O canal do Panamá, inaugurado em 1914, foi administrado pelos Estados Unidos até 1999, quando a soberania plena foi devolvida ao Panamá
As recentes declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o canal do Panamá provocaram uma forte reação internacional. Em comício realizado no último dia 9, Trump insinuou que o controle do canal deveria voltar às mãos norte-americanas, caso o governo panamenho não reduzisse as tarifas cobradas para o trânsito na via interoceânica. A declaração gerou críticas imediatas de líderes políticos e analistas, que destacaram sua incompatibilidade com tratados internacionais. As informações são da Sputnik Brasil.
O professor equatoriano Dax Toscano, da Universidade Central do Equador, criticou duramente as palavras de Trump, classificando-as como uma afronta à soberania do Panamá. “Tenho plena certeza de que o povo panamenho se levantará para defender sua dignidade e soberania”, declarou Toscano, em entrevista à Sputnik. Ele também acusou o ex-presidente de agir como “um valentão de bairro”. “Trump pensa que o mundo é dele, como se fosse suas empresas. […] Suas recentes declarações confirmam isso”, acrescentou.
A soberania panamenha e os tratados internacionais
O canal do Panamá, inaugurado em 1914, foi administrado pelos Estados Unidos até 1999, quando a soberania plena foi devolvida ao Panamá, conforme estabelecido pelos Tratados Torrijos-Carter de 1977. Esses tratados foram lembrados por Toscano como o instrumento legal que regula a gestão da via. Segundo ele, “Trump esquece que existem tratados, e que o Panamá é um país soberano”.
Toscano também destacou os custos humanos da história do canal, mencionando a invasão estadunidense de 1989, que deixou mais de duas mil vítimas no País. “Eles pretendiam manter o controle da Zona do Canal para intimidar a população e dar uma lição a um país que havia determinado que, definitivamente, o canal do Panamá pertencia e pertence a eles”, afirmou. Ele ressaltou ainda o sacrifício dos trabalhadores panamenhos na construção da infraestrutura, que enfrentaram condições adversas e diversas doenças durante as obras.
Resposta do governo panamenho
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, reagiu às declarações de Trump com firmeza. Em publicação na rede social X (antigo Twitter), Mulino reiterou que “a pátria e a via interoceânica não são negociáveis”. Ele acrescentou que “o canal é panamenho e continuará sendo”, enfatizando a soberania do País sobre a infraestrutura.
Mulino também lembrou a transição histórica de 1999, quando a administração do canal foi entregue ao governo panamenho, marcando o fim de uma longa presença norte-americana na região. Segundo o presidente, “o Panamá é um exemplo de autossuficiência na gestão de um dos mais importantes corredores de comércio do mundo”.
Repercussões internacionais
As declarações de Trump foram amplamente criticadas por especialistas e lideranças na América Latina, que as veem como um “revés diplomático” para os Estados Unidos. A retórica do ex-presidente foi interpretada como um retorno a uma postura intervencionista e imperialista, considerada incompatível com os princípios do direito internacional.
Enquanto isso, no Panamá, a população demonstra apoio à postura do governo, reforçando o sentimento de unidade nacional diante do que consideram uma afronta à soberania do País. O debate deve seguir gerando desdobramentos, colocando em pauta a importância do respeito aos tratados e à dignidade das nações independentes.
Por Brasil 247