“O Rio, berço político de Jair Bolsonaro, passa a ter forte simbolismo na movimentação de peças no tabuleiro das eleições municipais”, analisa Ricardo Bruno
Capitaneado pelo núcleo político do Palácio do Planalto, ganha corpo o movimento das forças alinhadas ao presidente Lula visando a definição de candidaturas que unifiquem a base progressista nos municípios da região metropolitana do Rio. A ideia é consolidar a presença da frente democrática neste cinturão de forte densidade eleitoral, que responde por cerca de 70% dos eleitores do estado.
A vitória neste território representaria a ascensão da base lulista em área onde o bolsonarismo deitou raízes no estado. Apesar do poder os partidos de práticas próximas à extrema direita é tarefa estratégica do atual comando político do Planalto. E o Rio, berço político de Jair Bolsonaro, passa a ter forte simbolismo na movimentação de peças no tabuleiro das eleições municipais.
Veja o quadro em cada munícipio: Na capital, a tendência dominante é o apoio à reeleição de Eduardo Paes. O PT reivindica a indicação do vice, disputada internamente por três correntes: a deputada Benedita da Silva sugere o nome da vereadora Tainá de Paula; o vice-presidente nacional do partido, Washington Quaquá indica o vice-prefeito de Maricá, Diego Zeidan, seu filho; e outras tendências sugerem o nome de André Ceciliano, atual secretário de Assuntos Federativos.
A única resistência é do deputado Lindbergh Farias que, por estratégia pessoal, prefere um nome nitidamente de esquerda, como o professor Tarcício, do PSOL. A dissidência, contudo, não tem força para se impor ao conjunto do partido, hoje fechado com Paes.
Em Nova Iguaçu, o deputado Lindbergh Farias tem precedência sobre outros nomes: já foi prefeito da cidade, onde reúne expressiva base eleitoral. Se não quiser ou, por estratégia do comando nacional do partido, permanecer na Câmara dos Deputados, há a possibilidade de se lançar o deputado pedetista Max Lemos, com o apoio dos demais partidos da frente progressista.
Duque de Caxias é outro município com dois nomes postos à mesa. O candidato natural seria o deputado federal Marcos Tavares (PDT). Ele tem o apoio de Washington Quaquá e de outras lideranças regionais do PT, como o ex-ministro Celso Pansera. Em outra frente, o PV tenta viabilizar o nome do ex-prefeito Zito, que recentemente se filiou à legenda pelas mãos do ex-deputado André Lazaroni.
Em Belford Roxo, a questão está fechada. O candidato será o nome escolhido pelo prefeito Waguinho: Matheus Carneiro, seu sobrinho. Lula tem relação direta e pessoal com o prefeito e sua esposa, a deputada Daniela Carneiro. Após a saída da parlamentar do ministério do Turismo, prevalece o entendimento de que é necessário recompensar o casal com apoio político e administrativo.
Em Niterói, o PT caminha para apoiar o ex-prefeito Rodrigo Neves, que, embora ainda não admita publicamente a candidatura, deve ser o nome da frente progressista na cidade. Pesquisas qualitativas mostram que ele teria condições mais favoráveis para garantir a vitória e derrotar o bolsonarismo na cidade.
Em São Gonçalo ,o projeto é consolidar o nome do deputado federal Dimas Gadelha (PT), que perdeu as eleições em 2020 para atual prefeito, o bolsonarista Capitão Nélson, por apenas 5 mil votos. Para que haja a unidade almejada, o ex-deputado Dejorge Patrício (PDT) teria de abdicar da postulação. Tenta-se essa composição.
Em Maricá, que nos últimos 15 anos se tornou uma espécie de protetorado petista no Rio, há absoluto consenso em torno da maior liderança política da cidade: o ex-prefeito Washington Quaquá, que, ao lado do atual, Fabiano Horta, são responsáveis pelas profundas transformações sociais ocorridas no município nos últimos anos. As divergências com o grupo do deputado estadual Renato Machado foram inteiramente superadas.
A deputada Zeidan é o nome petista para avançar na região Leste expandindo o projeto de Maricá para Itaboraí. O PT, que indicou o vice do atual prefeito Delaroli, não gostou nada do resultado da aliança de 2020 na cidade. Zeidan vai apresentar aos eleitores de Itaboraí, cidade com forte influência de Maricá, a possibilidade de adoção de políticas públicas inovadores, como a tarifa zero dos “vermelhinhos”.
Em Paracambi, o deputado estadual Andrezinho Ceciliano, filho do atual secretário de Assuntos Federativos, é o nome do partido. Na cidade, a família tem forte influência política. O pai já comandou a prefeitura.
Por Ricardo Bruno