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COM MENOS DOAÇÕES, DOUTORES DA ALEGRIA REDUZEM AÇÕES QUASE À METADE E CALCULAM DEIXAR DE ACOLHER 28 MIL CRIANÇAS EM TRATAMENTO

Organização afirma que contribuições caíram desde o final de 2023 e prepara campanha para sensibilizar doadores. Palhaços da instituição buscam humanizar atendimento aos pacientes.

A falta de recursos já começa a ameaçar o trabalho nos hospitais. — Foto: Divulgação

A falta de recursos já começa a ameaçar o trabalho nos hospitais. — Foto: Divulgação

A ONG Doutores da Alegria, que atua há mais de 30 anos em hospitais públicos do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, vem enfrentando problemas financeiros. A organização teve de cancelar 40% das atividades que estavam previstas para este ano por conta da queda no volume de doações. Com isso, 28 mil crianças poderão ser impactadas.

O cálculo leva em conta a média de internações em hospitais a que os “palhaços” deixarão de ir — o Jesus, em Vila Isabel, e o Getulinho, em Niterói.

De acordo com a direção da organização não governamental, o trabalho da instituição sobrevive de contribuições, e 70% da receita é obtida por meio de leis de incentivos fiscais, sendo a mais importante delas a Rouanet, em que empresas podem destinar até 4% do valor do Imposto de Renda como contribuição para um projeto cultural.

“O ano de 2024 tem sido bastante difícil, talvez a maior crise financeira que passamos nos nossos 33 anos de existência”, conta Luís Vieira da Rocha, diretor-presidente da ONG.

Seis hospitais do estado e do município recebem os palhaços do ‘Doutores da Alegria’ — Foto: Divulgação

Segundo Rocha, desde dezembro do ano passado, o grupo vem sentindo uma diminuição drástica nas doações realizadas via Rouanet. Sem aportes, o Doutores ficará sem dinheiro já a partir de dezembro.

O hospital que recebe as atividades não paga nada por este serviço, mas todos os profissionais são remunerados.

“Este ano encontramos uma dificuldade que foi o modo de apuração de lucro que deixou de ser anual para ser trimestral, e os depósitos para os trimestres não corresponderam ao que anteriormente recebíamos integralmente para o ano seguinte, o que provocou o cancelamento de atividades e redução de salários dos nossos profissionais. Precisamos chegar até dezembro e não temos recursos suficientes para isso. Estamos tentando, como no início da nossa trajetória, engajar a sociedade, que comprou a ideia de Doutores e esse trabalho estimulou outros grupos que hoje atuam dentro dos hospitais”, afirma o diretor-presidente.

Doutores da Alegria tem 33 anos — Foto: Divulgação

Doutores da Alegria tem 33 anos — Foto: Divulgação

A situação também se complicou, explica o presidente, porque a ONG esgotou suas reservas financeiras nos últimos anos após mudanças implementadas durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com a direção do projeto, por conta do fechamento do Ministério da Cultura, em 2019, a suspensão da aprovação de novos planos anuais [para a captação via lei Rouanet] tornou a ONG inviável.

O plano anual de 2024 previa a captação de R$ 12 milhões, e até o momento a instituição conseguiu R$ 4 milhões, um terço do valor estimado. A direção da instituição diz que até o final do ano, são necessários outros R$ 4 milhões para manter a organização funcionando, considerando os cortes de atividades já realizados.

Caso o cenário não se altere, Doutores terá que reduzir ainda mais atividades, o que poderá ter impacto também nos colaboradores e elenco para o próximo ano.

Outra medida foi a reduzir entre 20% a 30% o salário dos profissionais que atuam na associação no mês de setembro.

“Esperamos que em outubro, quando teremos finalizado o próximo trimestre, recursos entrem e possamos repor esses valores das remunerações até dezembro”, diz Rocha.

O plano anual de 2024 previa a captação de 12 milhões de reais, mas até agora só captaram R$ 4 milhões — Foto: Divulgação

Atendimento humanizado

A associação é contemplada pela legislação federal por envolver a atuação de atores profissionais que, caracterizados como palhaços, humanizam o atendimento de crianças em hospitais públicos.

De acordo com a ONG, só no primeiro semestre deste ano, cerca de 120 mil pessoas foram beneficiadas com as atividades de Doutores da Alegria que, além dos projetos realizados nos hospitais também atua em áreas que contam com o aporte das leis de incentivo à cultura, como a Escola Doutores da Alegria, que traz 2 sistemas de formação – um para o público em geral e um para artistas.

Dentro da escola, se destaca o Programa de Formação de Palhaço para Jovens, que oferece a pessoas em situação de vulnerabilidade social uma iniciação na carreira artística.

Segundo a ONG Doutores da Alegria, o Programa de Palhaços em Hospitais, coração da organização, já realizou mais de 2,5 milhões de intervenções junto a crianças hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de saúde.

Hospitais do RJ

No Rio de Janeiro, Doutores ainda conta com o projeto Plateias Hospitalares, que desenvolve a curadoria de uma programação artística permanente e gratuita, que inclui teatro, música, dança, circo e poesia em 6 hospitais do estado e do município, ampliando as relações entre arte e saúde.

Atualmente, a ONG atende pacientes internados no Hospital Municipal da Piedade, Instituto Nacional de Cardiologia, Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, Hospital Estadual da Mulher, Hospital Estadual Eduardo Rabello, Hospital estadual Azevedo Lima e Hospital Jesus.

Projeto busca humanizar atendimento nos hospitais públicos — Foto: Divulgação

Projeto busca humanizar atendimento nos hospitais públicos — Foto: Divulgação

Em Niterói, além do Plateias, Doutores atua no Hospital Getúlio Vargas Filho, o Getulinho, com os “Besteirologistas”, atores selecionados via edital, que acompanham a rotina hospitalar das crianças inspirando um atendimento humanizado.

De acordo com o presidente da associação, a atuação dos palhaços nos hospitais promove impactos positivos nos pacientes e na equipe de saúde.

“As crianças [internadas] se alimentam melhor, começam a brincar. A família, quando observa isso, fica mais confiante no tratamento e começa a entender que ela também está ali para ajudar a criança a ter aquilo que ela tinha normalmente no ambiente familiar”, afirma.

A ONG deve lançar em breve uma campanha para sensibilizar empresas e conseguir mais doações.

“Acho que é muito importante, sim, você falar em diversificação, em pulverização de projetos, mas também é importante se pensar na responsabilidade desse patrocínio a médio e longo prazo.”

Doações podem ser feitas no site doutoresdaalegria.org.br.

Projeto que leva alegria a enfermos pede ajuda — Foto: Divulgação

Por g1 Rio

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