Para marcar o 78º aniversário da vitória sobre o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, comandou um desfile militar esvaziado, na Praça Vermelha (em Moscou), e acusou o Ocidente de pretender destruir o seu país. O chefe do Kremlin também culpou a comunidade internacional pela invasão à Ucrânia, advertiu que o futuro da Rússia depende da ação militar na ex-república soviética e assegurou que “a civilização está, mais uma vez, em um ponto de virada decisivo”. “Uma guerra foi desencadeada contra nossa pátria”, declarou. O evento, fechado ao público, contou com a participação apenas de oficiais e de veteranos.
Ao se dirigir aos militares, Putin disse: “A segurança do país depende de vocês, hoje, o futuro de nosso povo e de nosso Estado dependem de vocês”. A emissora britânica BBC informou que a parada de ontem teve 3.300 militares a menos do que no ano passado. Em Kiev, o presidente norte-americano, Volodymyr Zelensky, recebeu a visita de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e tornou a cobrar a entrada da Ucrânia na União Europeia (UE). Mais cedo, os Estados Unidos anunciaram o envio de mais US$ 1,2 bilhão (R$ 5,96 bilhões) para a Ucrânia, com a intenção de aprimorar sua defesa aérea e o poder de fogo da artilharia.
Diretor do Instituto para Relações de Governo (em Kiev), o cientista político Artem Oliinyk disse ao Correio que o desfile militar foi um dos mais curtos da história. “Durante o evento, o comandante russo estava claramente receoso da possibilidade de ataques ucranianos contra Moscou. A transmissão na televisão mostrou como Putin se assustou repentinamente com os sons de disparos e como ele foi forçado a realizar uma versão reduzida da parada para diminuir o risco de uso de ações por parte de aviões não tripulados e redes de inteligência”, observou.
Segundo Oliinyk, Putin usou o discurso para acusar fascistas, elites ocidentais e globalistas de desprezarem a segurança da Rússia. “Este é o último grito de Putin para a audiência russa de que a guerra travada contra a Ucrânia não é inútil, e que os sacrifícios russos não têm sido em vão. Putin tenta dizer aos russos que o povo está sofrendo não por causa da aventura estúpida em uma nação vizinha, mas porque alguém representa uma ameaça para a Moscou”, afirmou.
Ele lembrou que o pronunciamento do presidente russo não foi dirigido a Bruxelas (União Europeia), a Washington ou a Kiev. “Foi voltado para os cidadãos de seu país, entre os quais aqueles descontentes com as consequências de uma derrota na guerra. O mundo deve continuar a ajudar a Ucrânia, para que consiga liberar seus territórios e infligir um golpe final contra Moscou. Quando isso ocorrer, haverá uma transformação decisiva da Rússia. Suas fronteiras enfrentarão mudanças radicais, e novos países surgirão no mapa político”, previu Oliinyk.
Por sua vez, Anton Suslov — especialista da Escola de Análise Política (em Kiev) — não se surpreendeu com o tom desafiador de Putin. Ele explicou que, desde as primeiras derrotas no entorno da capital e nas regiões de Kharkiv e Kherson, a Rússia começou a usar a retórica de uma “guerra da Otan contra Moscou”. “Putin precisava de uma explicação razoável para os reveses no campo de batalha. Isso porque o ‘exército mais forte do mundo’ não pode ser derrotado pelas tropas da Ucrânia, que, segundo o discurso do Kremlin, ‘não existem'”, avaliou. De acordo com Suslov, Putin também busca transferir a responsabilidade da guerra para a Otan, os Estados Unidos e o Ocidente. “As autoridades russas continuam a repetir, em diferentes plataformas, que a Rússia defende seus interesses e que não desencadeou a guerra.”
Por CB