BRASIL ESPERA QUE CHINA E OUTROS PAÍSES FLEXIBILIZEM BLOQUEIOS COMERCIAIS POR GRIPE AVIÁRIA
O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, enfrenta o impacto de seu primeiro surto de gripe aviária em uma granja comercial, localizada no estado do Rio Grande do Sul. A informação foi publicada pela Reuters nesta segunda-feira (19). Apesar do revés, autoridades do governo federal demonstram otimismo e acreditam que importantes mercados consumidores, como a China, possam seguir o exemplo de Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que optaram por restringir os embargos apenas ao estado afetado, em vez de suspender todas as importações do país.
“Como a demanda global está muito forte, é provável que haja alguma flexibilização em breve”, declarou Luís Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. “Estamos fazendo nossa parte para compartilhar rapidamente as informações, de modo que as suspensões não se prolonguem.”
O Brasil responde por mais de 35% das exportações mundiais de carne de frango. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o país fornece mais da metade das importações chinesas do produto, com os Estados Unidos suprindo a maior parte do restante. Com o agravamento do surto de gripe aviária nos EUA e as tensões comerciais entre Pequim e Washington, a disposição da China em ampliar suas compras junto aos norte-americanos diminuiu — atualmente, mais de 40 estados dos EUA estão impedidos de exportar aves para o mercado chinês.
Fávaro destacou a importância da contenção da doença ao Rio Grande do Sul para preservar a confiança internacional. “Se não houver evidência [de gripe aviária] em outras regiões do país, isso pode, de fato, desencadear uma onda de flexibilização, e esses países poderiam continuar comprando do Brasil, exceto da região do Rio Grande do Sul”, afirmou o ministro.
O estado sulista, terceiro maior produtor de carne de frango do Brasil, já havia suspendido as exportações à China em 2024 devido a um episódio isolado de Doença de Newcastle.
Além da China, outros importantes compradores da proteína brasileira, como União Europeia e Coreia do Sul, também impuseram restrições. Para o analista Renan Augusto Araújo, da S&P Global Commodity Insights, a evolução do surto será determinante para os impactos no setor. “Se o surto se espalhar, as exportações brasileiras podem cair de 10% a 20%, dependendo da rapidez no controle da doença e da reação dos mercados importadores”, avaliou.
Disputa com os EUA
O episódio também intensificou a disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos pelo fornecimento de carne de frango à China. Greg Tyler, presidente do USA Poultry and Egg Export Council, criticou o tratamento diferenciado dado aos dois países. “Se o Brasil ficar fora do mercado por 60 dias, a China vai precisar do produto”, disse. “Esperamos que isso, junto com as negociações comerciais em andamento, leve os chineses a voltarem a respeitar o acordo de regionalização.”
Tyler se referia ao pacto firmado em 2020 entre a China e o então presidente Donald Trump, no qual Pequim se comprometia a suspender os embargos por gripe aviária 90 dias após a erradicação do vírus em estados norte-americanos. No entanto, segundo o executivo, os prazos não vêm sendo respeitados. “Eles [os brasileiros] estão recebendo um tratamento melhor do que nós”, criticou.
Em meio ao cenário incerto, o governo brasileiro aposta na transparência na comunicação com os países parceiros e nas boas relações diplomáticas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping como trunfos para manter o Brasil como fornecedor confiável no mercado global de proteína animal.
Por Redação Brasil 247