Rim e fígado estão entre os órgãos com maiores filas para transplante, apesar de poderem ser doados por pessoas vivas
Nesta semana, o transplante de coração do apresentador Faustão dominou o noticiário e trouxe à tona a discussão sobre as filas para fazer o procedimento. No Brasil, 66,2 mil pessoas estão esperando por um órgão. Destas, mais da metade, 37 mil, estão aguardando um rim.
A lista dos cinco transplantes mais concorridos é composta ainda por córnea (25,9 mil pacientes), fígado (2,2 mil), pâncreas e rins (390 indivíduos precisam dos dois órgãos) e coração (380).
Das três maiores filas, porém, tanto o rim como o fígado podem ser parcialmente doados por uma pessoa viva — são os únicos órgãos sólidos que possuem essa exceção. Mas, se em teoria é possível encontrar doadores em casa, por que há tanta gente na fila de espera?
Que familiares podem doar?
Para os especialistas, vários fatores justificam a espera. No Brasil, mesmo que estes órgãos possam ser doados por pessoas vivas, apenas parentes de primeiro ou segundo grau do receptor podem fazer a doação, ou seja, pais, irmãos, filhos ou avós. Cônjuges também podem doar.
“Além destes casos, há necessidade de autorização judicial específica para a realização do procedimento”, pontua o nefrologista Elber Rocha, da DaVita Tratamento Renal, em Brasília. A restrição é feita para evitar a possibilidade de venda de órgãos.
Como o rim é um órgão duplo, o indivíduo pode doar um deles e se manter com o outro. Entretanto, a decisão deve ser tomada com calma: a retirada de um rim obriga o doador a cuidar mais da dieta e dos hábitos de saúde para que ele mesmo não enfrente uma insuficiência renal no futuro.
Além disso, há vários critérios para definir se um indivíduo pode ou não doar, e o fato de ser um parente não necessariamente significa que o doador é compatível.
No caso dos rins, o aumento da fila é justificado principalmente pela grande quantidade de pessoas que têm mal funcionamento do órgão no Brasil. Mais de 140 mil pacientes estão em tratamento para tratar artificialmente a insuficiência renal no país, fazendo diálise e hemodiálise, por exemplo. Apenas os casos mais graves vão para a fila do transplante.
“O processo de doação e transplante de órgãos envolve uma série de etapas, incluindo avaliações médicas, testes de compatibilidade e cirurgias. Encontrar um doador compatível, genética e imunologicamente, pode ser desafiador”, explica o nefrologista.
Fígado também tem fila
O fígado também pode ser doad0 ainda em vida. Ao contrário do rim, o fígado é único no corpo, mas tem a particularidade de poder ser parcialmente doado, já que se regenera.
Com isso, é possível retirar até 60% do fígado para transplante, nos mesmos termos da doação de rins. Em dois ou três meses, o órgão volta ao tamanho original. Entretanto, o procedimento é considerado complicado.
“A maioria das doações vem de falecidos por morte encefálica”, aponta a hepatologista Liliana Mendes, de Brasília. “Temos que avaliar a segurança do doador, já que a saúde dele também deve ser respeitada. Além disso, alguns têm até a intenção de doar mas não são elegíveis, seja por idade ou por terem um fígado com gordura“, exemplifica a médica.
O fígado desenvolve uma série de funções em nosso organismo, como auxiliar a digestão das gorduras e armazenar algumas vitaminas e minerais
É preciso doar mais para zerar a fila
Ambos médicos explicam que é preciso aumentar a quantidade de doadores para zerar a fila de órgãos. Confiar apenas nas doações familiares nunca poderá suprir toda a demanda acumulada.
Este é um problema particularmente sensível para quem está à espera de um rim. Em 2022, foram realizados apenas 5,3 mil transplantes desta natureza no Brasil. No ritmo lento de operações, levaria cerca de sete anos para zerar a fila, mesmo se nenhuma nova pessoa fosse adicionada à lista.
A quantidade de doadores de fígado registrados em 2022, 2,1 mil, seria o bastante para quase cobrir a lista de espera — porém, há sempre novas pessoas sendo adicionadas à fila.
O Ministério da Saúde pede que indivíduos que querem ser doadores devem manter a família sempre avisada da intenção, já que a autorização dos familiares é necessária para completar o processo.
Por Bruno Bucis