BOLÍVIA DEVE ENCERRAR EXPORTAÇÕES DE GÁS PARA O BRASIL ATÉ 2030
Estudo indica que o país deve reduzir o volume exportado gradativamente e se tornar um importador de gás natural
De acordo com o estudo, a produção de gás da Bolívia deve sair dos atuais 1.400 milhões de pés cúbicos por dia (mmcfd) em 2022 para 400 milhões em 2030; na imagem, o presidente da Bolívia, Luis Arce
A Bolívia pode deixar de ser uma exportadora de gás natural para o Brasil e Argentina para ser uma importadora até 2030. Relatório da consultoria de energia inglesa Wood Mackenzie indica que a produção de gás boliviano diminuirá mais rápido do que o esperado. O motivo é o amadurecimento dos campos produtivos no país e a ausência de novas descobertas.
De acordo com o estudo, a produção de gás da Bolívia deve sair dos atuais 1.400 milhões de pés cúbicos por dia (mmcfd) em 2022 para 400 milhões em 2030. Hoje, o gás boliviano importado pelo Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil) representa cerca de 30% do consumo brasileiro. No passado, já representou mais da metade do gás ofertado no Brasil.
No ano passado, a estatal boliviana YPFB reduziu em cerca de 30% as exportações de gás para o Brasil para adequar o fornecimento à produção. “A produção na Bolívia está em declínio constante desde 2015, com um ligeiro aumento em 2021”, disse Amanda Bandeira, analista de Upstream da América Latina da Wood Mackenzie.
“Com poucas novas descobertas e pouca oferta nos campos maduros, a produção começará a cair em um ritmo muito mais rápido. Atualmente, a demanda doméstica consome cerca de 30% da oferta total. Até 2030, a demanda doméstica provavelmente superará essa oferta e podemos ver a Bolívia se tornar um importador”, afirmou a analista.
Segundo o relatório, será necessário um impulso na exploração, com novas descobertas relevantes na Bolívia para reverter a tendência de declínio acentuado na produção. No entanto, os esforços até o momento não foram bem sucedidos.
O declínio projetado terá um efeito dramático no mercado de exportação. O gás natural é um setor crucial para a economia boliviana, tendo as exportações para Brasil e Argentina um papel fundamental. As exportações para os 2 países representam mais de 70% das vendas totais de gás e 20% das exportações totais.
Henrique Anjos, analista de Gás e Energia para América Latina da Wood Mackenzie, afirmou ainda que a interrupção das exportações tende a afetar mais o Brasil. “A Argentina expandiu sua produção, reduzindo a importância do gás boliviano, mas o Brasil ainda requer muitas importações”, disse.
Apesar do Brasil ser um grande produtor de gás natural por causa do pré-sal, metade da produção é devolvida aos poços pela Petrobras. A reinjeção é feita, na maioria dos casos, para aumentar a extração de óleo, que é mais valiosa comercialmente. A estatal brasileira também afirma que limitações pontuais e falta de mercado justificam o índice de reinjeção.
Por Luis Arce – Poder360