Para o pesquisador Shigueo Watanabe, a reformulação do sistema de transporte é um dos principais desafios da transição energética no Brasil
O Brasil possui uma posição privilegiada em relação à sua matriz elétrica, com cerca de 90% da energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis, principalmente hidrelétricas. E, segundo Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME) o Brasil teve uma queda na participação de petróleo e derivados, que passou de 39,2% para 35,1%, e do gás natural, de 13,5% para 9,6% no período.
No episódio desta semana do “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos Shigueo Watanabe, mestre em física pela USP, especialista em mudanças climáticas e do sistema energético brasileiro. Atualmente desenvolve projetos sobre os aspectos climáticos de políticas públicas no Instituto Talanoa. Também colabora com o Instituto ClimaInfo, onde desenvolve atividades de comunicação da crise climática.
“Durante a ditadura militar, o sistema elétrico foi centralizado e tornou-se altamente dependente da região Sudeste. Nas décadas de 60, 70 e início dos anos 80, surgiram grandes usinas, como Itaipu e Ilha Solteira. Essas usinas, com seus grandes reservatórios, sustentaram nossa matriz energética até o início dos anos 2000, quando ocorreu o apagão. Desde então, temos construído e colocado em operação termelétricas a gás e a óleo. A transição energética é um tema de extrema importância, sobretudo no contexto da atual crise climática global”, disse Shigueo.
Para o pesquisador, o Brasil possui um imenso potencial para a exploração de energia eólica no litoral e solar em diversas regiões. Os principais desafios são a reformulação do sistema de transporte, a mudança nos processos de produção de calor na indústria e a transformação do transporte de carga. “Até o momento, as políticas públicas voltadas para a transição energética ainda não têm sido totalmente efetivas; as mudanças ocorridas foram impulsionadas mais pela rentabilidade de investidores que por uma preocupação ambiental profunda”, explicou.
Para Shigueo, é essencial desenvolver um transporte público de qualidade e repensar a infraestrutura urbana para viabilizar a eletrificação gradual dos sistemas de transporte. “Os prefeitos eleitos neste ano devem priorizar a eletrificação dos ônibus urbanos como uma das primeiras ações. Além disso, a transformação do transporte de carga é crucial. O alto custo logístico no Brasil é um reflexo da atual dependência dos caminhões, e a eletrificação deste setor deve ser considerada, incluindo a utilização de trens para reduzir a dependência do diesel. A revisão da logística de transporte de carga irá melhorar a eficiência e reduzir custos”, enfatizou.
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