O USO TERAPÊUTICO DA MACONHA, COM TRANSCRIÇÃO DO PROJETO PLANTANDO SAÚDE E REPARAÇÃO: O USO TERAPÊUTICO DA MACONHA NAS FAVELAS DO RIO DE JANEIRO.

 Siro Darlan

            O clima no Parque União, no Complexo da Maré, manhã na zona norte do Rio, é de tensão. As ruas e vielas estão com pouco movimento; moradores estão apreensivos aguardando o início de mais uma operação policial justificada pelo combate ao tráfico de drogas. Em uma casa cravejada com marcas de projéteis de arma de fogo, Luciene vive com seus três filhos e sua mãe, já idosa. Uma das crianças, Maria, de 5 anos, é autista e toma, todos os dias, algumas gotinhas do óleo de maconha. Luciene conheceu o óleo através de uma amiga e, depois de muito pesquisar, conseguiu a substância através da doação de uma ONG. Luciene está com medo de ter sua casa invadida por policiais durante a operação e ter seu óleo apreendido.

            Do outro lado da cidade, no Leblon, Joana acorda às 06:15 iniciar seu dia. Em seu apartamento, vive com a filha Giulia, de seis anos, e o marido. Após preparar seu café da manhã, Joana acorda Giulia para tomar as gotinhas do óleo de maconha que controla as crises convulsivas da criança, que tem epilepsia. Em pouco tempo, Giulia reduziu de dez convulsões/dia para duas por semana.

            Joana conheceu o óleo por indicação de seu médico, que receitou a substância após diversas tentativas frustradas de tratamento com medicamentos controlados. Ela possui autorização judicial para usar o óleo, que foi importado através de uma associação de pacientes de cannabis. Ambas encontraram na maconha o alívio para sua condição de saúde.

            Os efeitos terapêuticos da cannabis – nome científico da planta – têm sido cada vez mais estudados. Apesar dos avanços, o debate sobre a maconha ainda enfrenta muito preconceito. A desinformação e a chamada “guerra às drogas” impedem que muitas pessoas que poderiam ser beneficiadas pelos efeitos terapêuticos da erva tenham acesso a ela.

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