber visitantes, compartilhando a história e o processo de produção do café, enquanto proporcionam a oportunidade de degustar o café fresco torrado na hora.
– A região do Vale do Café preserva estruturas importantes dessas fazendas históricas, além das antigas estações de trem, dos atrativos de natureza, aliado a uma rica gastronomia e o artesanato local, que juntos reforçam o potencial da região em atrair turistas. Não à toa, o Vale do Café figura entre as regiões mais procuradas em 2022 e ao longo deste ano, com seguidos recordes de ocupação hoteleira – destaca o secretário de Estado de Turismo do RJ, Gustavo Tutuca.
Entre as fazendas que estão liderando o movimento está a São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, também na Região Sul do estado, cujos cafezais estão sendo revitalizados para atender aos padrões rigorosos do café especial. Sob a gestão cuidadosa de seus proprietários, a fazenda está resgatando tradições centenárias e investindo em tecnologia avançada de colheita e processamento para garantir, no futuro, a excelência dos grãos.
– A Fazenda São Luiz da Boa Sorte é um sonho que está dando certo. Nós tivemos muitos desafios aqui que nós nem imaginávamos. Se o Governo do Estado der a mão, como nos deu aqui, acho até que nós fomos pioneiros nisso… Esse apoio é fundamental porque a vida do fazendeiro é muito complexa, você manter uma propriedade dessa é difícil. Aqui na fazenda nós começamos recuperando as janelas, o telhado, as portas, e depois de recuperar essas peças, tivemos que adaptá-las à casa – conta Liliana Rosa Lucas Rodriguez Martins da Rocha, jornalista e proprietária da Fazenda São Luiz da Boa Sorte.
A Fazenda São Luiz da Boa Sorte foi construída em 1835, no período áureo do ciclo do café, e chegou a ter 383 pessoas escravizadas. Hoje, aberta ao turismo de experiência, o turista embarca nessa jornada, sendo conduzido por um guia especializado, pela história e memória do ciclo cafeeiro. A fazenda, que tem o Museu do Café e o Memorial do Escravizado, possui 1,2 mil pés de café e gera em torno de 60 empregos diretos e indiretos, sendo 32 com carteira assinada.
A propriedade ainda adota práticas agrícolas sustentáveis, investindo em sistemas de irrigação eficientes e preservação ambiental. Desde que a fazenda foi recuperada, já foram plantadas mais de 3 mil mudas de pau-brasil, espécies de Mata Atlântica e frutíferas. As mudas vêm do Inea e do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, por meio do projeto da Cedae: Replantando Vidas.
Com a introdução do turismo de experiência nas fazendas do Vale do Café, a região se reinventa como um destino turístico enriquecedor, oferecendo aos visitantes a oportunidade de mergulhar na história e sabores do café. Essa iniciativa promove o turismo sustentável, impulsiona a economia local e fortalece o orgulho das comunidades em sua herança cafeeira.
– Começamos a trabalhar nesse projeto para unir a atividade turística com o café porque aqui nós temos belas fazendas do século XIX, época do ciclo do café, os palacetes dos barões do café, e um museu do café. A gente tem hoje um turismo muito forte, que é o turismo rural, o turismo de experiência, onde o turista quer ver a plantação, a torra do café e a degustação. É um turismo que cresce a cada dia aqui no Vale do Café – ressaltou Wanderson Farias, assessor da Secretaria de Estado de Turismo e coordenador das ações do Turismo no Vale do Café.
Por: Redacão