Mais de 270 organizações, especialistas e ambientalistas assinaram um documento pedindo a suspensão de novas hidrelétricas na região amazônica
“Insistir em mostrar o papel das hidrelétricas como fonte de energia sustentável e limpa significa ignorar o legado histórico de catástrofes ambientais, sociais e econômicas deixado pelas hidrelétricas construídas na Amazônia”. É o que diz o manifesto assinado por mais de 270 organizações da sociedade civil, ambientalistas e especialistas, que clamam por uma moratória, ou seja, a suspensão imediata de novas usinas hidrelétricas (UHE) na Amazônia, até que sejam feitas as revisões dos planos nacionais de energia e dos programas nacionais de mudança do clima e transição energética.
Em apelo a autoridades governamentais, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; e os governadores dos estados da Amazônia, o documento enfatiza os impactos sociais e ambientais de projetos hidrelétricos anteriores e aponta exemplos específicos de grandes prejuízos na região, desde a construção da UHE Balbina, a primeira grande hidrelétrica na Amazônia, até a UHE Belo Monte, a última construída.
Segundo o manifesto, os seis projetos de hidrelétricas na região amazônica levaram mais de 60 mil pessoas a deixarem seus lares ou tiveram sua vida e/ou segurança alimentar ameaçadas.
Além disso, o documento também expõe os impactos destrutivos na região causados pelas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais de Geração Hidrelétrica (CGHs). Segundo a declaração, um conjunto de PCHs em uma mesma bacia pode gerar um impacto quatro vezes maior do que uma UHE devido a quebra da conectividade do fluxo natural dos rios. “Essa perda de conectividade por PCHs deve se agravar em 21% no futuro, caso todos os empreendimentos planejados sejam construídos, o que vai atingir rios ocupados por mais de 120 espécies de peixes migratórios – 14 delas ameaçadas de extinção e 20 delas de alta importância para a pesca comercial e recreativa”, explica o manifesto..
O documento demonstra ainda a necessidade da adoção de práticas sustentáveis na região e que considerem o potencial energético do Brasil para uma transição mais limpa e menos impactante às regiões.
“Atualmente, com o agravamento da crise climática, que rebate diretamente na grande variação do fluxo hidrológico dos rios e na escassez hídrica, as decisões passadas que levaram o Brasil a quase uma mono-dependência da fonte de energia produzida por hidrelétricas, precisam ser revistas, e incorporar em seu programa de transição da sua matriz energética incentivos e iniciativas voltadas à eficiência energética, repotenciação das hidrelétricas já existentes, ampliação das fontes eólica, solar e biomassa, à adoção da mini e micro geração distribuída de energias renováveis, com prioridade para grupos de baixa renda e comunidades mais isoladas da Amazônia”, finalizam.
Por JÚLIA MENDES – Eco