VÍRUS QUE CAUSA BRONQUIOLITE CORRESPONDE A 47,2% DAS INTERNAÇÕES DE MENORES DE 4 ANOS NO BRASIL

Vírus sincicial respiratório circula durante o ano todo, mas pico de infecções ocorre principalmente nos meses de outono e inverno

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein – O vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais causadores de bronquiolite, é hoje a maior causa de internação de crianças com até 4 anos de idade no Brasil, aponta boletim do InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta quinta-feira (20). A análise dos dados é referente à semana epidemiológica de 2 a 8 de abril e leva em conta a notificação de casos no sistema Sivep-Gripe, incluindo hospitais públicos e privados de todo o país.

Segundo o boletim, o VSR esteve presente em 47,2% dos casos de infecções respiratórias que resultaram em internação registradas no público pediátrico nesse período. Além disso, o boletim mostrou ainda que a prevalência entre os casos como resultado positivo para vírus respiratórios foi de 5,7% para influenza A, 5,5% para influenza B, e 33,9% para Sars-CoV-2 (Covid-19) – aqui incluindo também adultos.

A bronquiolite é uma inflamação aguda dos bronquíolos terminais, ou seja, das ramificações mais finas que conduzem o ar para dentro dos pulmões. A doença é causada na maioria das vezes por vírus – sendo o VSR o principal agente causador. Ele é um vírus bastante comum, que sempre circulou no Brasil, mas é potencialmente mais preocupante em bebês e crianças com até 2 anos, já que a infecção atinge o trato respiratório inferior e pode evoluir para um desconforto respiratório pela baixa saturação de oxigênio, necessitando de internação. Quanto mais nova a criança, maior chance de internação.

Segundo o boletim, o VSR esteve presente em 47,2% dos casos de infecções respiratórias que resultaram em internação registradas no público pediátrico nesse período. Além disso, o boletim mostrou ainda que a prevalência entre os casos como resultado positivo para vírus respiratórios foi de 5,7% para influenza A, 5,5% para influenza B, e 33,9% para Sars-CoV-2 (Covid-19) – aqui incluindo também adultos.

Apesar de muito frequente, a gravidade é considerada baixa: de cada 100 casos de bronquiolite, estima-se que 10 crianças precisarão de internação. E, desses 100 casos, apenas 1 vai precisar de suporte da UTI. “É uma doença muito frequente, que exige cuidados, mas não é potencialmente grave. A grande parte das crianças será tratada em casa e vai ficar tudo bem. Na maioria das vezes as mães nem sabem que a criança está com bronquiolite”, diz Gabriela Bonente, intensivista pediátrica no Hospital Israelita Albert Einstein, ao destacar que, no momento, a maioria das internações na pediatria do hospital são devido à bronquiolite – a maior parte delas causada pelo VSR.

Quais são os sintomas?

Geralmente a criança começa com sintomas muito parecidos com resfriado, com nariz escorrendo, tosse discreta, obstrução nasal. Já os bebês, por terem o narizinho muito pequeno, costumam ter dificuldade para mamar. Entre o terceiro e quinto dia de sintomas, a infecção pode atingir o pulmão causando a inflamação dos bronquíolos e aumento da produção de secreção: “a criança pode evoluir para uma tosse mais produtiva (com mais catarro) e mais intensa, podendo evoluir para um cansaço e dificultando a respiração. A criança fica mais ofegante, com a frequência respiratória mais alta”, explicou a pediatra.

Por volta do quinto ao sétimo dia, os sintomas tendem a ficar um pouco mais leves e a tosse vai desaparecendo devagar. Nem sempre a criança terá febre no período. “O que mais nos preocupa nos sintomas é quando ela fica muito ofegante, não consegue mamar e tem dificuldade de respirar. Esse é um dos motivos em que indicamos a internação. Outro motivo para internar é quando a criança precisa de uma oferta extra de oxigênio, quando a saturação fica abaixo de 94%”, disse Bonente.

Os sintomas da bronquiolite são um pouco diferentes dos da gripe causada pelo vírus Influenza A ou B. “No caso da gripe, a criança fica mais prostrada, com febre mais intensa, com sintomas respiratórios altos. Mas os quadros podem ser muito semelhantes e o que vai diferenciar mesmo é a coleta do exame para a realização de um painel de vírus respiratórios que vai isolar o vírus que está causando a doença.”

Circulação no ano todo

Segundo Bonente, o vírus sincicial respiratório circula o ano todo, mas costuma ser mais frequente nos meses de outono e inverno – justamente a estação do ano em que estamos agora. Por isso, os hospitais estão registrando aumento de casos.

“A circulação mais intensa do VSR normalmente começa em fevereiro e segue até julho, agosto. Em alguns anos, essa circulação do vírus foge um pouco desse período padrão, a pandemia acabou mudando um pouco essa dinâmica, mas a maior incidência ocorre nos meses de outono e inverno”, disse a pediatra.

A transmissão ocorre tanto pela via respiratória, quanto pelo contato – passa de uma pessoa para outra. “Às vezes nós adultos podemos carregar o vírus mesmo sem apresentar sintomas. Mas geralmente observamos a infecção em crianças pequenas que vão para a escola ou para a creche e também em crianças que ainda não frequentam escola, mas têm um irmão mais velho em idade escolar que leva o vírus para casa”, explicou.

É muito difícil prevenir o contato com o VSR porque às vezes os sintomas aparecem depois de a criança já estar transmitindo o vírus. Mas, crianças que fazem parte de alguns grupos de risco específicos (que incluem aquelas com doenças pulmonares graves, que nasceram prematuras extremas e aquelas que têm cardiopatias graves), podem receber um tipo de “vacina” nos meses de maior circulação do vírus.

Gabriela explicou que não se trata de uma vacina convencional, mas sim de um medicamento chamado palivizumabe que é fornecido pelo SUS e pelos planos de saúde para crianças desses grupos de risco para bronquiolite, para evitar que elas desenvolvam quadros mais graves e precisem de internação.

“São cinco doses de anticorpos que a criança do grupo de risco deve tomar uma vez por mês para tentar combater o vírus com mais eficiência, caso ela tenha contato. Não é uma vacina propriamente dita, mas é uma dose a mais de anticorpos para ajudar a combater o agente e evitar possíveis complicações”, explicou Bonente.

Quando a criança já está doente, os médicos recomendam que os pais façam a lavagem nasal adequada por causa da obstrução das vias aéreas: “o bebezinho depende muito da respiração nasal e a lavagem feita corretamente é muito importante. É importante também fazer a inalação porque as partículas do soro fisiológico chegam dentro do pulmão ajudando a aliviar”, disse.

Outra medida que ajuda na recuperação mais rápida da bronquiloite é manter a criança hidratada e bem alimentada. “Esse é um quadro que costuma dar mais trabalho porque não tem muito o que ser feito além de tentar aliviar os sintomas. Não existem xaropes para bronquiolite, não existem antivirais. Tudo o que fazemos são medidas de suporte para esperar o nosso organismo combater o vírus”, finalizou a médica.

Por-247

 

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