‘TIRARAM UM PEDAÇO DA MINHA VIDA’, DIZ PAI DE ELOÁH, VÍTIMA DE TIROTEIO NA ILHA DO GOVERNADOR, NO RIO

Gilgres Santos disse que agora é seguir a vida e cuidar dos dois filhos que tem. Na sexta-feira (11), ele comemorou os dois meses da caçula da família.

A menina Eloáh, de 5 anos, morreu baleada, na manhã deste sábado (12), durante uma troca de tiros no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Na porta do Instituto Médico Legal (IML), seu pai, Gilgres Santos, contou que perdeu um pedaço de sua vida.

“Infelizmente, é seguir a minha vida e manter as que eu tenho em casa ainda, já que levaram a minha filha. Eu tenho duas para criar, entendeu? Então, eu não tenho mais palavras para falar para vocês que dor nenhuma vai me consolar. A dor pela minha filha, que já se foi, que acabou. Tiraram um pedaço da minha vida, foi a minha filha”

Além de Eloáh, Wendell Eduardo, de 17 anos, levou um tiro quando estava na garupa de uma moto, na Avenida Paranapuã, por volta das 7h30. As mortes resultaram em uma série de manifestações na Ilha do Governador durante toda a manhã deste sábado.

Uma equipe do 17º BPM (Ilha) “teve atenção voltada para dois homens em uma motocicleta, na Rua Paranapuã, na Ilha do Governador, onde o ocupante de carona [que seria Wendel] portava uma pistola”;

O tio de Wendel afirmou, com base no que ouviu de pessoas que estavam perto, que o sobrinho levantou os braços e se rendeu — mesmo assim, foi baleado. Ele também disse que nunca teve notícias de que Wendel tivesse envolvimento no crime;

Depois dessa morte, moradores de uma localidade do Dendê conhecida como Cova da Onça começaram uma manifestação, que segundo testemunhas, foi reprimida a tiros por policiais militares

Esse novo capítulo da violência no Rio teve início com um esquema de segurança montado pelo 17º BPM (Ilha do Governador) para a inauguração da UPA Pediátrica do bairro em que era esperada a visita do governador Cláudio Castro.

Com o cerco montado, dois homens numa moto, na saída de um baile funk, furaram o bloqueio policial. Wendell foi baleado neste momento e chegou morto ao hospital Evandro Freire.

“Fui no local onde estava ele. O corpo já tinha sido levado. Um dos mototáxi que estava lá junto filmou e disse que ele estava numa festa com a molecada, desceu numa moto, não viram o policial vindo, não viram a viatura vindo. Quando ele levantou a mão, falou perdeu. Foi quando ele foi alvejado”, disse o tio de Wendell, Marlon Almeida.

Logo depois, manifestantes incendiaram dois ônibus perto de uma das entradas do Morro do Dendê, perto da localidade conhecida como Cova da Onça.

O Batalhão de Rondas e Controle de Multidão foi acionado para dar apoio ao trabalho do Corpo de Bombeiros. Moradores dizem que policiais começaram a atirar para conter os manifestantes.

Por volta das 8h30, Eloáh Passos foi atingida no peito. Imagens obtidas pela TV Globo mostram o quarto da menina e um buraco na janela de vidro. A casa da família fica em cima da avenida onde acontecia a manifestação.

Eloá foi socorrida pelos pais e chegou ao hospital Evandro Freire, em cerca de 20 minutos, mas já estava sem vida.

Ontem foi festa e hoje é só tristeza para gente. Dentro da comunidade não tem só bandido, não tem só vagabundo. Dentro da comunidade tem doutor, tem enfermeira, médica, estudante querendo um futuro melhor. Ela partiu com cinco anos de idade. Uma vida inteira pela frente”, contou a prima Indiane Passos.

Em nota, a Polícia Militar disse que não havia operação policial no interior da comunidade. Durante um reforço no patrulhamento, os policiais foram alvos de tiros que saíram de dentro do Dendê.

Durante a tarde deste sábado, o comandante do batalhão da Ilha do Governador foi afastado da administração da unidade. Segundo a PM, o objetivo é dar transparência às investigações.

“A única justiça que eu peço é a justiça de Deus. Mais nada. Só quero que Deus faça a justiça dele. Só isso” contou a mãe de Eloáh, Cláudia da Silva Souza.

Por Carla Sant’anna, Danilo Vieira, Felipe Freire, Jhonny Marvin e Leslie Leitão, RJ2

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