Prefeituras e governos estaduais têm até o dia 14 de novembro para apresentar propostas de lavanderias comunitárias
Um projeto inédito do Ministério das Mulheres pretende implantar lavanderias públicas de uso gratuito em diferentes cidades brasileiras em parcerias com prefeituras, governos estaduais ou representantes de outros entes federados. O edital para apresentação dos projetos está aberto até o próximo dia 14 de novembro.
Além de oferecer espaços para lavagem gratuita de roupas, o projeto tem foco na divisão sexual do trabalho. Por isso, além do espaço e do maquinário, as lavanderias comunitárias deverão desenvolver atividades formativas em temáticas sobre a economia feminista e temas próximos. Os detalhes podem ser conferidos no edital do programa.
A iniciativa prevê a construção de espaços com máquinas de lavar e secar nas cidades onde o poder público se mostrar interessado. A construção ou reforma dos espaços e instalação das máquinas ficará a cargo do governo federal, enquanto prefeituras e governos deverão arcar com a manutenção e oferta de produtos para lavagem. O edital tem etapas até o fim do ano, e a implantação das lavanderias começará em 2024.
Neste primeiro edital, o projeto é considerado piloto. O orçamento previsto de R$ 2,6 milhões deve ser suficiente para construir de cinco a seis lavanderias em diferentes estados do país. Ao Brasil de Fato, a Secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres, Rosane da Silva, disse que o objetivo é buscar mais recursos do orçamento para ampliar a iniciativa no próximo ano.
“A gente acredita que vamos mostrar para a sociedade brasileira que esse é um instrumento importante, que além de liberar o tempo das mulheres, também vai diminuir o custo de vida das famílias. Hoje manter uma máquina de lavar em casa não é tão barato, tem todo o consumo da energia. Máquinas com tecnologia mais avançada acabam sendo mais caras e tendo consumo de energia maior”, pontuou.
O projeto surgiu a partir de uma discussão com representantes de dezenas de organizações, em iniciativa coordenada pelo próprio Ministério das Mulheres e pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), para elaboração de uma Política Nacional de Cuidados.
O tema do trabalho de cuidado, que ganhou espaço no debate público após ser escolhido como tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, é alvo de discussões dentro de diferentes instâncias do governo. A sobrecarga vivida pelas mulheres, causada também pelos impactos do trabalho doméstico, é algo reconhecido formalmente.
“Depois do tema da redação do Enem, esse assunto de fato ganhou uma visibilidade bem importante na sociedade brasileira. A gente acredita que a educação é um pilar importante para a gente discutir o que são as relações, o que é a divisão sexual do trabalho, e a necessidade de ter esse debate público com a sociedade brasileira. Os dados, as pesquisas, as matérias que têm saído mostram o quanto as mulheres estão sobrecarregadas”, destacou Rosane.
A secretária explica que já há experiências pontuais de lavanderias públicas pelo país, mas que muitas vezes há cobrança pela utilização do espaço. A proposta, desta vez, é que o poder público ofereça tudo gratuitamente, inclusive os produtos como sabão e amaciante. E, mais que isso, fazer com que as lavanderias sejam espaços coletivos usados não apenas por mulheres.
“Nossa ideia é incentivar que os homens também possam usar esse espaço público, como forma de a gente dividir as responsabilidades familiares, as tarefas domésticas. Que os homens também se responsabilizem pelo cuidado com a roupa da família, e que esse seja um instrumento de fato de uso público, sem nenhum custo para quem estiver usando”, resumiu.
Por Felipe Mendes