“SOMENTE A EDUCAÇÃO PODE TRANSFORMAR A VIDA DAS PESSOAS” AFIRMA EDUCADOR.

Professor, escritor e ativista pela democratização da leitura, essas são algumas das características de Pedro Gerolimich, que tem uma vida dedicada a levar a educação para quem mais precisa. Nascido em Anchieta, Zona Norte do Rio, ficou conhecido na região como “Pedro do Livro”. O jovem que distribui livros para as comunidades, como forma de incentivar a leitura, conta para o jornal um pouco sobre sua história e objetivos na entrevista abaixo:

Como começou essa paixão por distribuir livros pela cidade? Qual o objetivo disso?

Eu acredito que somente através da educação vamos ter uma sociedade melhor. Somente com acesso à educação de qualidade, nossos jovens terão mais oportunidades no futuro e, assim, ficarão longe da criminalidade. Nosso lema é “Mais livros, menos violência”, partindo desse ponto de vista de que a educação transforma vidas. Foi então que começamos a distribuir livros em diversos locais, para incentivar a leitura e o conhecimento. E isso vem numa crescente positiva, quando abrimos a biblioteca comunitária A Casa Amarela em Anchieta e consolidamos o projeto Livro de Rua, que percorre os bairros com atividades educativas, culturais e de lazer. O objetivo é viver em um lugar onde a juventude tenha mais oportunidades, onde a cidade tenha um menor índice de violência e que as ruas sejam ocupadas pelas artes e pela educação.

Você tem ideia de quantas pessoas já foram impactadas pelos seus projetos?

Olha, muitas (risos), não tenho como mensurar exatamente, mas posso dar alguns exemplos: já distribuímos cerca de 100 mil livros pela cidade. Na Biblioteca A Casa Amarela, em menos de dois anos, recebemos mais de 13 mil visitantes, com cerca de 1.500 livros emprestados e mais 14 mil distribuídos. Além disso, a biblioteca atende regularmente a 500 famílias com diversos serviços sociais, além de cursos e ações. Abrimos mais quatro pontos de leitura (Parque Anchieta, Vila Isabel e Santa Cruz) e firmamos uma parceria com a Prefeitura na abertura de uma cozinha comunitária, que serve 300 refeições por dia. Na cozinha comunitária, também em Anchieta, foi inaugurado mais um ponto de leitura que oferece livros e diversas outras atividades, como o curso de cuidador de idosos. Tenho muito orgulho de ter idealizado a biblioteca e de todas essas ações que atendem a região. Costumo dizer que Anchieta me formou com sabedoria e caráter e tento retribuir isso para que mais pessoas tenham oportunidades.

Como e quando despertou em você essa vontade de mudar a cidade?

Muito jovem, com 15 anos meu sonho era mudar o mundo, aí comecei pelo meu bairro. Na adolescência, entrei para o Movimento Estudantil, onde me organizei pelas entidades AMES e UBES e, coletivamente, lutamos pelo passe livre estudantil — gratuidade de passagem para estudantes da rede pública que vigora até hoje —, e também na construção de Grêmios Estudantis, que são fundamentais para cobrar melhorias nas escolas. Aí começa o meu despertar de que era a educação o vetor fundamental da mudança social. Eu fui amadurecendo e levando esse sonho comigo, que é o significado da minha vida até hoje: mudar o mundo por meio da educação.

O que você sente quando vê alguém que mudou de vida depois que teve contato com a biblioteca ou com outro projeto?

Emoção. É muito gratificante poder fazer algo pelas pessoas, principalmente para os jovens e para os locais onde as políticas públicas são precárias. Infelizmente, ainda vemos escolas sem livros, sem estrutura, sem professores, e a gente tenta preencher essa lacuna. Quando vejo que está dando certo, me emociono e me encho de mais energia para seguir. Tem casos lá na biblioteca de adolescentes que reprovaram na escola, não liam, e hoje são monitores e passaram de ano. Tem casos de adultos que voltaram a estudar. De mulheres que são assistidas juridicamente e hoje vivem em segurança, entre muitos outros.

Você também tem forte atuação nos direitos das crianças, certo? Conta um pouco sobre isso.

Certo. Uma coisa está ligada à outra. Garantir o direito à educação é um dever de todos. Assim como todos os direitos fundamentais referentes à infância e adolescência, que é o público que mais precisa. Nos projetos que desenvolvemos, percebemos que havia uma carência de conhecimento sobre os direitos das mães atípicas — responsáveis por menores com deficiência —, uma carência de espaços para essas crianças que têm o direito de brincar como qualquer outra, entre outras fragilidades que permeiam a criação de um cidadão. Nesse sentido, passamos a desenvolver ações e projetos para esse público e, consequentemente, essa se tornou nossa luta também. Como professor, ativista, pai e padrasto, acredito na educação afetiva e acolhedora e defendo isso para todos.

Quais são os seus planos para o futuro?

Ampliar tudo o que já fazemos. Sonho em ter espaços culturais, praças ocupadas por cultura, bibliotecas, em todos os bairros e comunidades da cidade. Paulo Freire dizia que “a educação muda as pessoas e as pessoas transformam o mundo”. É pra isso que levanto todos os dias: a educação mudou a minha vida, agora muda a dos moradores de Anchieta, e queremos que alcance mais e mais pessoas.

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