SEMANA NA ARGENTINA MARCOU MEGADECRETO DE MILEI E REAÇÃO DA SOCIEDADE. IGREJA SE MANIFESTA

Às vésperas do Natal, Comissão Pastoral Social exorta país a renunciar “a todas as formas de autoritarismo”, e relembra os 40 anos de redemocratização

Depois do Decreto de Necessidade de Urgência (DNU), com o qual pretende revogar dezenas de leis e enfraquecer o Estado ao máximo, o governo de Javier Milei na Argentina se deparou nos últimos dias com reações da sociedade civil, do Congresso do país e da própria Igreja Católica. Às vésperas do Natal, com parte da população inconformada com a mega-desregulamentação da economia, a Igreja pediu na sexta-feira (22) pela renúncia “a todas as formas de autoritarismo e (que) nos escutemos com humildade e esperança, cuidando da institucionalidade e da governabilidade”.

“A comemoração dos 40 anos de recuperação da democracia é também um momento favorável para promover a igualdade dos cidadãos”. No comunicado, a Comissão Pastoral Social afirma que o “cenário de fratura social parece impedir-nos de discernir que ninguém se salva sozinho, que a liberdade autêntica só é possível com equidade, integração, com redução da profunda desigualdade social que nos afeta”.

Parlamentares peronistas, lideranças das províncias (estados argentinos) e até mesmo da coalizão de direita de Mauricio Macri vêm manifestando contrariedade com o “superdecreto” de Milei. Todos exigem negociações no Parlamento, o que é condição de reformas em qualquer democracia, mas o presidente tenta ignorar.

Reuniões frenéticas no parlamento

De acordo com o jornal Página12, as luzes do parlamento ficaram acesas até às 3 horas da madrugada de quinta-feira, e depois bem cedo pela manhã. Havia reuniões frenéticas “com o objetivo de elucidar as 83 páginas dos 366 artigos que compunham o DNU assinado por Milei” e anunciado horas antes.

Segundo o relato do jornal, “quase todos concordaram em algo: nunca antes na história tinham sido apagados 100 anos de trabalho legislativo com um golpe de caneta como aconteceu”. Os protestos na Argentina miravam a violação da divisão de poderes e também continham críticas específicas à limitação do direito à greve, à liberalização do mercado de aluguel, eliminação dos regimes de promoção industrial e outras intervenções.

Após o “pacotaço”, não satisfeito, Milei continuou com seu tom agressivo, depois dos primeiros panelaços na noite de quarta-feira (20), que tomaram as ruas da capital Buenos Aires logo após o anúncio. “Aviso que vem mais”, ameaçou ele na manhã de quinta.

Relação de governo e sociedade se esfarela

Mesmo a imprensa de direita, como o jornal La Nación, que lembra o Estadão brasileiro, afirma que a relação entre o governo e as organizações sociais se degrada a cada minuto, “desde a posse, quando o presidente Javier Milei enunciou a sua frase ‘quem bloqueia não recebe’”. O slogan foi usado por Milei para dizer que manifestações que paralisam ruas perderiam benefícios sociais e seriam reprimidas, o que foi anunciado no dia 15. 

Dias antes, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, divulgou mensagem de vídeo gravada para anunciar o plano econômico, com fim de subsídios a serviços essenciais e plano que tira o Estado da Economia.

Por  RBA

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