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CENI X FILIPE LUÍS: POR QUE EX-JOGADORES ENCURTAM CAMINHO E COMEÇAM COMO TÉCNICOS MAIS CEDO DO QUE NO PASSADO

Rivais neste sábado em Bahia x Flamengo iniciaram como técnicos menos de um ano antes de pendurarem as chuteiras

Assim que o Flamengo anunciou Filipe Luís como substituto de Tite a dúvida tomou conta da torcida. “Ele pode assumir o cargo?”, “Pode ficar na área técnica?” foram algumas das questões levantadas. Natural, dado o fato de que, há menos de um ano, o agora treinador ainda jogava. Mas o movimento do ex-lateral está longe de ser exceção. Vai ao encontro de uma tendência do mercado internacional. E que tem um representante também do outro lado no jogo deste sábado, às 19h, contra o Bahia: Rogério Ceni.

Filipe Luís comandou o time principal do Flamengo sete meses após a estreia no sub-17 (seu primeiro trabalho como treinador). Já Ceni aceitou o convite para assumir o São Paulo, em 2016, menos de um ano após a aposentadoria e sem nunca ter tido uma experiência como técnico. Nesse intervalo, estudou e visitou clubes na Europa.

A trajetória dos dois — e também a de Alex, hoje no Antalyaspor-TUR, três anos após o início como técnico no sub-20 do São Paulo — contrasta com o caminho considerado tradicional: início na base ou como auxiliar, passagem de destaque por clubes menores para, aí sim, conquistar espaço num time de maior visibilidade. Foi este o percurso de nomes como Tite, Dorival Jr e Fernando Diniz.

— Tem pessoas que conseguem absorver o conhecimento e as funções mais rápido e outras num período maior. Vale lembrar que essa preparação é multifatorial. Um fator importante são as formações acadêmicas, as licenças e cursos. Outro é a própria experiência dentro do esporte. O Filipe Luís vive o ambiente profissionalmente há muitos anos. E ele veio se preparando para migrar para a função — analisa Israel Teoldo, professor do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa e consultor da CBF e da Conmebol.

Não que Filipe Luís e Ceni tenham sido os primeiros. A efetivação do ex-lateral reviveu nos flamenguistas a lembrança de Paulo César Carpegiani, que em 1981 assumiu o time dois meses depois de ter pendurado as chuteiras. Nesse período, foi auxiliar de Dino Sani. Acabou marcado como técnico campeão carioca, da Libertadores e mundial em 1981 e brasileiro em 1982. Apesar disso, sua trajetória não ditou tendência e seguiu como exceção no país.

Hoje, este movimento ganha força na Europa. Gigantes têm optado por ex-jogadores com pouca ou nenhuma experiência na função: Frank Lampard, em 2019, no Chelsea-ING; Andrea Pirlo, na Juventus-ITA, em 2020; e Xavi, em 2021, no Barcelona-ESP. Na atual temporada, o Bayern de Munique-ALE surpreendeu ao anunciar o ex-zagueiro belga Kompany, de 38 anos.

Dois fatores contribuem para isso. De um lado, dirigentes encontraram nos ex-atletas opções habituadas ao ambiente dos grandes clubes e de fácil aceitação pelas torcidas. Do outro, o cenário atual é marcado pela evolução do processo de formação e pelo auxílio da tecnologia tanto nas análises de jogo quanto na orientação aos jogadores.

— O processo de formação e de ciência evoluiu muito. Até a própria tecnologia que permite conhecer variáveis da performance está disponível hoje como não estava no passado. Isso permite ganhar alguns anos de vivência e de experiência para poder atuar em posições que requerem um alto grau de conhecimento, como é o caso do treinador. A teoria hoje está muito próxima da prática — completa Teoldo.

No caso de Ceni, a primeira experiência como treinador não teve vida longa. Acabou demitido seis meses depois de sua estreia pelo São Paulo, com um aproveitamento de menos de 50% dos pontos disputados e com o time na zona do rebaixamento. No entanto, não deixou que isso abalasse sua caminhada. Hoje, é visto como um dos principais treinadores brasileiros em atividade, já tendo conquistado um título da Série A (pelo próprio Flamengo, em 2020) e sendo um dos responsáveis pela estruturação do Fortaleza, que mudou de status nos últimos anos.

É cedo para apostar se Filipe Luís trilhará o mesmo caminho de seu adversário desta noite ou irá até superá-lo. Mas, com todo um futuro pela frente, ele se permite sonhar. Assim como a torcida do Flamengo.

— Por mais que, durante muitos anos, principalmente os últimos, eu já pensasse como treinador, conversasse com outros técnicos e ia visitá-los na Europa, não é a mesma coisa. Então esse passo pela base foi fundamental para conhecer, montar a metodologia de treino. E, pouco a pouco, fui vendo essa evolução, fui me sentindo melhor. Consegui um grupo muito forte na minha comissão que me ajuda muito e eu sei delegar muito bem nesse nesse sentido. A gente montou um método de trabalho para quando chegasse a oportunidade — disse Filipe durante sua apresentação.

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