Em artigo, cientistas indicam que ecossistemas previstos para entrar em colapso em 2090 podem, no pior cenário, chegar em seu ponto crítico em 2030
Por John Dearing, Gregory Cooper, Simon Willcock
Em todo o mundo, mais de 20% dos ecossistemas correm o risco de mudar ou entrar em colapso Reprodução/Pexels
Em todo o mundo, as florestas tropicais estão se tornando savanas ou terras agrícolas, a savana está secando e se transformando em deserto, e a tundra gelada está derretendo.
Isso significa que um colapso do ecossistema, que esperávamos evitar até o final deste século, pode acontecer nas próximas décadas. A sombria conclusão está na nossa pesquisa mais recente, publicada na Nature Sustainability.
O crescimento da população humana, o aumento das demandas econômicas e as concentrações de gases de efeito estufa pressionam os ecossistemas e as paisagens para fornecer alimentos e manter serviços essenciais, como água potável. O número de eventos climáticos extremos também está aumentando e só vai piorar.
O que realmente nos preocupa é que os extremos climáticos podem atingir ecossistemas já estressados, que por sua vez transferem tensões novas ou intensificadas para algum outro ecossistema, e assim por diante. Isso significa que um ecossistema em colapso pode ter um efeito indireto nos ecossistemas vizinhos por meio de ciclos de feedback sucessivos: um cenário de “ciclo de destruição ecológica”, com consequências catastróficas.
Quanto tempo até um colapso?
Em nossa nova pesquisa, queríamos ter uma noção da quantidade de estresse que os ecossistemas podem suportar antes de entrar em colapso. Fizemos isso usando programas de computador que simulam como um ecossistema funcionará no futuro e como reagirá a mudanças nas circunstâncias.
Usamos dois modelos ecológicos gerais, representando florestas e a qualidade da água de lagos, e dois modelos específicos de localização, representando a pesca da lagoa Chilika, no estado de Odisha, leste da Índia, e a Ilha de Páscoa (Rapa Nui), no Oceano Pacífico. Esses dois últimos modelos incluem explicitamente interações entre as atividades humanas e o ambiente natural.
Usamos o software para modelar mais de 70.000 simulações diferentes. Em todos os quatro modelos, as combinações de estresse e eventos extremos anteciparam a data de um ponto de inflexão previsto entre 30% e 80%.
Isso significa que um ecossistema previsto para entrar em colapso na década de 2090, devido ao aumento crescente de uma única fonte de estresse, como as temperaturas globais, poderia, no pior cenário possível, entrar em colapso na década de 2030, uma vez que consideramos outras questões como chuvas extremas, poluição ou um aumento súbito no uso de recursos naturais.
É importante ressaltar que cerca de 15% dos colapsos do ecossistema em nossas simulações ocorreram como resultado de novos estresses ou eventos extremos, enquanto o estresse principal foi mantido constante. Em outras palavras, mesmo que acreditemos que estamos gerenciando os ecossistemas de forma sustentável, mantendo constantes os principais níveis de estresse – por exemplo, regulando as capturas de peixes – é melhor ficarmos atentos a novos estresses e eventos extremos.
Por: Galileu