ARTIGO: BARBOSA, ÍDOLO NEGRO DO FUTEBOL E SINÔNIMO DE RESILIÊNCIA
Como sempre diz a filha do grande goleiro e defensora do seu legado, a Tereza Borba: “Barbosa não se resume apenas a 1950, é muito mais do que isso”
Em 9 de julho 2014, o vespertino Diário de Pernambuco estampou na capa, em letras garrafais: “Barbosa, descanse em paz”, em referência à maior tragédia sofrida pela Seleção Brasileira na semifinal da Copa das Copas, o famigerado 7 X 1. Essa capa genial era um pedido de desculpas ao grande goleiro e ídolo Moacyr Barbosa e, consequentemente, a todos os vice-campeões da primeira Copa do Mundo com sede em nossa Terra de Vera Cruz. O propósito do romance histórico — escrito por este articulista — para ser lançado no centenário de seu protagonista, que intitulei Desculpas, meu ídolo Barbosa é o mesmo do periódico pernambucano, um pedido de perdão ao grande camisa número 1 da Cruz de Malta, um perdão que esta nação o deveu por anos a fio.
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Como sempre diz a filha do grande goleiro e defensora do seu legado, a Tereza Borba: “Barbosa não se resume apenas a 1950, é muito mais do que isso”. Faço coro com ela, pois acredito que dissertar sobre esse atleta de primeira categoria é muito mais do que apenas uma partida de futebol. Um menino negro, pobre, nascido em Campinas (última cidade a abolir a escravidão no Brasil), em uma família de 11 filhos e que, por meio do esporte, conseguiu viajar o mundo, ter milhões de fãs e marcar a história do futebol para sempre.
Barbosa, poucos sabem, foi o primeiro guarda metas e um dos mais ousados, pois também foi o primeiro a bater tiro de metas, quando tal prática era proibida para os guardadores de rede. Foi ele também quem defendeu o pênalti que deu ao Vasco da Gama o título de primeiro campeão de clubes do continente sul-americano, em 1948 defendendo pênalti do craque Labruna, do River Plate). Foi ele e só poderia ser ele, o grande muro intransponível que impedia o time do Vasco de tomar gols, que ganhou tudo, tudo mesmo, em meados do século 20 e foi apelidado de Expresso da Vitória.
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Apenas três anos após estrear no futebol profissional, Barbosa já vestia a camisa da seleção mais vencedora do planeta. Era um goleiro elegante, arrojado, que tirava o fôlego dos torcedores ao fazer suas belíssimas defesas de mão trocada. Um monstro debaixo das traves, mas que sofreu em vida devido ao racismo que insiste em persistir no Brasil. Se os atacantes e goleadores sofreram e sofrem com o racismo, vide Vini Júnior, imagine o goleiro, sempre o culpado pelos insucessos de qualquer time, desde a pelada de pés descalços no campo de terra até no maior evento de futebol do planeta (Copa do Mundo), goleiros são culpados e ainda mais se forem negros.
Em uma parte do livro, quando descrevo o momento em que o protagonista retorna do Maracanã após assistir ao Brasil vencer a Copa América de 1989 contra os charruas, o significado da graça do ídolo é revelado por seu amigo Bira: “No táxi voltamos animados, altos pela bebida e falantes, Bira falava pelos cotovelos. No meio da viagem, ele me perguntou se eu sabia o significado do meu nome, respondi que não com a cabeça. Então, Bira revelou que meu nome vem da língua tupi significava “o que vem da dor”. E completou dizendo estar muito feliz em compartilhar um momento de alegria como esse ao meu lado. Porque ele sabia o quanto eu vinha dor gerada no dia 16 de julho de 1950 e me afligia durantes anos e toda essa dor tinha nascido no Maracanã. E naquele dia eu estava expurgando parte da minha dor. Ele sabia disso e queria estar ao meu lado nesse momento. Um silêncio tomou conta do táxi, nos demos um abraço forte” (Santana, 2022).
A origem ameríndia do nome Moacyr revela a potência de Barbosa para resistir e superar as agruras e desafios de ser negro ao sul do Equador. Meu ídolo Barbosa tem inúmeras características que poderia citar aqui, porém queria chamar a atenção para a resiliência desse homem. Mesmo depois de todas as críticas infundadas, acusações levianas e manifestações de racismo, ele renasceu após a derrota para a Celeste.
Ganhou brasileiro de clubes, campeonato carioca, torneio Bahia — Pernambuco e Rio — São Paulo enfrentando Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Pepe e outros semideuses do futebol. A resiliência significa “resistência ao choque, à adversidade” e isso ele teve de sobra, um impávido diante dos desafios da vida. Ave São Barbosa!
Por: CB