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BRASIL TEM ‘DÍVIDA HISTÓRICA’ COM A ÁFRICA, DIZ LULA AO DEFENDER PARCERIAS E REFORMA NA GOVERNANÇA GLOBAL

Presidente discursou neste sábado (17) na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, onde também destacou que a resposta às mazelas atuais do mundo “não virá da extrema direita racista e xenófoba”. Lula também criticou Israel por suas ações em Gaza

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, em discurso neste sábado (17), a “extrema direita racista e xenófoba” mundial e defendeu ampliar as relações diplomáticas e comerciais do Brasil com o continente africano para que ambos cresçam “juntos”. A fala foi feita na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, onde Lula participou como convidado.

Ao defender a formação de uma aliança global contra a fome, que é uma prioridade do Brasil na presidência do G20 neste ano, e parcerias nas áreas de educação, saúde, ciência e tecnologia, o líder brasileiro afirmou que colaborará “para tornar a África independente na produção de alimentos e de energia limpa e renovável”. E destacou o interesse do Brasil em compartilhar o que possuiu diante da “divida histórica de 300 anos de escravidão”. “A única forma de pagar é com solidariedade e com muito amor”, afirmou.

“O Brasil sempre olhou o mundo sem enxergar o continente africano. O Brasil, durante muitos séculos, foi governado olhando para os Estados Unidos, para a Europa. E o Brasil não via nem a América do Sul, muito menos via o continente africano”, declarou. “(O Brasil não tem) todo o dinheiro e conhecimento científico e tecnológico”, mas quer “compartilhar o que possui com os países africanos. (…) Mais da metade dos 200 milhões de brasileiros se reconhecem como afrodescendentes”, garantiu Lula.

À platéia de lideranças, o petista também pediu apoio dos países da África para uma reforma do sistema de governança global. De acordo com ele, a “multipolaridade é um componente inexorável do século 21”. E, nesse sentido, o “Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises do planeta”. Em seguida, Lula acrescentou que a resposta às mazelas da “globalização neoliberal” “não virá da extrema direita racista e xenófoba”.

“O desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”, acrescentou. Formada por 55 países do continente, a União Africana passou a integrar de forma permanente o G20, que reúne as maiores economias do mundo, no ano passado, com apoio do Brasil. O convite para participação de Lula na cúpula da União Africana foi interpretado como um sinal de prestígio, já que na maior parte das vezes apenas os governantes africanos participam desse evento.

Durante sua fala, Lula foi bastante aplaudido, principalmente ao defender a agenda pró-Sul Global e cobrar que as nações ricas e instituições econômicas amenizassem os termos do pagamento das dívidas para possibilitar o desenvolvimento das nações. Ele lembrou, por exemplo, que cerca de 60 países, muitos deles na África, estão próximos da insolvência e destinam mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para a educação ou a saúde. O que reflete o caráter obsoleto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Críticas a Israel e ao Hamas

“Essas instituições não ajudam mais. Pelo contrário. Sufocam os países”. Para Lula, é preciso resgatar as melhores tradições humanísticas no mundo. Ao falar disso, o presidente voltou a criticar os ataques de Israel contra a Palestina, assim como as ações do Hamas contra civis israelenses. Desde os atentados do grupo terrorista, em 7 de outubro, o governo de Benjamin Netanyahu faz bombardeios diários no território palestino.

“Ser humanista implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população”, contestou.

O petista também frisou que a política e a diplomacia são as únicas formas de encerrar o outro conflito que mobiliza a comunidade internacional, a guerra entre Rússia e Ucrânia. Por fim, Lula defendeu a criação de uma estado Palestino livre e soberana, com representação plena na Organização das Nações Unidas (ONU). El cobrou ainda que a própria ONU tenha seu Conselho de Segurança redesenhado, com participação permanente de países da África e da América Latina. “Há dois anos a guerra na Ucrânia escancara a paralisia do Conselho. Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia”.

Encontro com premiê da Autoridade Palestina

Mais cedo, o líder brasileiro se encontrou com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, para discutir a situação de Gaza. Segundo interlocutores do governo à Folha de S. Paulo, o representante palestino afirmou ao brasileiro que a Autoridade Palestina não possui ligações com o grupo terrorista Hamas. Disse ainda que a situação em Gaza configura genocídio. “Se isso não é genocídio, não sei o que é”, teria afirmado Shtayyeh para Lula.

O premiê também teria agradecido ao presidente por suas intervenções em favor de um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Assim como o apoio do Brasil na denúncia da África do Sul à Corte Internacional de Justiça da ONU para apurar a acusação de que Israel comete genocídio em Gaza. Shtayyeh observou que a situação in loco é muito pior do que os números internacionais apontam. E que além dos 30 mil mortos palestinos, há ainda 9 mil desaparecidos sob os escombros de casas e prédios destruídos pelos ataques israelenses.

Lula também iria se encontrar com o secretário-geral da ONU, António Guterres. No entanto, o Guterres acabou cancelando a sua ida a Adis Abeba e todos os compromissos que teria no âmbito da cúpula. A participação do brasileiro na União Africana fez parte da agenda do presidente em sua segunda viagem oficial ao continente do seu terceiro mandato. Lula já passou pelo Egito antes de chegar à Etiópi, para fortalecer a relação do Brasil com o continente.

Por  RBA

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