PESQUISADORES DESCOBREM FÓSSIL PRECURSOR DOS PTEROSSAUROS

Embora o animal faça parte do grupo de répteis voadores, ele não voava; esqueleto foi achado no Rio Grande do Sul
Pesquisadores da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) descobriram no município de São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul, um fóssil que faz parte do grupo precursor dos pterossauros, ou répteis voadores.

“Só que esse animal [descoberto] não era voador”, declarou o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, líder do Cappa (Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia). A pesquisa foi publicada na última 5ª feira (18.ago.2023) na revista científica Nature.

No mesmo local onde foi localizado o fóssil, já foram achados outros dinossauros primitivos, parentes de crocodilos com placas dérmicas, outros precursores de pterossauros e répteis herbívoros chamados rincossauros.

Müller afirmou que havia pouca informação até então a respeito da anatomia desses animais, principalmente do crânio e das mãos, e disse que “esse material descoberto traz muita informação nova”.

Os pesquisadores constataram que o fóssil teria um bico raptorial, que lembra as aves de rapina atuais, “que é algo totalmente inesperado naqueles animais”.

Já as mãos são proporcionalmente grandes, com garras bem desenvolvidas. Os cientistas estimam que essas garras poderiam servir para escalar árvores ou manusear presas. O paleontólogo salientou que esse é o fóssil de um precursor dos pterossauros mais bem preservado.

“Pela 1ª vez na história, conseguimos ter uma visão mais clara de que foram essas formas primitivas aos pterossauros. Ele é um fóssil muito importante, porque mostra onde foi que surgiram os pterossauros. Até então, isso era muito turvo. A gente não tinha uma ideia clara de como eles eram”, disse Rodrigo Temp Müller.

De acordo com a equipe do Cappa/UFSM, dinossauros e pterossauros são alguns dos organismos fósseis mais populares, tendo dominado a Terra durante a Era Mesozoica por aproximadamente 165 milhões de anos, sendo extintos 66 milhões de anos atrás, depois do impacto de um enorme asteroide.

MORFOLOGIA

Juntando os dados desse fóssil com outros precursores de pterossauros e dinossauros de outros lugares do mundo, Rodrigo Temp Müller afirmou que os paleontólogos conseguiram quantificar a diversidade morfológica desses precursores.

“Quantificando, reparamos que ela é mais alta do que o dos dinossauros do período triássico e se equipara à dos pterossauros. É interessante porque mostra que aquela ideia de que formas primitivas seriam simples, não muito complexas, cai por água abaixo. Na verdade, há uma diversidade muito grande quando esses animais estavam surgindo, que a gente não conhecia até então”, declarou.

O pesquisador também falou que quanto a importância da descoberta para compilar “mais dados de outros animais”, com o objetivo de “desenvolver análises mais aprofundadas e poder colocar o fóssil em um contexto evolutivo mais amplo”.

Serão feitas réplicas do fóssil, batizado de “Venetoraptor gassenae”, para exibição nas instituições participantes do estudo.

Venetoraptor significa o raptor de Vale Vêneto, em referência a uma localidade turística chamada de Vale Vêneto, no município de São João do Polêsine.

Já o nome gassenae homenageia Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis pela criação do Cappa/UFSM.

Esculturas do esqueleto do fóssil já estão no centro de pesquisas da UFSM e na Argentina. Outra réplica dos ossos do esqueleto será doada para o Museu Nacional do Rio de Janeiro que, em contrapartida, doará uma réplica em vida da nova espécie.

O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, destacou a importância da participação no estudo, “inclusive pelo fato de haver uma troca de réplicas que ficarão expostas tanto na nossa instituição, como também no Cappa”.

IMPORTÂNCIA

O Venetoraptor gassenae é único no mundo, embora tenha parentes próximos em outros lugares, como Argentina e Estados Unidos. Mas não são tão bem preservados.

Os pesquisadores vão continuar fazendo trabalho de campo nesse sítio para ver se encontram mais indivíduos da mesma espécie ou outras partes do esqueleto do fóssil.

O precursor do pterossauro teria um metro de comprimento e pesaria entre quatro e oito quilos. Os cientistas descobriram que o animal não voava pelo estudo da anatomia do membro anterior dele que não suportaria uma membrana, ou couro, que forma a asa.

Segundo o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, a descoberta reforça a ideia que o Brasil está conseguindo produzir ciência de ponta, assim como os países desenvolvidos.

“É importante mostrar que, em meio a tudo, o Brasil consegue fazer pesquisas. Daí a importância de se financiar pesquisa aqui no país”, afirmou o pesquisador.

O estudo teve financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), da Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul), da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro), da Agencia Nacional de Promoción Científica y Técnica e da Paleontological Society.

Por Poder360

Comments (0)
Add Comment