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ATOS NO RIO DE JANEIRO LEMBRAM 30 ANOS DA CHACINA DA CANDELÁRIA

Ativistas pedem que assassinatos não se repitam

A Avenida Presidente Vargas é uma das mais movimentadas do centro do Rio de Janeiro. Bem no começo da via, uma grande igreja toma conta da paisagem e é impossível não ser notada. Na manhã de ontem, enquanto carros e ônibus contornavam a praça onde fica a Igreja da Candelária, alguns jovens faziam uma lavagem simbólica dos degraus que levam da calçada à entrada da igreja. No chão, nomes de crianças assassinadas pela violência no estado nos últimos anos.

A lavagem é um dos atos que marcam os 30 anos da Chacina da Candelária, completados no domingo (23). “O que aconteceu aqui a gente não quer que aconteça de novo. Então essa lavagem é uma forma de protesto”, diz Arthur Luiz Costa de Andrade, um dos jovens que lavaram os degraus.

Vinte metros à frente, pinturas com tinta vermelha no chão da calçada, simulando oito corpos uma referência aos mortos da madrugada de 23 de julho de 1993. Ao lado, uma cruz com o nome das vítimas. Todas mortas por policiais militares no local onde dormiam dezenas de pessoas. O crime teria acontecido porque, no dia anterior, os meninos jogaram pedras em um carro da Polícia Militar (PM).

Trinta anos depois, mais de 20 adolescentes do grupo de percussão Casa do Menor São Miguel Arcanjo, de Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio, tocavam os instrumentos em alto e bom som para deixar claro que a memória desses mortos não está silenciada. A professora do grupo, Grayce Andley, explicou que eles fazem esse ato após 30 anos, para mostrar que parentes dos mortos não estão sozinhos.

Nunca Mais

O dia de homenagens foi organizado pelo Movimento Candelária Nunca. Fátima Silva, uma das fundadoras da organização não governamental, explicou à Agência Brasil que o movimento vai além de pedir justiça pelos oito assassinados. “A gente tem hoje crianças morrendo antes de criar seus sonhos, crianças que nem chegam a dez anos de idade. A gente quer avanço nas políticas públicas, protagonismo, que as crianças e adolescentes possam viver em paz nas suas comunidades”, disse a ativista que trabalhava com menores em situação de vulnerabilidade na época da chacina.

Dois policiais militares e um ex-policial foram condenados pelo massacre, os três com penas que superam os 200 anos de prisão. Wagner dos Santos, que foi alvo de quatro disparos, conseguiu sobreviver à chacina e acabou se tornando testemunha para a elucidação do caso. Por questão de segurança, ele passou a viver fora do Brasil. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio, o PM Nelson Oliveira dos Santos cumpriu pena até sua extinção, em 2008. Já o PM Marco Aurélio Dias de Alcântara e o ex-PM Marcus Vinícius Emmanuel Borges cumpriram suas penas até receberem indultos, em 2011 e 2012, respectivamente.

Irmã de Wagner, Patrícia Oliveira enxerga o ativismo dela e do irmão como uma forma de combate à impunidade. “A gente luta para que outras pessoas não passem pelo que ele passou, que vários outros familiares passam. Porque não é só a Chacina da Candelária, mas também a de Vigário (1993), Acari (1990), entre outras que acontecem no Rio de Janeiro todos os dias. A [Chacina da] Candelária continua, ela não acabou”, disse à Agência Brasil.

Dentro da igreja, assentos lotados para uma missa e um ato interreligioso. Além do sentimento de dor pelo passado, uma preocupação com o presente e o futuro. Dados mostram que essa preocupação tem motivo para existir.

Um estudo do Grupo de Estudos de Novas Ilegalidades da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), mostrou que, de 2007 a 2022, foram registradas 27 “megachacinas” policiais no estado (segundo a metodologia da pesquisa, quando resultaram em oito mortes ou mais, como na Candelária). Esses crimes representaram a morte de 300 pessoas.

Por Bruno de Freitas Moura

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