Experiência brasileira com o sistema de pagamentos instantâneos oferece base para um novo sistema financeiro do bloco
O Brasil, que assumirá a presidência rotativa do BRICS em 2025, planeja aproveitar o sucesso do Pix como modelo para a criação de um sistema de pagamentos internacional dentro do bloco. Conforme relatado pela Sputnik Brasil, o chanceler Mauro Vieira antecipou, durante a recente cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, que o desenvolvimento de um sistema financeiro autônomo será uma das prioridades da presidência brasileira. Essa iniciativa, que se alinha aos interesses estratégicos dos países-membros, tem potencial para reduzir a dependência do sistema SWIFT e proteger as nações do grupo das sanções econômicas unilaterais aplicadas por países ocidentais.
Para a economista Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), a experiência brasileira com o Pix já mostrou a capacidade de inovação tecnológica do país e poderá facilitar a criação de um sistema de pagamentos próprio. “O papel do Brasil nessa cooperação é crucial. A ideia de um sistema de pagamentos internacional no BRICS trará ganhos consideráveis para todas as nações envolvidas, tanto em autonomia quanto em representatividade”, afirmou a economista.
A força do Pix e os avanços tecnológicos do BRICS
Lançado em 2020, o Pix revolucionou as transações financeiras no Brasil. Desde então, seu uso cresceu rapidamente, superando as tradicionais transferências bancárias como TED e DOC. Em setembro, o sistema bateu recorde com 227 milhões de transações em um único dia. A base tecnológica do Pix poderia fornecer uma estrutura para o novo sistema de pagamentos do BRICS, especialmente considerando a tendência de digitalização das moedas nacionais dos países-membros, como o Drex no Brasil e os modelos de pagamento digital na China.
Carla Beni destaca que uma das principais barreiras para a criação de um sistema de pagamentos internacional é a infraestrutura tecnológica – desafio que os países do BRICS estão preparados para enfrentar. Além disso, Beni observa que sanções econômicas impostas por grandes potências, como os Estados Unidos, evidenciam a necessidade de o bloco criar um sistema autônomo. “Com uma plataforma como o Pix, os impactos de sanções econômicas externas podem ser minimizados, fortalecendo a soberania dos países do BRICS”, acrescentou.
O professor Marco Aurélio dos Santos Sanfins, da Universidade Federal Fluminense (UFF), também acredita que a experiência brasileira pode contribuir significativamente para o grupo. “A maior vantagem do Pix é que ele não exige a intermediação bancária tradicional, possibilitando transações diretas e simplificadas entre usuários. Isso é fundamental para um sistema de pagamentos que busca autonomia e agilidade,” afirmou o especialista.
O desafio da implementação e a perspectiva de independência do dólar
Embora a estrutura tecnológica do Pix seja uma vantagem, criar um sistema de pagamentos internacional baseado nesse modelo apresenta desafios. O sistema SWIFT, amplamente utilizado desde 1973, conecta mais de 11 mil instituições financeiras em cerca de 200 países, mas sua credibilidade tem sido abalada pelo uso político das sanções. A criação de uma alternativa exige coordenação complexa entre os países-membros, considerando as diferenças em suas moedas, políticas tributárias e regulamentações financeiras.
Segundo Sanfins, as questões tributárias e a paridade monetária são pontos sensíveis na implementação de um sistema de pagamentos internacional, mas ele acredita que a experiência e a colaboração entre os membros do BRICS podem superar esses desafios. “Com estudos aprofundados e desenvolvimento de políticas conjuntas, é possível implementar esse sistema, tornando o grupo mais forte e menos vulnerável às oscilações das políticas econômicas externas,” concluiu.
BRASIL 247