SETE EM CADA 10 MULHERES TEMEM ASSÉDIO NO CARNAVAL. E MUITOS ACHAM NORMAL ‘ROUBAR’ BEIJOS

Para promotora, pesquisa mostra que medo tem fundamento. Ela alerta: prática não é brincadeira, é crime

Mais brasileiros pretendem aproveitar o carnaval deste ano, aponta pesquisa do Instituto Locomotiva e do Question Pro. Mas, ao mesmo tempo em que pretendem se divertir, para a maioria das mulheres a festa também é sinônimo de preocupação: sete, em cada 10, receiam sofrer assédio durante o período de folia. E para parte dos entrevistados um ato como “roubar” beijos é até considerado aceitável.

De acordo com a pesquisa, 67,9 milhões pretendem aproveitar o carnaval, o que equivale a 44% da população. No ano passado, eram 37%. E aproximadamente 70% planejam gastos extras. Isso inclui, principalmente, nesta ordem, alimentos, bebidas não alcoólicas, transporte na cidade, bebidas alcoólicas e ingressos para passeios.

Espaços públicos e gratuitos

Entre os que querem se divertir, 80% preferem espaços públicos. Assim, 64% vão para blocos de rua, 33% para shows gratuitos e 31% pretendem acompanhar trios elétricos.

No “lado B” da pesquisa, sete em cada 10 mulheres no estado de São Paulo têm medo de sofrer assédio. Segundo o levantamento, 45% já sofreram e 56% discordam que o carnaval agora é mais seguro.

“Beijo roubado” é crime

Em todo o país, 19% acham que não há problema em um homem “roubar” um beijo caso a mulher esteja bêbada ou com pouca roupa. E, para completar, 32% concordam que se ela está em um bloco com pouca roupa é porque quer beijar.

Segundo os responsáveis pela pesquisa, foram entrevistadas 1.507 pessoas com 18 anos ou mais, de 18 a 22 de janeiro.

“A pesquisa apresenta, de um lado, o medo das mulheres e a realidade de que o assédio já foi vivenciado por metade delas. De outro, o que é preocupante, que esse medo está justificado, pois elas lidam justamente com o fato de que milhares de brasileiros ainda cultivam a ideia de que a roupa e a bebida são sinal de consentimento para a abordagem sexual”, afirmou ao portal g1 a a promotora Fabíola Sucasas, coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo (MPSP). “‘Beijo roubado’ é uma expressão naturalizada de uma conduta criminosa. Não é poesia, não é samba e tampouco brincadeira.”

O MPSP e o Ministério Público do Trabalho (MPT) criaram, em novembro, o Pacto Ninguém se Cala. A ideia é estimular a conscientização do enfrentamento da violência contra a mulher em bares, baladas, restaurantes, casas de espetáculos, eventos e similares. Em São Paulo, as leis estaduais 17.621, de 3 de fevereiro de 2023, e 17.635, de 17 de fevereiro, tratam do tema. Na capital, existe a Lei 17.951/2023. Em nivel federal, no ano passado foi aprovada a Lei 14.786, do “não é não”.

Amanhã (7), às 17h30, as promotoras de Justiça Fabíola Sucasas e Vanessa Therezinha Almeida, do Núcleo de Gênero, participam de live para falar sobre prevenção contra o assédio em atividades de lazer. A conversa será transmitida ao vivo no YouTube do MPSP.

Por  RBA

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