Há 523 anos que os povos indígenas vem sofrendo todo tipo de violência. A colonização europeia atuou perversamente na dizimação dos povos originários, povos estes que também sofreram epidemias provocadas por esse novo contato. A raça humana perdeu um patrimônio cultural e científico impossível de ser inventariado. A conquista do território seguida da exploração desmedida e a escravização atestam a crueldade implantada desde a chegada dos europeus ao nosso continente.
A identidade que foi construída no velho mundo sobre os indígenas era de “gentios” (pagãos), “brasis” ou “negros da terra” (índios escravizados) e “índios” (índios aldeados). Imagens construídas a partir dos interesses econômicos dos grupos aqui instalados. Podemos dizer que as primeiras “fake news” foram sobre os povos da floresta com o intuito de criar uma justificativa para os colonizadores e todos os outros usurpadores usaram a barbárie até como instrumentos para a apropriação das terras e o que nelas havia (os povos indígenas e suas crenças, culturas). Aqui se escravizou, roubou, estuprou em nome de uma identidade falsa criada para estereotipar os indígenas.
Há um cinismo nas relações individuais que são reproduzidas nas sociais e institucionais. De um lado a visão cristã da época, querendo aproximar a população dos interesses da coroa portuguesa, fortalecendo a ideia de que os povos originários eram selvagens e que isso justificaria a catequese para cumprir o papel secular da igreja. Do outro lado os colonizadores que se apropriavam da versão que afirmava que os indígenas eram bárbaros, praticavam canibalismo e não poderiam fazer parte da civilização, assim os “civilizados” puseram em prática os seus intentos, tornando-os povos caçados, aprisionados e escravizados. Originários de senhores das florestas tornaram-se propriedades de oportunistas e gananciosos.
Durante séculos o reconhecimento do direito pleno ao exercício da cultura foi negado. A principal motivação dos usurpadores sempre era tomar seus territórios. Ora obrigando-os a sair de suas regiões para fugir da escravização, ora sendo forçados a se deslocarem para aldeamentos próximos dos locais onde são tragados pela mão de obra barata. Isso precisa ficar no passado.
O ano 2023 é o início de um outro período, tanto para os indígenas quanto para os não-indígenas. A política genocida que o governo passado reservou para os povos Yanomamis fez o brasileiro de bem reagir e a identificar a causa indígena como prioridade. Não só pela ações promovidas durante o momento em que a crise dos Yanomami veio a público com o governo Lula, mas nasceu um outro espírito de solidariedade a causa indígena.
Essa tomada de consciência também passa pela figura da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, uma representante extraordinária que consegue, com muita segurança expressar anseios e necessidades dessa parte essencial e extremamente significativa de nosso país. . Porta-voz de povos que, com suas palavras, suas expressões corporais, seus cânticos, sua firmeza coloca os não-indígenas dentro de suas aldeias.
Outro expoente é a deputada Célia Xakriabá, primeira indígena que atualmente preside uma comissão na câmara federal, eleição esta que se deu na quarta-feira (15): Comissão da Amazônia e Povos Originários na Câmara dos Deputados. Joenia Wapichana, presidente da FUNAI é mais uma força da terra. São exemplos de mulheres que lutam pelo novo tempo onde não haverá mais espaço para discriminação, opressão e negação aos direitos fundamentais dos povos indígenas. Falta ainda a votação do marco temporal, indicada para do dia 7 de junho no STF.
A nova imagem do Brasil passa longe da imagem construída representando a 1ª missa retratada na pintura de Victor Meirelles ou no quadro Independência ou Morte de Pedro Américo. Pinturas que mostravam os interesses da época para justificar a falsa história. A nova cara do Brasil é a subida da rampa do planalto na posse do Lula. O presidente ao lado do cacique Raoni (muito perseguido no governo anterior), metalúrgico, catadora de papel, professor, influencer, criança e outras representações populares, é demostração do real. O Brasil enganoso negava quem era o seu povo, os formadores das nossas etnias, os nossos verdadeiros ancestrais. O povo deixa de ser a propaganda para atração de turistas, mas um povo rico pela diversidade de seres que guardavam preciosidades além das materiais, mas seus povos de fato, com toda sua punjança, séculos de sofrimento e coragem. País diversificado pela variedade de línguas que nós precisamos ter acesso, pois é de nossa origem que estamos falando.
O Brasil renasceu mostrando quem são os reais brasileiros. Se os que vieram para colonizar ou os que querem preservar e continuar com a nação que poucos conhecem, mas que está se impondo com a mistura dos nossos povos e não com chicote do justiceiro, usurpador que não quer aceitar os fatos. Que voltem para suas origens e nos deixem com as nossas, essas constroem e amam o seu berço, onde nos acolhe, com a junção dos afros também massacrados e os imigrantes que contribuíram para estruturação do país.
Devemos ter mais participação, interesse e conhecimento dos costumes das nossas raízes que são os povos tradicionais que se mantiveram firmes na luta pela preservação da terra-mãe e suas existências. Quanto aos usurpadores: cadeia. Que a lei se faça presente e menos lenta.
A imagem na rampa não foi retratada por um grande pintor, mas divulgada por diversas lentes, por diversas celulares e distribuída imediatamente para todo planeta mostrando que o Brasil mudou.
Somo em importância a essa fotografia a imagem da Ministra Sônia Guajajara visitando seus familiares no Maranhão. Sônia saiu para estudar e lutar em favor da causa indígena e volta para casa como ministra. Foi um momento de alegria onde toda sua ancestralidade se apresentou, foi o encontro cheio de recados e significados.
A floresta se levanta.
Por- Redação Ricardo Bernardes