No dia em que anunciou queda 7,1% nos preços do gás natural, o presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, criticou a política de desinvestimento da companhia no governo Jair Bolsonaro por, segundo ele, levar a estatal à venda e posteriormente ao desaparecimento por falta de investimento em transição energética.
“Ao se preparar para vender, as teses eram a rentabilidade altíssima de curto prazo, sem necessariamente mostrar o que a empresa seria em dez anos. Como aquela toada foi interrompida, as pessoas não percebem isso, mas o ponto futuro era não estar mais no Norte do país, na Amazônia, não estar mais no Nordeste at all [de maneira alguma], nem em refino nem produção, não estar mais em Minas nem no Sul”, disse Prates nesta quarta (19) durante encontro com jornalistas, no Rio.
“Se tivessem obtido sucesso nessa empreitada, nós teríamos a Petrossudeste, com alguns campos do pré-sal produzindo para quatro ou cinco refinarias no Sudeste, e todo o resto vendido, operações internacionais descontinuadas. Seria uma operação altamente lucrativa, mas com horizonte operacional muito curto”, afirmou.
“No médio e longo prazo, ela se tornaria próxima de uma independente texana, pronta para ser vendida para alguém maior ou desaparecer por falta de transição energética”, projetou.
A soma de ativos da Petrobras vendidos de 2015 a 2022 passou de R$ 280,4 bilhões, segundo levantamento do Observatório Social do Petróleo, que é ligado à FNP (Federação Nacional dos Petroleiros).
O que mais a Petrobras falou
No encontro com jornalistas, os dirigentes da estatal deram outros sinais que não foram bem digeridos pelo mercado:
A estatal anunciou uma queda de 7,1% no gás natural comercializado por suas refinarias
A política de dividendos altos – uma das marcas da gestão anterior – já deve ser mudada para o segundo trimestre deste anoContinua após a publicidade
O futuro da Braskem – petroquímica em que a estatal é sócia da Novonor (antiga Odebrecht) – não deve ter um desfecho rápido
O diretor de finanças, Sergio Leite, disse que ainda não há propostas firmes pela Braskem e que processos de análise da companhia (“due dilligence”) podem levar entre seis meses e um ano.
Fim da paridade
Por volta das 14h25, as ações da Petrobras caíam 0,7%.
Prates negou que as sucessivas quedas de preços de combustíveis nas refinarias este ano (diesel -32,7%, gasolina -18,2%, gás de cozinha -24,7%) tenham obedecido somente ao critério político. Segundo ele, a promessa feita por Lula durante a campanha do ano passado “abrasileirar” – isto é, acabar com a paridade internacional – é possível porque a estatal tem vantagens competitivas.
“Para a Petrobras, PPI não era o preço mais apropriado porque temos reconhecidamente mais vantagens competitivas que outras empresas, conhecemos o Brasil, temos nosso modelo de otimização para a entrega em cada mercado. Temos refinarias com configurações diferentes, que recebem petróleos diferentes”, disse.Continua após a publicidade
Segundo ele, a Petrobras tem um modelo de programação linear, baseado em quarenta mil equações diferentes que otimiza a entrega e o preço de cada produto em cada ponto. “A nova estratégia comercial é factível, não inspira temores, não é interventiva absolutamente”, afirmou.
PorGraciliano Rocha