O general que comandava a área onde acontecia o acampamento golpista em Brasília defendeu que o Exército “tentou desmotivar” aquela manifestação contra a democracia. “Nós tentamos o tempo todo, desde o início, desmotivar o acampamento. O Exército é uma instituição preocupada com a dignidade humana, a preservação da vida, o cumprimento legal das atividades”, afirmou o general Gustavo Henrique Dutra.Ele chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP) durante a permanência do acampamento em frente ao quartel-general e no 8 de janeiro, mas acabou exonerado por Lula (PT) em abril. O depoimento foi dado na manhã desta quinta-feira (18/5), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
O militar ainda colocou responsabilidade sobre outras instituições, argumentando que nenhum órgão “com poder para dizer que aquele acampamento era ilegal o fez”.
“Nenhuma instituição disse: ‘Esse acampamento é ilegal’. E estabelecemos uma estratégia indireta para desmobilizar. Limitamos acesso, logística. […] Em Belém, quando houve ordem judicial, imediatamente o acampamento foi desmontado. Aqui, nunca trataram o acampamento como ilegal, trataram ilegalidades que por ventura acontecessem no acampamento.”
Ele negou que os militares colaborassem com os golpistas. “Nunca demos vida fácil para manifestantes, tivemos preocupação com a vida humana, e nunca recebemos ordem judicial. Quando recebemos dia 8, tiramos.”
A participação do general Dutra vem após a aprovação de um requerimento de convite, não convocação. Nesses termos, ele não é obrigado a participar. Mas assessores parlamentares do Exército, a pedido do comandante, general Tomás Miguel Miné, fizeram reuniões com deputados da CPI e confirmaram a presença, desde que não houvesse obrigatoriedade.
O Comando Militar do Planalto é responsável pela área do Quartel-General do Exército em Brasília. Sob gestão de Dutra, o CMP permitiu o acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), que pediram um golpe de Estado e cometeram uma série de crimes naquela região.
Manifestantes bolsonaristas fazem protesto contra o resultado das urnas Hugo Barreto/Metrópoles
Apoiadora de Bolsonaro tira foto ao lado de réplica de papelão do ex-presidente Hugo Barreto/Metrópoles
O general também já foi citado nominalmente na CPI, quando o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime o acusou de impedir prisões de golpistas no QG após ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no fim do dia 8. Outro fato relevante envolvendo o militar do Exército foi uma reunião com Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF, 48 horas antes do atentado contra a democracia de janeiro.
Os deputados distritais devem questionar Dutra sobre os bastidores da tentativa de prisão no acampamento. Naquela data, forças de segurança do DF foram ao quartel-general deter os golpistas, mas encontraram uma barreira de militares do Exército, que posicionaram até blindados na entrada da área, impedindo a entrada de qualquer pessoa.
Estratégia do Exército
O Metrópoles apurou que o Exército vai trabalhar com duas linhas de defesa durante os depoimentos na CPI. A primeira será a argumentação de que não acabou com o acampamento por não haver nenhuma ordem judicial para isso antes do dia 8 de janeiro. A segunda, sobre aquele dia, será defender que não havia condições logísticas para prender os bolsonaristas logo após a decisão de Moraes, e que a ação só poderia ocorrer na manhã do dia 9.
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Chico Vigilante (PT), disse que viu sinceridade na conversa que teve com os assessores do Exército e não acredita que a instituição estava comprometida com um possível golpe. “Mas teve gente, talvez da reserva, que estava achando que teria cobertura do Exército Brasileiro para fazer o que eles fizeram no dia 8”, comentou.
Por-Metrópoles