SUPREMA CORTE DOS EUA REABRE CAMINHO PARA DEPORTAÇÃO EM MASSA DE IMIGRANTES LATINO-AMERICANOS

Decisão histórica afeta mais de 500 mil imigrantes; medida coloca em risco direitos humanitários e reacende debate sobre política migratória nos Estados Unidos

Em uma decisão de grande impacto jurídico e humanitário, a Suprema Corte dos Estados Unidos autorizou, na última sexta-feira (30), o governo federal a revogar o status legal temporário de mais de 500 mil imigrantes vindos de países como Venezuela, Haiti, Cuba e Nicarágua. A medida, que reverte uma decisão de instância inferior e dá sinal verde para deportações em massa, marca um novo capítulo no embate político sobre imigração e reacende tensões sobre o futuro de milhares de famílias no país.

A decisão representa um duro revés para os beneficiários do programa de liberdade condicional humanitária, política implementada em 2022 durante o governo do então presidente Joe Biden. O programa previa a entrada legal temporária de imigrantes, válida por dois anos, desde que estes tivessem um patrocinador financeiro nos Estados Unidos. Criado com o objetivo de controlar o fluxo migratório e evitar entradas ilegais, o programa foi saudado por organizações humanitárias, mas sempre esteve sob ataque da ala conservadora americana.

Agora, com a revogação autorizada, o Departamento de Justiça — sob o comando do atual governo de Donald Trump — está liberado para retirar o status legal de entrada de milhares de pessoas. A suspensão temporária das deportações, que havia sido determinada por um juiz federal de Boston, foi derrubada sem justificativa divulgada pelos ministros da Suprema Corte.

Uma nova onda de vulnerabilidade para os imigrantes
A decisão judicial reabre a possibilidade de deportação imediata para migrantes que vivem legalmente no país, muitos deles com famílias, empregos e vínculos comunitários consolidados. De acordo com a juíza Ketanji Brown Jackson, que votou contra a medida, o efeito imediato da decisão é “colocar meio milhão de vidas em suspenso”, enquanto os tribunais ainda discutem a legalidade do programa.

“Os migrantes agora enfrentam uma escolha devastadora: deixar os EUA voluntariamente ou arriscar serem capturados e deportados abruptamente, perdendo tudo o que construíram”, destacou a juíza federal Indira Talwani, que inicialmente havia impedido a revogação em massa.

Panorama político e interesses eleitorais
Durante a campanha eleitoral, Donald Trump prometeu endurecer as políticas de imigração e reverter medidas criadas por seu antecessor. A decisão da Suprema Corte vem na esteira dessas promessas e é considerada uma vitória política da agenda trumpista, especialmente entre os eleitores mais conservadores.

O Departamento de Justiça argumenta que a liberdade condicional humanitária sempre foi uma medida temporária e que não exige análise individual para ser encerrada — uma alegação duramente criticada por defensores dos direitos humanos, que consideram a medida um “ataque sistemático à dignidade dos imigrantes”.

Impactos sociais e econômicos

Estima-se que cerca de 950 mil pessoas possam ser atingidas direta ou indiretamente pelas mudanças na política de liberdade condicional. Muitas dessas famílias já estavam em processo de solicitação de asilo, com pedidos pendentes há meses ou até anos.

Além das consequências sociais, especialistas alertam para os efeitos econômicos: a deportação em massa poderá desestabilizar setores que dependem fortemente da mão de obra imigrante, como a agricultura, a construção civil e os serviços domésticos.

Organizações de defesa dos imigrantes afirmam que o retorno dessas pessoas a países marcados por instabilidade política, pobreza extrema e violência — como Haiti e Venezuela — pode colocá-las em risco de perseguição e até mesmo de morte.

Jurisprudência e precedentes históricos


A liberdade condicional humanitária é amparada por uma prerrogativa presidencial estabelecida em 1952. Desde então, diversos presidentes a utilizaram para acolher grupos específicos em situações de urgência. No entanto, a revogação coletiva promovida pela gestão Trump é inédita em escala e alcance. Advogados classificaram a medida como “o maior evento de ilegalização em massa na história moderna dos EUA”.

Esse é apenas mais um de uma série de embates judiciais entre o governo Trump e a Suprema Corte em torno da imigração. Em outras ocasiões, o tribunal chegou a barrar tentativas de deportações sumárias baseadas em legislações do século XVIII, como a chamada “Lei dos Inimigos Estrangeiros”, usada para justificar ações contra imigrantes acusados de envolvimento com gangues.

Por Redação Gazeta Rio

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