“Temo pela vida do Walter, é claro”, diz o advogado Ariovaldo Moreira. “Preciso assegurar a vida do meu cliente, a tranquilidade dele para que deponha nos foros devidos”
– Ariovaldo Moreira, o advogado criminalista que defende Walter Delgatti Neto, voltou a Araraquara (SP) na manhã desta 5ª feira, 10 de agosto, a fim de cuidar pessoalmente do reforço à segurança do cliente. Três pessoas que se identificaram como deputados federais do PL, além de dois outros que se anunciaram como “advogados”, procuraram a direção do Presídio Municipal da cidade e solicitaram audiências privadas com estudante de Direito que se tornou célebre em 2019 como o hacker que expôs a troca de mensagens impróprias e ilegais entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da “Operação Lava Jato” e, depois, em 2022, foi cooptado pelo presidente Jair Bolsonaro e pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para invadir sistemas do Poder Judiciário e perfis do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes a fim de criar mentiras e perturbar o processo eleitoral democrático do ano passado. Ariovaldo Moreira estava em Brasília, negociando os termos da delação premiada que o “hacker de Araraquara” pretende fazer ante o Ministério Público Federal e o depoimento de Delgatti à CPMI do Golpe no próximo dia 17 de agosto. Em meio às tratativas brasilienses, ele precisou acionar um esquema paralelo de proteção à vida de Walter Delgatti lançando mão de suas relações pessoais com a direção do presídio araraquarense e, também, com outros clientes patrocinados por ele que estão sob custódia lá dentro. “Fique tranquilo que nós cuidamos dele aqui”, assegurou um dos internos. Já a administração do Presídio de Araraquara respondeu aos deputados do PL que eles tinham prerrogativa de foro caso quisessem visitar mesmo Delgatti na cadeia, porém, a “reunião” só podia ser admitida mediante a permissão do próprio hacker e do advogado Moreira; e que tudo seria comunicado formalmente ao ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ante tal imposição de dificuldade e de registro da “visita”, os pretendentes recuaram sem sequer registrar formalmente o pleito. Carla Zambelli, uma das prováveis delatadas por Delgatti, é deputada federal pelo PL paulista e o presídio de Araraquara se encontra embaixo do guarda-chuva administrativo da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo, estado governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que há uma semana hospedou na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes o provável delatado central pelo hacker: o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Temo pela vida do Walter, é claro”, diz Ariovaldo Moreira. “Sabemos o que ele representa hoje – pode se converter o elo ligando toda essa maluquice violenta e antidemocrática que o País viveu aos personagens que mandavam nesse esquema”, assevera. “Preciso assegurar a vida do meu cliente, a tranquilidade dele para que deponha nos foros devidos, inclusive à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito na próxima semana”. Moreira sabe do que fala. Há exatamente um ano, no dia 13 de agosto de 2022, quando ele retornou a Araraquara também tendo saído de Brasília, recebeu fortes ameaças à sua vida e à vida de sua família por meio de mensagens no WhatsApp. Naquele dia, Ariovaldo Moreira regressava ao interior paulista depois de discordar frontalmente da colaboração a qual Walter Delgatti aceitou dar a Jair Bolsonaro e aos coordenadores de sua campanha reeleitora. O hacker da “Vaza Jato” tinha sido cooptado pela deputada Carla Zambelli e pelo marido dela, o coronel da Polícia Militar do Ceará Aginaldo de Oliveira, ex-coordenador da Força Nacional. “Vc vai morrer, seu lixo”, dizia a primeira das mensagens de texto jogadas no celular do advogado saídas de um número registrado no exterior (+1 (561) 867 3969 e assinalado como “~Morte”). E prosseguia: “seus netos e sua filha”. A terceira mensagem: “sabemos o endereço de todos até no Rio de Janeiro”. De fato, parte da família de Moreira mora no Rio. “Vc vai se arrepender vamos matar todos q vc gosta” (sic). E mais: “Lixo”. Ainda: “Arrombado”. Prosseguia ainda o perfil ameaçador: “Já sabemos o seu endereço e o seu escritório”. Aí, um áudio com voz masculina: “Vou comer tua família família todinha vivo. Vou te desossar, vagabundo. Tocar fogo em você filho da puta”. Daí voltaram as mensagens escritas: “Da sua família toda”. E ainda: “Vc vai aprender o q eh perder todos e ainda vou tacar fogo” (sic). E seguiam as ameaças: “Quero tomar o sangue da sua filha e comer o coração do seu filho com vc vendo”. E, por fim: “E será logo”.
Ariovaldo Moreira crê que a Penitenciária Municipal de Araraquara tem condições plenas para assegurar a vida de Walter Delgatti Neto. O cliente dele já se converteu no caminho mais rápido e pragmático para fazer a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, a CPMI do Golpe e o Tribunal Superior Eleitoral estabelecerem a conexão entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus jagunços e os atos golpistas e antidemocráticos que transtornaram o País em 2022 e até o ápice do golpe dado em 8 de janeiro de 2023 – golpe dado e vencido pela resiliência das instituições nacionais. Porém, o advogado do hacker de Araraquara não vê motivo algum para ele estar preso. “Walter está ajudando o processo de investigação, colaborou com tudo o que o Judiciário e a PF pediram até aqui. Vai depor na CPMI do Congresso. Nada justifica a prisão dele”, protesta. “Ele devia estar solto, organizando seus depoimentos, reunindo as provas que tem de apresentar em sua delação e organizando tudo o que pretende falar à CPMI. Aliás, ele poderia estar fora da penitenciária e custodiado pela Polícia Federal e pela Polícia Legislativa do Congresso Nacional como depoente que será chave para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito”.
Por Luís Costa Pinto – 247 em Brasília