RJ TEM 468 MIL DOMICÍLIOS EM SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR MODERADA OU GRAVE, APONTA IBGE

RJ TEM 468 MIL DOMICÍLIOS EM SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR MODERADA OU GRAVE, APONTA IBGE

Dados da PNAD Contínua Segurança Alimentar foram divulgados na quinta-feira

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 468 mil domicílios do Rio de Janeiro vivem em situação de insegurança alimentar moderada ou grave. O estado tem a pior situação da Região Sudeste, junto com São Paulo, segundo dados da PNAD Contínua Segurança Alimentar divulgados nesta quinta-feira (25). Entenda a classificação mais abaixo.

Além da incerteza de ter um prato de comida na mesa, as famílias precisam mudar o tipo de alimento, comprometendo a qualidade nutricional e diminuindo a quantidade até para as crianças.

Tatiana Costa é mãe e tem oito filhos. Ela mora em uma casa de apenas dois cômodos, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, e é com as doações que recebe que ainda consegue alimentar a família.

“Eu costumo ensinar eles [filhos]: quando tem, tem. Quando não tem, vamos orar a Deus pra ter. Mas é difícil”, diz.

Por causa da geladeira vazia, seis crianças passaram a morar com parentes dela.

“É sofrimento, mas eu sei que é por bem. Se eles tivessem comigo agora estariam na mesma situação. A gente se adapta… é muito difícil”, fala a mãe.

Sua única fonte de renda é o Bolsa Família, que garante R$ 600 por mês. Mas não sobra quase nada depois de pagar o aluguel.

A proporção de domicílios fluminenses em insegurança alimentar moderada ou grave era de 5,1% em 2013. Em 2018, subiu para 10,2%. Em percentual, caiu para 6,9%. Essa é a 9ª menor taxa de insegurança alimentar moderada e grave do país.

Comida só para os filhos

A dona de casa Rita Melo também conhece de perto a fome. Ela está desempregada há cinco anos e já deixou de comer para oferecer aos filhos.

“É que tinha pouca mistura. Se eu fosse comer, eles não iam comer, então eu preferi botar pra eles e comer arroz e feijão. Aí Maurício [filho dela] perguntou ‘Cadê a sua?’ E eu respondi: ‘Não, quero não’, mas é mentira. Se eu fosse comer naquele momento, ia faltar pra eles. Preferi eles. E não foi uma vez, não. Foram várias vezes que deixei de comer pra dar pra eles”, conta Rita.

“O pouco que a gente consegue [de dinheiro] tem que pagar uma conta ou outra, e não consigo acertar contas que eu devo, e as pessoas não entendem…”, fala Rita.

Além dela, Maurício Melo, um dos filhos, também está desempregado. E o filho mais novo tem autismo. Para viver, a única renda da família são bicos — que não são suficientes para pagar as contas do mês.

“Já atende uma demanda e surgem outras demandas. A gente tem tentado se equilibrar dessa maneira, mas a gente recorre a outras ajudas. Infelizmente não tem sido suficiente”, diz o filho.

Entenda a classificação

O IBGE, responsável pelo levantamento, classifica a insegurança alimentar em três níveis:

Insegurança alimentar leve: falta de qualidade nos alimentos e uma certa preocupação ou incerteza quanto o acesso aos alimentos no futuro.

Insegurança alimentar moderada: falta de qualidade e uma redução na quantidade de alimentos entre os adultos.

Insegurança alimentar grave: falta de qualidade e redução na quantidade de alimentos também entre as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no lar.

Já a segurança alimentar é classificada como o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Por Guilherme Peixoto, Lucas Soares, RJ1

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